Com essa imagem inédita, pertencente ao meu acervo e que integrará um livro a ser divulgado nos próximos tempos, agradeço a tão esperada demolição do “puxadinho” que acabou com a Praça da Independência, integrante do projeto original dos edifícios Sulamérica e Sulacap, construídos na década de 1940 em consonância com as obrigatoriedades impostas pelo município para a construção na referida quadra (a praça Tiradentes da CCNC).

Para saber mais sobre o quarteirão e a sua história singular, recomendo a leitura do embrionário artigo “Os quarteirões não edificáveis: o caso dos Correios-Sulacap”, publicado em junho de 2010 no Curral del Rey e do capítulo sobre o edifício publicado no ano de 2017 no volume 2 do livro “Sob a sombra do Curral del Rey”.

Que a cidade Contorno, tão mutilada e arruinada ao longo dos tempos, porém bela e viva, seja presenteada com mais boas notícias e principalmente com atitudes como esta, que diga-se de passagem, se arrastava por bem mais de uma década.

Imagem: Acervo Alessandro Borsagli (cite a fonte de acordo com a Lei de Direitos Autorais/utilização de obra fotográfica).

 

Transbordamento do Leitão (1940), Rua são Paulo. Acervo Fernandes Linhares Morais publicada no livro Rios invisíveis da metrópole mineira (2016) e Rios urbanos de Belo Horizonte (2020).


Neste mês de janeiro de 2024 vários locais de Belo Horizonte ficaram submersos, o que não é novidade nenhuma no ano do centenário das primeiras intervenções da rede hidrográfica da capital mineira (sim, começaram maciçamente a partir do ano de 1924, e os transbordamentos também, tudo isso se encontra no livro Rios invisíveis da metrópole mineira, publicado há exatos oito anos).

 

Bacias como a do córrego do Leitão, apesar das intervenções realizadas ininterruptamente há um século nunca estarão livres dos transbordamentos, potencializados pelas intervenções, impermeabilizações e incompetências que tanto caracterizam a grande maioria das administrações municipais desde o ano de 1898 no que diz respeito aos elementos naturais em meio urbano.

 

Enfim, mais uma vez passamos pelos mesmos problemas que nunca serão plenamente solucionados, problemas que poderiam ter sido mitigados no passado e no presente e que nunca erradicados, pois transbordamentos são fenômenos naturais potencializados pela ação antrópica, pela incompetência das administrações municipais e agora pelas mudanças climáticas.

 

“Nesse sentido, pode-se concluir que o problema dos transbordamentos se deve pela insistência do ser humano em habitar áreas que não deveriam ser habitadas e modificadas, como as planícies de inundação. No entanto, as sociedades buscam desde a antiguidade intervir nos fenômenos da natureza, na esperança de que um dia alguns dos fenômenos possam ser controlados, ainda que a busca contribua para a alteração dos fenômenos, no qual Brito (1944, p.49) observa que o problema das inundações é, portanto, um problema estabelecido pelos caprichos da atividade do homem, onde a impossibilidade de se resolver o problema deve ser aceito para que se evite trabalhos desnecessários, o desperdício de vultosas quantias e desilusões” (BORSAGLI, 2019).


 Para saber mais: Borsagli, Alessandro. Do convívio a ruptura: a cartografia na análise histórico-fluvial de Belo Horizonte (1894/1977). Belo Horizonte, 2019, que pode ser baixada/lida neste LINK

 Borsagli, Alessandro. Rios invisíveis da metrópole mineira (2016); Rios urbanos de Belo Horizonte (2020).



Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis