Link Arraial de Bello Horizonte
Será tratada de forma breve a história da Fazenda Capitão Eduardo, sede de uma notável propriedade que se estendia desde o povoado dos Borges, na margem oeste do rio das Velhas, até a foz do ribeirão da Onça no majestoso rio. A fazenda se encontra às margens do ribeirão, mais precisamente em sua margem sul.
A fazenda foi
construída, ou adquirida no século XIX pelo Capitão Eduardo Aristides Augusto
de Lima, nascido em 1828 em Santa Luzia e falecido no ano de 1889. Seu pai, o
Tenente Coronel Serafim Timóteo de Lima, nascido em 1792, era fazendeiro e
negociante na Vila de Santa Luzia, possuindo ainda terras na região de Abre
Campo, assim como seu filho Justiniano Augusto de Lima.
A notícia mais antiga que se tem da propriedade do Capitão até o presente momento é a autorização dada pelo vice-presidente da Província de Minas, Francisco Leite da Costa Belém, que em 25 de setembro de 1871 autorizou o desmembramento da fazenda do Capitão Eduardo do município de Sabará, transferindo as terras para a freguesia de Santa Luzia, onde o Capitão ocupava o posto de comandante da 6ª Companhia aquartelada em Santa Luzia.
A fazenda teve
suas terras atravessadas pela linha-tronco da Central do Brasil por volta de
1893, que seguia em direção ao vale do rio São Francisco. A linha, após a barra
do ribeirão Arrudas, se desviava em direção à fazenda passando a poucos metros
da sede, indo novamente ao encontro do rio das Velhas após galgar o ribeirão da
Onça, sobre um pontilhão do qual atualmente se vê apenas os pilares de
alvenaria de pedra argamassada.
A questão da ferrovia já
foi abordada no capítulo 5 do Sob a Sombra,
tornando-se desnecessária uma nova explanação acerca do assunto ressaltando
que, visto que, devido a topografia do vale do rio das Velhas, mais atrativa e de menor
distância, a linha foi desviada quatro décadas mais tarde para às margens do rio
das Velhas, sendo suprimido o trecho correspondente à fazenda, que se tornou
anos mais tarde uma das principais vias do bairro Ribeiro de Abreu.
Em data
imprecisa, possivelmente no início do século XX a fazenda Capitão Eduardo foi
vendida para Antônio Ribeiro de Abreu, filho do Coronel Mariano de Abreu,
construtor da primeira sede da municipalidade, hoje Arquivo Público Mineiro.
Após a morte de
Ribeiro de Abreu, a fazenda e suas terras passaram para sua esposa, que
posteriormente as partilhou com os herdeiros as terras do futuro bairro Ribeiro
de Abreu. A fazenda possuía, de acordo com o registro de partilha datado do ano
de 1943, cerca de quatrocentos e setenta alqueires, culturas, pastos, e uma
parcela de cerrado ainda preservada, sendo que uma porção considerável da
fazenda se encontrava em terreno inundável, correspondente ao baixo Onça e suas
planícies de inundação. O documento ainda se refere à Fazenda como casa de construção antiga, que pertencia agora a
Ambrosina de Castro Abreu, viúva de Antônio Ribeiro de Abreu.
A partir desse
momento as terras da fazenda seriam sucessivamente parceladas pelos herdeiros,
desapropriadas para finalidades diversas (linha férrea, aterro sanitário e
moradias populares) e invadidas a partir da década de 1970, deflagrada pela
pressão urbana que empurrou a população de menor poder aquisitivo para fora do
município.
A propriedade,
ilhada pelo bairro Ribeiro de Abreu, se resumia no final do século XX a sede e
benfeitorias próximas, mantidas pelo último proprietário da fazenda, o Sr.
André Gustavo de Abreu Pereira Pinto, que empreendeu uma reforma no velho
casarão na década de 1990, suprimindo parcialmente suas características
originais na parte correspondente à fachada, de acordo com informações dos
moradores locais. A propriedade foi vendida à Companhia de Saneamento de Minas
Gerais (COPASA) para a construção da estação de tratamento de esgotos do
ribeirão da Onça, que ali instalou o seu escritório quando das obras da ETE.
Nesse período, a propriedade e sua arquitetura rural, tão viva em Minas Gerais e resumida apenas à Fazenda do Leitão, começou a atrair a atenção do Autor, visto que até o ano de 2008 ainda era possível visualizar o casarão da Rodovia MG-020, cuja entrada era vedada pela Copasa.
Finalmente, no mês de abril de 2016, após inúmeros pedidos de visita e pesquisas diversas, o Autor conseguiu entrar na propriedade, então abandonada. Não é necessário descrever a sensação e satisfação que teve o pesquisador ao se deparar com um imóvel genuinamente rural, de características que remetem aos períodos colonial e imperial, cuja importância e existência é desconhecida por muitos na capital.
Diante de tal
constatação, iniciou-se uma pesquisa mais detalhada sobre a fazenda, em parceria
com Marluce Nogueira Quaresma e descobriu-se que se trata de um dos imóveis
mais antigos do município de Belo Horizonte, apesar da propriedade ter
pertencido anteriormente a Sabará e Santa Luzia, em região anexada à capital
poucos anos após a sua inauguração (1897).
O horizonte é raso e as pressões políticas-imobiliárias são verdadeiras. E assim a ruralidade desaparece por completo no município, a partir do desprezo histórico-cultural pelas reminiscências de um período que representa o atraso perante um progresso a base de concreto, de asfalto e embebido de esgoto. O breve histórico aqui apresentado é uma pequena contextualização de um dos imóveis mais antigos do município.