Parte da Planta Geodésica de Belo Horizonte do ano de 1895, onde se extraiu o trecho correspondente ao vale do córrego do Leitão, localizado na região centro sul de Belo Horizonte.
*Sobre a Casa da Fazendinha: https://issuu.com/curraldelrey/docs/livro_arraial_de_bello_horizonte_-_
Em Outubro de 1992 era tombado a nível municipal um dos únicos exemplares construídos no Século XIX ainda existentes na capital mineira, o casarão existente no Aglomerado Santa Lúcia. A “Casa da Fazendinha” ou simplesmente “Fazendinha” é um casarão existente no Aglomerado Santa Lúcia ou Morro do Papagaio, às margens da Barragem Santa Lúcia. Segundo consta no Guia de Bens Tombados de Belo Horizonte ele foi construído em 1894 para servir de residência, talvez para algum familiar ou mesmo para a família de Ilídio Ferreira da Luz, proprietário da Fazenda Capão, cujas terras abrangiam as cabeceiras do córrego do Leitão e o local onde se construiu o casarão. O estilo predominante no casarão era o eclético com influencia neoclássica, uma característica das primeiras construções da nova capital, nesse caso aplicada em um imóvel rural.
Segundo a Planta Geodésica do arraial de Belo Horizonte, confeccionada em 1895 pela Comissão construtora da Nova Capital as terras da Fazenda Capão passariam a integrar parte das zonas urbana e suburbana da nova capital, assim como as terras da Fazenda do Leitão, localizada na margem esquerda do córrego do Leitão, oposta à Fazenda do Capão. A vertente à direita do córrego do Leitão pertencia a Fazenda Capão, desde as suas nascentes até as proximidades da sede da Fazenda do Leitão, cujas terras abrangiam uma grande parte da vertente à esquerda do córrego. A divisa das duas fazendas se dava mais ou menos onde hoje está a Rua Joaquim Murtinho no bairro Santo Antônio. O fato de as terras estarem inseridas dentro da área destinada à ocupação urbana segundo a CCNC selou o destino das duas fazendas: iniciado o processo de desapropriação no final de 1894, no ano seguinte suas terras passaram a pertencer ao Estado, assim como as suas sedes e benfeitorias.
A Fazenda do Cercadinho, de propriedade de José Cleto da Silva Diniz abrangia as cabeceiras do córrego de mesmo nome¹ além de grande parte das suas vertentes, onde atualmente se encontram os bairros Buritis, Estoril, Havaí entre outros. A fazenda fazia limite com as fazendas do Capão e do Leitão, ao longo da crista onde hoje está a Avenida Raja Gabaglia, com a Fazenda Bom Sucesso e com o município de Nova Lima (então Villa Nova de Lima), na altura da Fazenda do Rabelo. Na porção sul ela fazia limite com a Fazenda do Calafate, que deu origem ao povoado de mesmo nome. As suas terras abrangiam também às nascentes do córrego das Piteiras ou Pau Grande, atualmente canalizado sob a Avenida Barão Homem de Melo.
Esse artigo visa a correção de um erro histórico que vem acontecendo nos últimos tempos por parte da imprensa local* informando que o casarão, um dos dois únicos edifícios remanescentes da época do antigo arraial pertencia a Fazenda do Cercadinho, além de trazer novamente a tona o propositalmente "esquecido" casarão.
É um erro afirmar que o casarão pertencia a Fazenda do Cercadinho, essa fazenda na verdade fazia limite com a Fazenda do Capão, cujas terras abrangiam às nascentes do córrego do Leitão e as terras localizadas em sua margem direita, onde se construiu o casarão. A Fazenda do Cercadinho foi desapropriada devido a inserção de suas terras na região estabelecida pela CCNC para os Sítios destinados ao abastecimento de viveres da nova capital, sendo que o córrego do Cercadinho, após a desapropriação da fazenda passou a ser utilizado como um dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de água de Belo Horizonte, assim como o córrego da Serra. É bom salientar que o Cercadinho está na vertente oposta ao córrego do Leitão.
Planta da Fazenda Capão confeccionada em 1894 quando da sua desapropriação. Estão assinaladas na planta as cabeceiras do córrego do Leitão, os limites da fazenda do Cercadinho e a "Casa da Fazendinha", construída pouco tempo antes da desapropriação.
Planta da Fazenda do Leitão, também confeccionada para fins de desapropriação.
Planta da Fazenda do Cercadinho datada de 1894. À esquerda se vê a divisa com a Fazenda Capão e com a Lagoa Seca. Segundo o processo de desapropriação a Fazenda não abrangia as cabeceiras do córrego do Leitão nem a região denominada Lagoa Seca, considerada devoluta segundo a Lei de Terras de 1850. A Planta acima corrobora o processo ou seja, a Casa da Fazendinha do Aglomerado Santa Lúcia não pertencia a essa fazenda, apesar da sua contemporaneidade.
Parte da Planta Geodésica do arraial de Belo Horizonte em 1895, onde se sobrepôs o traçado planejado da zona urbana da nova capital. Em destaque estão a Fazendinha, os limites das duas fazendas em estudo, a sede da Fazenda do Leitão, atual Museu Abílio Barreto e a provável sede da Fazenda Capão, à margem da antiga estrada do Mutuca. Segundo a planta, a sede da fazenda estava inserida dentro da zona planejada, o que pode ter levado a construção da Fazendinha no vale do córrego do Leitão, cujo local nesse período apresentava uma distancia considerável da zona planejada. A Lagoa Seca figura na planta como uma das nascentes do córrego do Leitão.
As Plantas acima, confeccionadas pela CCNC no final de 1894 confirmam o que foi escrito acima. A Fazenda do Cercadinho limitava-se as terras inseridas nos vales dos córregos do Cercadinho e Piteiras/Pau Grande, cuja divisa seria a crista da montanha onde se abriu a Avenida Raja Gabaglia na década de 70, ou seja, o divisor das sub-bacias dos córregos Piteiras/Pau Grande, Leitão e Cercadinho. Até meados do Século XX a morfologia do terreno era determinante na delimitação das propriedades, sendo que os marcos naturais (serras, montanhas, fundos de vale etc.) geralmente serviam como divisas entre as fazendas.
Ao analisar a Planta da Fazenda do Capão observa-se que já existia uma casa (sitio conforme a Planta) no local onde se encontra a “Fazendinha”, às margens do córrego do Leitão, cujo curso nessa época corria no seu leito natural, a Barragem Santa Lúcia seria construída oitenta anos mais tarde. Outra coisa que chama a atenção do observador é o fato de o curso principal do córrego a montante, um pouco acima da construção que figura nas Plantas seguir para sudeste, na mesma direção atualmente da Avenida Cônsul Antonio Cadar, construída sobre o córrego na década de 70. As curvas de nível desde o casarão, às margens do córrego até o vértice do Morro Redondo e o fato de existir uma construção no final da estrada da Fazenda, figurando tanto na Planta de desapropriação quanto na Planta Geodésica de 1895 corroboram a data de construção do casarão, provavelmente finalizado meses antes da instauração do processo de desapropriação. Como dito anteriormente, o casarão foi construído, possivelmente para abrigar um integrante da família proprietária da fazenda ou mesmo a família de Ilídio Ferreira da Luz, visto que a sede da fazenda, às margens da estrada de acesso ao Mutuca e do povoado do Olhos D’água estava inserida na zona urbana segundo a Planta de 1895, mais precisamente no quarteirão formado pelas ruas Fernandes Tourinho, Sergipe e Avenida Getúlio Vargas.
Planta das Fazendas do Capão e Leitão em 1894, onde estão destacadas a divisa com a Fazenda do Cercadinho e a Fazendinha. Também se observa nas plantas que o local da divisa das duas propriedades se deva nas proximidades da Rua Joaquim Murtinho. O córrego do Zoológico, afluente do Leitão fazia parte da Fazenda em questão, assim como grande parte das terras onde se construiu o bairro de Lourdes na década de 20.
Barragem Santa Lúcia e parte do Morro do Papagaio em imagem do inicio da década de 60, desde a antiga BR-3. A Barragem, construída anos antes, assim como a Barragem do Acaba Mundo só viria a ser utilizada de fato na década de 70.
Fonte: Acervo IBGE
A Fazendinha no Aglomerado Santa Lúcia, em imagem datada provavelmente da década de 1970. Abaixo a barragem Santa Lúcia antes da retomada das obras para a sua conclusão (1976).
Fonte: http://observatoriovilaviva.blogspot.com.br.
Pela sua singularidade a Casa da Fazendinha já foi objeto de estudo de vários estudantes de arquitetura que a visitavam todos os anos. Testemunho de uma paisagem já desaparecida o casarão, atualmente coberto pelas arvores que o circundam merece o devido tratamento prometido desde 1992, ano do seu tombamento a nível municipal. O mais interessante é que, passados mais de vinte anos do seu tombamento o Ministério Público passou a exigir providencias em relação à conservação do casarão, que se encontra em péssimo estado, como se pode constatar nas duas imagens abaixo. Os atuais moradores foram retirados do imóvel devido ao grande risco de desabamento, uma forma de “expulsão” já vista em casos semelhantes quando se trata de um imóvel ou de um sitio urbano tombado.
Infelizmente o Poder Público só conserva o que é do seu interesse ou o que é do interesse da iniciativa privada, certamente se o casarão não fizesse parte do Aglomerado ele já estaria integrado ao Patrimônio Histórico Municipal, conservado e possivelmente exercendo a função para o qual foi construído, ou mesmo estando inserido no plano de mercantilização do patrimônio do Poder Público (gentrification). Mas é bom lembrar que essa política patrimonial não é exclusivamente brasileira, casos semelhantes ocorreram e ainda ocorrem em diversos países².
A Fazendinha no ano de 2006.
Fonte: Guia de Bens Tombados de Belo Horizonte
Parte do vale do córrego do Leitão nos anos de 1956 e 2008, onde está destacada a Fazendinha. É notável a urbanização do vale entre os cinquenta e dois anos que separam as duas imagens. Na imagem superior se destaca uma parte da antiga estrada de acesso ao casarão, seguindo as curvas de nível do terreno e o curso do córrego ainda não represado.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte: FJP. 1997 e Google Earth respectivamente.
A Fazendinha no ano de 2007.
Fonte: Foto do Autor
O mesmo casarão no ano de 2013.
Fonte: Foto do Autor
Imagem das sub-bacias dos córregos do Leitão e do Cercadinho no ano de 2008. A partir da leitura morfológica do terreno e da analise da Planta Geodésica de 1895 é possível identificar a localização aproximada das divisas das duas fazendas, além da identificação da cabeceira dos cursos d’água, apesar do adensamento urbano nas cabeceiras do córrego do Leitão. O Cercadinho, apesar da grande ocupação urbana próxima à sua nascente ainda tem suas nascentes preservadas, lembrando que a abertura da BR-3 na década de 50 e da MG-030, além da ocupação desenfreada no bairro Belvedere fragmentou sua cabeceira.
Fonte: Google Earth
A Casa da Fazendinha em imagem de satélite do ano de 2008.
Fonte: Google Earth
Sobreposição das imagens do ano de 1956 e 2008 do vale do córrego do Leitão, mais precisamente na região da Fazendinha.
*Texto do Jornal Hoje em Dia do dia 21/05/2012 referente à Fazendinha:
CENTENÁRIA CASA DA FAZENDINHA, EM BELO HORIZONTE, ESTÁ PRESTES A RUIR
Uma das construções mais antigas de Belo Horizonte ameaça ruir. A Casa da Fazendinha, única estrutura remanescente da antiga Fazenda Cercadinho, que deu origem ao aglomerado Santa Lúcia, na região Centro-Sul, está condenada pela Defesa Civil.
Cerca de 15 pessoas de baixa renda moram em condições precárias no casarão centenário, tombado desde 1992 pelo patrimônio histórico. O risco de queda motivou o Ministério Público (MP) a exigir providências urgentes da prefeitura e da Companhia Urbanizadora e de Habitação de BH (Urbel) para recuperar o imóvel.
Segundo a promotora de Justiça Lílian Maria Ferreira Marotta Moreira, há dois anos tramita na Justiça uma Ação Civil Pública que solicita à prefeitura a restauração da Casa da Fazendinha. Foi solicitado, de forma emergencial, que os órgãos fizessem uma limpeza do imóvel e recuperassem o piso externo, além da manutenção da rede de esgoto. Porém, nada foi feito.
A promotora recomendou a retirada das famílias do local, pois o imóvel não mais oferece condições de habitação. Ela alertou para a necessidade de recuperação do telhado e da estrutura da casa. O objetivo dessas medidas é interromper o processo de degradação e garantir a manutenção do imóvel sem riscos, até que possa ser executado o projeto de restauro, disse a promotora. Caso não seja realizada a reforma, o prefeito Marcio Lacerda e o presidente da Urbel, Claudius Vinícius Leite Pereira, podem responder pela destruição de bem especialmente protegido por tombamento, segundo artigo 62 da Lei n.º 9.605/98.
O local, que já pertenceu a um dos fundadores de BH, João Leite da Silva Ortiz, agora está tomado por lixo, entulhos, possui rachaduras e infiltrações e fiações improvisadas. As vigas de madeira estão podres.
A moradora mais antiga do casarão, a funcionária pública Flávia Regina Rocha da Silva, de 43 anos, diz que a família dela vive no local há quase 70 anos, e que não quer sair dali sem uma boa proposta da prefeitura.
Ela reconhece as condições ruins do local, mas diz que, desde 1985, quando foi discutida a criação de um centro cultural no espaço, a prefeitura fala em fazer reparos na casa. Ela conta que as pessoas já consideram o lugar como deles, apesar de não terem qualquer documentação de propriedade. Aceitaria sair se dessem uma boa oferta. Caso contrário, não, pois não temos para onde ir. O patrimônio é importante. Quero ver o casarão recuperado, mesmo que não possa mais morar nele depois, disse.
O pizzaiolo Moisés Jesus Pereira, de 25 anos, mora no local com esposa e filho há dois anos. Ele diz que gosta do lugar. É um lugar histórico, mas sabemos do risco de cair. Se chover mais forte, o perigo é grande, afirmou.
A Urbel informou que iniciou, na última quinta-feira (17), a conversa com os moradores para convencê-los a deixar o local. Eles seriam incluídos no programa do Bolsa Moradia, recebendo o valor de R$ 500. O órgão aguarda a negociação para começar a reforma.
Segundo a Urbel, os moradores poderão optar ainda pelo reassentamento em unidades habitacionais do programa Vila Viva, do Aglomerado Santa Lúcia. A ideia é instalar no casarão o Centro BH-Cidadania, pela Secretaria Municipal de Políticas Sociais, com o intuito de preservar a memória da cidade. (Jornal Hoje em Dia)
Cerca de 15 pessoas de baixa renda moram em condições precárias no casarão centenário, tombado desde 1992 pelo patrimônio histórico. O risco de queda motivou o Ministério Público (MP) a exigir providências urgentes da prefeitura e da Companhia Urbanizadora e de Habitação de BH (Urbel) para recuperar o imóvel.
Segundo a promotora de Justiça Lílian Maria Ferreira Marotta Moreira, há dois anos tramita na Justiça uma Ação Civil Pública que solicita à prefeitura a restauração da Casa da Fazendinha. Foi solicitado, de forma emergencial, que os órgãos fizessem uma limpeza do imóvel e recuperassem o piso externo, além da manutenção da rede de esgoto. Porém, nada foi feito.
A promotora recomendou a retirada das famílias do local, pois o imóvel não mais oferece condições de habitação. Ela alertou para a necessidade de recuperação do telhado e da estrutura da casa. O objetivo dessas medidas é interromper o processo de degradação e garantir a manutenção do imóvel sem riscos, até que possa ser executado o projeto de restauro, disse a promotora. Caso não seja realizada a reforma, o prefeito Marcio Lacerda e o presidente da Urbel, Claudius Vinícius Leite Pereira, podem responder pela destruição de bem especialmente protegido por tombamento, segundo artigo 62 da Lei n.º 9.605/98.
O local, que já pertenceu a um dos fundadores de BH, João Leite da Silva Ortiz, agora está tomado por lixo, entulhos, possui rachaduras e infiltrações e fiações improvisadas. As vigas de madeira estão podres.
A moradora mais antiga do casarão, a funcionária pública Flávia Regina Rocha da Silva, de 43 anos, diz que a família dela vive no local há quase 70 anos, e que não quer sair dali sem uma boa proposta da prefeitura.
Ela reconhece as condições ruins do local, mas diz que, desde 1985, quando foi discutida a criação de um centro cultural no espaço, a prefeitura fala em fazer reparos na casa. Ela conta que as pessoas já consideram o lugar como deles, apesar de não terem qualquer documentação de propriedade. Aceitaria sair se dessem uma boa oferta. Caso contrário, não, pois não temos para onde ir. O patrimônio é importante. Quero ver o casarão recuperado, mesmo que não possa mais morar nele depois, disse.
O pizzaiolo Moisés Jesus Pereira, de 25 anos, mora no local com esposa e filho há dois anos. Ele diz que gosta do lugar. É um lugar histórico, mas sabemos do risco de cair. Se chover mais forte, o perigo é grande, afirmou.
A Urbel informou que iniciou, na última quinta-feira (17), a conversa com os moradores para convencê-los a deixar o local. Eles seriam incluídos no programa do Bolsa Moradia, recebendo o valor de R$ 500. O órgão aguarda a negociação para começar a reforma.
Segundo a Urbel, os moradores poderão optar ainda pelo reassentamento em unidades habitacionais do programa Vila Viva, do Aglomerado Santa Lúcia. A ideia é instalar no casarão o Centro BH-Cidadania, pela Secretaria Municipal de Políticas Sociais, com o intuito de preservar a memória da cidade. (Jornal Hoje em Dia)
¹ O córrego do Cercadinho teve as suas nascentes fragmentadas quando da abertura da BR-3 na década de 50 e posteriormente da MG-030. Suas cabeceiras, em parte ainda podem ser identificadas logo acima da MG-030, na direção do Hospital Biocor.
² Torço para que o imóvel seja plenamente recuperado, assim como fizeram com o casarão da Rua Guajajaras que também estava em ruínas. O casarão para mim é o simbolo da resistência do rural no vale, assim como a Estação Gameleira da EFCB, prestes a ruir, nos remete a um período quando os trens de subúrbio faziam parte do cotidiano do belorizontino.
* Sobre o vale do córrego do Leitão recomendo a leitura do artigo O Vale do Córrego do Leitão em Belo Horizonte: Contribuições da cartografia para a compreensão da sua ocupação disponível no endereço abaixo: https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/BORSAGLI_ALESSANDRO.pdf