Panorama de Belo Horizonte, extraído do mapa do município de 1922.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte, FJP; 1997.

   A Serra do Curral é um monoclinal¹ que faz parte de uma pequena extensão de serras que se estende desde a região de Carmo do Cajuru até as proximidades da cidade de Caeté, a oeste da Serra do Espinhaço. O conjunto de serras se estende por cerca de 93 km na direção leste-oeste e pertence ao Quadrilátero Ferrífero, mais precisamente a sua borda norte. As serras que compõem a borda norte se apresentam com diversas denominações regionais, a saber:
   De oeste para leste: Serra de Itatiaiuçu e Igarapé, Serra Azul, Serra dos Três Irmãos, Serra da Jangada, Serra do Rola Moça, Serra do José Vieira, Serra da Mutuca, Serra da Água Quente, Serra do Curral, Serra do Taquaril e Serra da Piedade. As serras são atravessadas por dois rios: o rio Paraopeba, pouco abaixo de Brumadinho na garganta denominada Fecho do Funil; e o Rio das Velhas na altura de Sabará e que pode ser denominada Fecho de Sabará ou Fecho do Rio das Velhas.


Mapa do Quadrilátero Ferrífero onde se vê na borda norte o Complexo de Belo Horizonte (Complexo da Serra do Curral).

     Nesse artigo o nosso foco será a Serra do Curral, uma das serras pertencentes a esse complexo e que emoldura a cidade de Belo Horizonte, servindo como referencia geográfica para quase toda a região metropolitana.
   Bem conhecida e explorada desde o Século XVIII a Serra das Congonhas, nome primitivo da Serra do Curral não foi alvo dos mineradores que se espalhavam por toda a região das Minas durante todo o Século XVIII, salvo algumas exceções, como as concessões de lavras auríferas na Serra do Mutuca, da qual ainda existem vários vestígios pouco estudados¹¹ e da pequena exploração que existiu na Serra do Taquaril, em meados do Século XIX, da qual dos deu noticia o viajante e explorador inglês Richard Burton no livro “Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho” em 1865.
   Com um dos maiores depósitos de minério de ferro de Minas Gerais e devidamente guardadas pelos portugueses¹¹² as serras permaneceram praticamente intocadas até o inicio do Século XX, quando se começa a explorar o minério de ferro com uma maior intensidade. Atualmente existem algumas minas de ferro em funcionamento no Complexo da Serra do Curral¹², a sua maioria localiza-se nos municípios de Brumadinho, Itatiaiuçu e Igarapé.


O Complexo da Serra do Curral e suas denominações, em imagem de Satélite do ano 2000.

   A Serra do Curral é basicamente composta por itabiritos e hematita, que geralmente se localizam nas partes mais altas formando a crista da serra por serem mais resistentes ao intemperismo. Nas partes mais baixas da Serra tem-se uma predominância de dolomitos e filitos dolomíticos, rochas mais susceptíveis ao intemperismo e responsáveis pela formação dos terraços existentes na região da Lagoa Seca*. Acredita-se que a erosão desse trecho da Serra, compreendido atualmente entre a estrada da Mina de Águas Claras e a MG–30 ocorreu devido a atuação dos agentes intempéricos sobre essa porção da Serra¹³. Daí entende-se o porquê da elevação da temperatura de Belo Horizonte quando se verticalizou o Belvedere no final dos anos 90. Os processos naturais (principalmente a ação dos ventos) que ocorrem nessa porção da Serra foram profundamente modificados a partir da ocupação desenfreada da região². Os prédios construídos nessa região bloquearam as massas de ar provenientes das regiões situadas mais ao sul.
   É na vertente norte da Serra do Curral que nascem grande parte dos córregos que banham a capital e parte da região metropolitana, todos afluentes da margem direita do Ribeirão Arrudas. O Ribeirão Arrudas e alguns córregos que atravessam o Barreiro e parte de Ibirité como os córregos do Clemente e Capão da Posse também tem as suas nascentes localizadas no complexo da Serra do Curral. No município de Belo Horizonte se pode citar os Corregos do Cercadinho, Acaba Mundo e Serra como exemplos de cursos d’água que tem as suas nascentes localizadas na Serra do Curral. Com exceção do Córrego da Serra, cujas cabeceiras se encontram em grande parte preservadas os demais córregos citados apresentam profundas modificações em suas cabeceiras. O Cercadinho teve a sua calha cortada pelas rodovias BR-356 e MG-30. Já no Acaba Mundo existe uma sistemática exploração mineral desde o final do Século XIX.


Mapa Geológico do Quadrilátero Ferrífero (que ainda não havia recebido essa denominação) cuja autoria é de Peter Claussen na primeira metade do Século XIX. Dentro do circulo branco está sinalizado o arraial do Curral del Rey.


A Serra e a cidade

    A Serra do Curral era considerada o marco geográfico do arraial do Curral Del Rey, povoado que surgiu aos seus pés na primeira década do Século XVIII. Desde os tempos coloniais ela representava um marco geográfico para quem vinha pelos caminhos dos Sertões, a Serra funcionava como uma referencia para o arraial e para os outros arraiais e vilas que foram fundadas nas suas imediações. Era mais ou menos o que o Pico do Itacolomi foi para os viajantes, a principal referência geográfica de Vila Rica e Mariana.
   Um dos motivos da escolha do arraial de Belo Horizonte para sede da nova capital de Minas foi o clima e os cursos d’água que nascem na serra, abundantes e que foram durante muitas décadas após a construção da capital os principais mananciais de água que abasteciam a população.
   A Comissão Construtora da Nova Capital, ao se instalar no arraial em 1894 começou a fazer os estudos necessários para a confecção da Planta da capital. Após o termino dos estudos decidiu-se que a cidade projetada seria locada na base da Serra do Curral, principal marco geográfico da região. Quando Aarão Reis apresentou a Planta em 1895 pôde se compreender que o projeto dava maior importância à vista da Serra do Curral, que então podia ser observada de toda a cidade planejada e ela ficava nos seus limites, encaixada entre a serra e o vale do ribeirão Arrudas. Era como uma moldura para a nova capital e muito utilizada como propaganda pelo governo como uma bela cidade serrana, ideal para se viver e para se passar temporadas recuperando-se de moléstias, como já acontecia com Campos do Jordão, famosa pela salubridade de seu clima.


Parte da Planta Geodésica e Topográfica de 1895 aonde está representada a Serra do Curral, de oeste para leste.
Fonte: APCBH Acervo CCNC


Vista do Cruzeiro em primeiro plano e ao fundo a Serra do Curral. À esquerda pode-se ver o Pico do Curral del Rey, atual Pico Belo Horizonte.
Fonte: APCBH Acervo CCNC

   Após a inauguração da capital a Serra do Curral permaneceu praticamente intocada nas primeiras décadas do Século XX²¹. As terras situadas abaixo do paredão da serra, inclusive a Lagoa Seca pertenciam a Fazenda do Capão, de propriedade de Ilídio Ferreira da Luz e desapropriada pelo governo em 1894, quando do inicio da construção da nova capital. Os córregos do Cercadinho e da Serra, cujas nascentes localizam-se na borda norte da Serra tiveram suas terras desapropriadas e foram os primeiros mananciais responsáveis pelo abastecimento de água da capital.
   Com o aumento populacional já nas primeiras décadas do Século XX o abastecimento de água da capital ficou seriamente comprometido, principalmente na Zona Suburbana, área de maior concentração populacional de Belo Horizonte. Para se resolver tal problema o governo iniciou na década de 20 a captação dos cursos d’água que nascem na região do Barreiro e Ibirité, cujas nascentes se localizam no complexo da Serra do Curral (Serras do José Vieira, Capão da Posse e Rola Moça) além de estender a captação para o Córrego da Mangabeira, afluente do Córrego da Serra.


Planta Cadastral de 1936 onde se vê grande parte do Complexo da Serra do Curral.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte, FJP;1997.


Ilustração existente no "Mapa de Belo Horizonte" datado de 1939 onde se contempla diversas partes do Complexo.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte, FJP; 1997. 

   Nas décadas de 40 e 50 teve o inicio da captação do Ribeirão Catarina, para atender exclusivamente a Cidade Industrial e do Córrego do Mutuca. É nessa década que se tem a vinda das grandes mineradoras no complexo da Serra do Curral, iniciada pela Mannesmann em meados dos anos 50.


Área central de Belo Horizonte em 1948. Ao fundo a Serra do Curral e a região da Lagoa Seca.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacilio Negrão de Lima, 1948.


Crista da Serra do Curral na direção leste onde se vê a área explorada pela Ferrobel pouco tempo depois desse registro.
Fonte: Acervo IBGE


Imagem obtida do alto da Serra do Curral onde se vê a região da Lagoa Seca e adjacências.
Fonte: Acervo IBGE


Imagem do inicio dos anos 60 onde se vê a mina do Acaba Mundo à esquerda e ao fundo as áreas da serra atualmente ocupadas pelos bairros Serra e Mangabeiras.
Fonte: Acervo IBGE


Mina da Mannesmann na Serra da Mutuca, bairro Olhos D'água e pertecente ao Complexo da Serra do Curral. Imagem obtida das margens da antiga Rodovia BR-3.
Fonte: Acervo IBGE


Serra Três Irmãos e Fecho do Funil em Brumadinho, pertecente ao Complexo.
Fonte: Acervo IBGE

   No inicio da década de 60 é autorizada a exploração na Serra do Curral. A Ferrobel (Ferro Belo Horizonte S/A), de capital misto foi criada em 1961 pela Lei Municipal Nº 898 e se instalou na área hoje ocupada pelo Parque das Mangabeiras (Mina das Mangabeiras). A extração de ferro no local durou por quase 20 anos, sendo a mina desativada em 1979 para a implantação do Parque. Essa mina, junto com a Mina de Águas Claras²² mudou drasticamente a fisionomia da serra no local, que atualmente apresenta um rebaixamento do relevo que não existia, à direita do Pico Belo Horizonte.


Implantação da mina da Ferrobel na Serra do Curral.
Fonte: APCBH/ASCOM


Mina da Ferrobel em funcionamento.
Fonte: Portal PBH/URBEL

   A partir dos anos 60 as partes mais altas da capital passaram a ser ocupadas pelas camadas mais abastadas da população vindas da área central da cidade, que começava a entrar em decadência devido ao inchaço populacional. A área ocupada atualmente pelo bairro Mangabeiras pertencia a mina da Ferrobel e foi parcelada em lotes de 1000 m², destinados a população de maior poder aquisitivo e que buscavam uma melhor qualidade de vida, o que as partes mais baixas, extremamente adensadas não ofereciam mais.
   A expansão do bairro Anchieta em direção as nascentes do córrego do Gentio, a expansão dos bairros do Cruzeiro e Serra paralelamente ao prolongamento da Avenida Afonso Pena e a abertura dos bairros Mangabeiras e Comiteco selou a ocupação das áreas mais baixas da serra tombadas pelo IPHAN em 1961 exatamente com o intuito de se preservar a serra contra a especulação imobiliária e contra a expansão das mineradoras, ao mesmo tempo em que garantiria em parte a integridade da serra. Vale lembrar que essa expansão praticamente extinguiu a Favela do Pindura Saia que ficava nas áreas ao entorno da Avenida Afonso Pena. Em conseqüência disso o Aglomerado da Serra se adensou ainda mais, pois grande parte da população do Pindura Saia foi deslocada para a Serra e os moradores se assentaram nas áreas mais altas, pertencentes a Serra do Curral.


Prolongamento da Avenida Afonso Pena nos anos 60 em direção às partes mais altas da capital. No seu entorno se vê fragmentada a Favela do Pindura Saia.
Fonte: APCBH/ASCOM


Serra do Curral nos anos 1970. As duas setas sinalizam as áreas mineradas pela Ferrobel e MBR que mudaram a fisionomia da serra.
Fonte: APCBH/ASCOM

Mina da Ferrobel em plena atividade no ano de 1977. Imagem obtida exatamente na divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima, no local aonde a Serra foi rebaixada pela mineração.
Fonte: APCBH Coleção José Góes

Parte da Mina de Águas Claras na década de 1970.
Fonte: Desconhecida

    Poema de Drummond publicado em 1976, no período em que a MBR e a Ferrobel alteravam o perfil da serra com a intensa exploração mineral:

"Esta serra tem dono. Não mais a natureza 
a governa. Desfaz-se, com o minério, 
uma antiga aliança, um rito da cidade. 
Desiste ou leva bala. Encurralados todos, 
a Serra do Curral, os moradores 
cá embaixo".

    Já na década de 1970 é cedido ao Instituto Hilton Rocha uma parte da serra para a construção de um centro oftalmológico. Essa construção teve impacto direto no complexo da serra, a tal ponto do edifício ser visualizado de diversos pontos da cidade e da região metropolitana. Nessa mesma década a exploração do minério de ferro atingiu a crista da serra modificando profundamente a sua fisionomia, que atualmente apresenta um perfil mais baixo em relação ao complexo da Serra do Curral. Esse impacto teve uma repercussão significativa na sociedade, gerando protestos de diversas entidades (o slogan “Olhe bem para as montanhas” data dessa época) e que culminou com a criação do Parque das Mangabeiras que já existia no papel desde 1966. O Parque foi implantado em 1982 na área da mina da Ferrobel desativada em 1979.


Implantação do Parque das Mangabeiras em 1981 e 1982.
Fonte: Desconhecida


Serras do Rola Moça e Jangada, pertencentes ao Complexo da Serra do Curral em foto de 1985.
Fonte: Desconhecida


Imagem do ano de 2009 onde se vê as mesmas serras com significativas mudanças devido a ação antrópica, onde se destaca a Mina da Jangada, responsável pelo rebaixamento da serra nesse trecho.
Fonte: Foto do Autor

   Atualmente, devido à excessiva verticalização das Zonas Urbana e Suburbana modificou inteiramente o espaço urbano alterou-se a perspectiva da Serra do Curral que se tinha de todas as zonas, singular devido ao traçado feito por Aarão Reis, que dava maior ênfase a Serra. Das partes mais baixas da capital vêem-se apenas fragmentos da Serra tamanha foi a verticalização. A única parte bem visível é o paredão da serra, protegido por ser praticamente impossível de ser ocupado devido ao seu relevo acidentado. O Parque Paredão da Serra e o Parque das Mangabeiras tem como finalidade preservar todo o paredão da serra e suas vertentes, atualmente cobiçadas pelas grandes construtoras que desejam construir condomínios de luxo na região. Em relação a todo o Complexo as mudanças ocorridas foram significativas, principalmente na porção compreendida entre a Serra do Rola Moca e a Serra de Igarapé, transformações que ocorreram e ainda ocorre devido à grande exploração do ferro na região.
   Mesmo com toda a mudança espacial ocorrida nesses quase 115 anos de Belo Horizonte que transformou toda a paisagem a Serra do Curral Del Rey continua sendo a “guardiã” da capital, como foi para o Curral Del Rey e que merece todo o respeito do Poder Público e de toda a população.


Foto aérea onde se vê parte da Serra do Curral, as suas vertentes e áreas mais baixas ocupadas pelo Aglomerado da Serra, Mangabeiras e bairro Serra e as três minas que existiam na serra e atualmente desativadas, a saber:
1 - Mina da Ferrobel; 2 - Mina de Águas Claras; 3 - Mina da Baleia ou Corumi
Fonte: Emerson R. Zamprogno/Panoramio


Imagem obtida das proximidades da Pampulha onde é possível visualizar grande parte da Serra. Em destaque as áreas que apresentam os maiores impactos no seu conjunto.
Fonte: Foto do Autor


Montagem feita a partir dos vários registros da Serra do Curral ao longo dos 115 anos da ocupação urbana da capital.

A metamorfose da paisagem: a Serra do Curral em três períodos distintos, antes, durante e depois das Minas de Águas Claras e das Mangabeiras (Ferrobel).


¹ Monoclinal ou homoclinal é uma dobra que ocorre quando se dá apenas o encurvamento de uma parte da camada (relevo monoclinal).

¹¹ Essas concessões datam da primeira metade do Século XVIII e juntas elas formavam um complexo minerário que se estendia desde a Serra do Mutuca até a Serra da Moeda. Muitas dessas lavras eram ilegais e foram desmanteladas pela Coroa ou mesmo abandonadas, quando do inicio da decadência da exploração do ouro. Ainda é possível identificá-las a olho nu em diversos pontos da Serra.

¹¹² Os primeiros viajantes estrangeiros que pisaram em Minas Gerais após a abertura dos Portos em 1808 se assustaram com a quantidade de minério de ferro existente nas Serras da então Capitania de Minas Gerais. Segundo eles (Saint-Hilaire, Martius, Mawe entre outros), este foi um dos segredos mais bem guardados pela Coroa no Século XVIII.

¹² Defino como Complexo da Serra do Curral todo o conjunto de serras alinhadas e que se estende de oeste para leste, como descrevi no inicio do artigo e não apenas a porção do Complexo localizado no município de Belo Horizonte. O extenso alinhamento montanhoso recebe tal denominação por se tratar do topônimo mais conhecido entre todos de grande importância, lembrando que a palavra "complexo" tem como um dos seus significados a "construção composta de numerosos elementos interligados ou que funcionam como um todo".

¹³ A curva do Ponteio e as partes mais altas da Avenida Raja Gabaglia, em parte também apresentam essa composição de solo, daí o motivo dos deslizamentos nessas áreas serem constantes, devido à fragilidade do solo. Nesses locais, o processo foi desencadeado devido a abertuda da Rodovia nos anos 50 e da Avenida Raja Gabaglia nos anos 70. Um estudo sobre a orogênese de toda essa região seria muito bem vindo e muito esclarecedor, ou mesmo uma divulgação caso já exista esse estudo.

² Isso também ocorreu na verticalização dos bairros Serra, Cruzeiro e Anchieta. Os edifícios construídos barraram a circulação de ar proveniente do sul ou seja, a massa de ar vem de trás da Serra do Curral, esquentando ainda mais as áreas mais baixas da capital e favorecendo a formação de ilhas de calor na região central. Em suma: quem mora nos edifícios “congela” e quem mora nas áreas mais baixas “derrete”.

²¹ Existia uma pequena extração de minério de ferro na Serra, cujo beneficiamento do minério extraído era realizado em uma pequena fábrica que se localizava as margens do Ribeirão Arrudas, no local onde se encontra atualmente o Boulevard Shopping. Além disso, já existia uma extração de Calcário na cabeceira do Acaba Mundo, área que faz parte do complexo da Serra do Curral e que contém Dolomito e Magnesita, minerais que passaram a ser explorados em larga escala na região a partir de 1951. Esse calcário foi largamente usado pela CCNC na construção e no embelezamento dos Edifícios públicos da Praça da Liberdade.

²² Mina que pertencia a MBR (Minerações Brasileiras Reunidas S/A, atualmente pertencente a Vale) e que se localizava na vertente sul da Serra do Curral, no município de Nova Lima. Depois de cerca de trinta anos de funcionamento a Mina foi desativada em 2002.

* A Lagoa Seca recebeu essa denominação ainda no período colonial por causa das águas que ali se acumulavam nos períodos chuvosos. Na época de estiagem a água ali acumulada desaparecia, da mesma forma que ocorre na Lagoa do Sumidouro na região cárstica de Lagoa Santa, devido ao rebaixamento do lençol freático e da porosidade do solo. Considera-se a Lagoa Seca como uma das nascentes do córrego do Leitão, visto que uma parte das suas águas subterrâneas provavelmente afloram na região do bairro Santa Lúcia.   
Hoje (01/06) eu li numa reportagem um parágrafo dizendo que, nos anos 70 um determinado córrego da capital trazia transtornos para a população da região em questão, perturbando-os e atrasando a ocupação e o desenvolvimento urbano. Infelizmente esse pensamento ainda está vigente na cabeça das pessoas, usufruir de um bem natural e descartá-lo quando melhor convém. Como já escrevi em artigos anteriores, as cinco colônias agrícolas que se criou em Belo Horizonte a partir de 1897 foram assentadas nas vertentes dos principais córregos da capital, lembrando que a ocupação se restringia ao perímetro da Avenida do Contorno e adjacências (Zona Suburbana). Algum tempo após a anexação das colônias agrícolas a zona suburbana da capital os córregos foram sendo erradicados um a um, pois a política vigente da época os tratava como um “problema” que deveria deixar de existir e grande parte da população concordava com essa política, pois com água encanada e energia elétrica quem é que ia até um córrego buscar água ou lavar roupa, uma acomodação compreensível devido à melhoria das condições de vida iniciada no final do Século XIX e tão sonhada pelas populações periféricas. E um curso d’água não serve apenas para matar a sede e andar limpo, ele também ajuda a amenizar o clima de uma região, lembrando que as condições ambientais associadas a eles proporcionam um habitat único, com uma biodiversidade extremamente rica entre outros fatores.
Torço para que um dia as pessoas entendam a importância que um curso d’água tem para o meio ambiente e que passem a tratá-los com o respeito que eles merecem. Não posso dizer o mesmo para os que estão sepultados debaixo das construções e das vias de Belo Horizonte, que a meu ver eles foram erradicados do meio por um largo período de tempo. Realmente, no que diz respeito ao desenvolvimento urbano eles podem ser considerados por alguns um entrave, mas atualmente existem inúmeras possibilidades para uma bem sucedida harmonização entre a cidade e os cursos d’água. Mas os considerar perturbadores, sem comentários.
A citação abaixo, que eu escrevi no artigo “Qualquer semelhança não é mera coincidência: os cursos d’água que atravessam a capital” retrata exatamente o pensamento retrógado que eu, equivocadamente achei que havia ficado canalizado e coberto junto com os córregos nos anos 60 e 70. As imagens abaixo servem como exemplo para ilustrar o que eu escrevi acima. Em grande parte da área urbana da capital todos tiveram o mesmo destino do Córrego do Acaba Mundo.

"A falta de conscientização da população naquela época era alarmante, os cursos d’água eram simplesmente tratados como deposito de lixo, pois para ela a água leva tudo que é indesejável nos centros urbanos como o lixo, esgotos, animais mortos etc. O Poder Público por sua vez não ajudava, faltava investimentos na área e o sistema de coleta de lixo estava à beira de um colapso. As enchentes, freqüentes nesse período levava para as ruas e avenidas todo o material depositado nos cursos d’água, aumentando ainda mais o desejo de ver os córregos erradicados da área urbana, ou seja, na verdade era esconder o “problema” debaixo do tapete. E a população apoiou e aplaudiu o fechamento dos cursos d’água".


Córrego do Acaba Mundo canalizado na Rua Professor Morais em 1963. É notável a harmonia da paisagem entre o córrego e o seu entorno. A foto acima foi tirada quando do inicio da cobertura do córrego para o alargamento da Rua Professor Morais e Avenida Afonso Pena e principalmente para a melhoria da salubridade da região.
Fonte: APCBH/ASCOM


O mesmo córrego sob a Rua Professor Morais em 2010.
Fonte: Foto do Autor

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis