Estamos
entrando no tão aguardado período das chuvas, e em meio ao estranho 2020, onde
inúmeros acontecimentos obrigatoriamente nos fazem refletir sobre os nossos
valores e sobre a nossa passagem nesse belo e sofrido planeta, os (por ora)
esquecidos e centenários transbordamentos em meio urbano serão por muito tempo
uma realidade em Belo Horizonte, ressaltando que a extensa repercussão dos
transbordamentos ocorridos em 2020 se deu por um simples motivo: por ter
ocorrido na bacia do córrego do Leitão, onde se encontram assentados alguns bairros
nobres da capital mineira.
No
entanto, hoje veio ao meu conhecimento essas interessantes imagens, enviadas
pela ativista ambiental e ribeirinha urbana Jeanine Oliveira, de dois momentos
distintos das obras de canalização do ribeirão Arrudas na altura do bairro Nova
Cintra no ano de 1996. A primeira imagem mostra as obras de canalização do
curso d’água e a segunda imagem mostra o mesmo local no período chuvoso de
1996/1997, onde se observa o transbordamento do curso d’água parcialmente
desviado para o canal em construção, ocupando as suas várzeas que então se
encontravam em processo de urbanização.
As
imagens, obtidas no exato momento em que o curso d’água sofria uma nova
intervenção, torna ainda mais evidente a necessidade de se abandonar a técnica
de canalização e retificação dos cursos d’água em meio urbano, realizadas até a
atualidade sob pretextos higienistas, de extinção dos transbordamentos e
melhoria do sistema viário. A extrapolação do canal e a ocupação das águas no
local onde se encontra a Avenida Tereza Cristina demostra que as obras deveriam
ter sido realizadas de modo a integrar e fortalecer a relação cidade/rio e não
promover o rompimento entre a cidade e o rio. Obviamente, politicamente e
monetariamente, as obras tiveram continuidade e a potencialização dos
transbordamentos também, ressaltando que o processo de
urbanização/impermeabilização do alto Arrudas se encontrava nesse momento em
franca expansão.
Antes
de culpar a natureza, as chuvas ou ainda acreditar que não existem alternativas
a uma técnica que busca controlar um elemento incontrolável, é importante
compreender que atrás da indústria das enchentes existem relações políticas e
econômicas que superam qualquer interesse coletivo, onde poucos lucram e todos
perdem. As várzeas não foram feitas para serem habitadas e o ser humano não tem
o poder e nem o direito de controlar a natureza e os seus fenômenos.
Ao menos não repetiram o erro na interligação da av. Tereza Cristina próxima à Mannesmann feita no fim dos anos 2000. Seria interessante abordar este trecho do Arrudas.
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