Composição do Vera Cruz na Avenida do Contorno em Belo Horizonte, no ano de 1974. À direita casa residencial da praticamente extinta Rua Muriaé e ao fundo o Elevado Castelo Branco. O ribeirão Arrudas à esquerda, com a canalização realizada em 1940 chama a atenção do observador, no local coberto no final de 2010 para a "melhoria viária" da capital.
Fonte: Flickr/George Palmer Wilson-Landerson Egg
É sabido que as ferrovias
representam um capitulo a parte na história de Minas Gerais e de Belo Horizonte
(recomendo a leitura do artigo “Benéficos ou malditos? Os ramais férreos na história de Belo Horizonte"). É indiscutível a importância que o transporte
sobre trilhos representou e representa para o crescimento econômico e o
desenvolvimento da capital mineira desde o final do século XIX, cujo prazo para
a construção da nova capital só pôde ser cumprido graças a construção do ramal
de Belo Horizonte desde General Carneiro, lembrando que a grande maioria dos
engenheiros da Comissão Construtora haviam trabalhado anteriormente na Central
do Brasil, cuja linha tronco ainda se encontrava em construção no período.
Durante grande parte do século
XX, as ferrovias seriam responsáveis não só pelo escoamento da produção
industrial e mineral da capital e arredores, mas também do transporte de
passageiros em viagens de longa ou curta distância, em uma cidade ainda fragmentada e sem uma plena ligação regular dos
outros modais de transporte, cuja prioridade era o atendimento da zona planejada e alguns bairros adjacentes.
A priorização dos investimentos
na malha rodoviária estadual e municipal a partir da década de 1950 contribuiu
decisivamente para a lenta agonia do transporte ferroviário de passageiros em
Belo Horizonte e arredores¹, assim como as manobras politicas arquitetadas
pelos grupos interessados em explorar o transporte coletivo do município,
iniciadas no final da década de 1940, onde a população seria (e ainda é) a mais
prejudicada. Tudo em prol da modernização do Brasil, cujas ideias foram
erroneamente absorvidas pela população e repetidas em nossa sociedade até os
dias atuais.
Estação Central de Belo Horizonte (E.F.C.B.) no inicio da década de 1960.
Fonte: Desconhecida
A extinção da linha da E.F.C.B. Barreiro-Matadouro
(bairro São Paulo) em 1969, sob justificativa de ser antieconômico e o corte da
energia fornecida pela Cemig para o transporte ferroviário seria o inicio da
supressão dos trens de subúrbio da capital mineira, que finalizaria no ano de
1996 com a extinção dos últimos trens de subúrbio operados pela RFFSA, no
momento da privatização da malha ferroviária do país, cuja licitação abrangia
apenas o transporte de carga. A partir daí o transporte público de Belo Horizonte
e região metropolitana passariam a ser de responsabilidade dos concessionários,
cuja influencia na politica municipal e mesmo estadual atrasam o
desenvolvimento do transporte público, prejudicando inclusive o desenvolvimento
urbano não somente do município, mas de todo o estado. Nesse contexto quem
sairia perdendo (como sempre) seriam as camadas menos abastadas que dependem
exclusivamente do transporte coletivo onde os trens, pelo seu baixo custo eram
importantíssimos para a manutenção da vida diária dos trabalhadores.
Composição da E.F Vitória Minas em 1977 na Estação Central de Belo Horizonte.
Fonte: Flickr/Jorge Ciawlowski
Subúrbio de Rio Acima no cruzamento da Avenida Francisco Sales em 1978.
Fonte: Flickr/George Palmer Wilson-Alexandre Almeida
As recentes imagens desse pequeno
artigo nos lembram de que, apesar do concreto vertical e dos veículos movidos à
gasolina e óleo diesel ainda figurarem como um dos protagonistas das politicas
urbanas de Belo Horizonte, tal modelo desenvolvimentista adotado por aqui e por
outros centros urbanos brasileiros já se mostrou inviável na prática, apesar de
ainda ser defendido por indivíduos que lucram com as nefastas obras empregadas
por aqui, e por pessoas engessadas que não conseguem vislumbrar um outro
horizonte para a capital e para suas vidas. Assim como uma real melhoria do
transporte coletivo as Ferrovias são o futuro para a mobilidade urbana de Belo
Horizonte assim como as bicicletas², só depende da nossa insistência e da boa
vontade do Poder Público para aplica-las e da participação, da conscientização
e do respeito de uma grande parcela da população, que acredita que com tais
modais de transporte estaríamos voltando ao século XIX. Então seria melhor
voltarmos ao século XIX não?
Composição na Estação de Calafate/Carlos Prates em 1980. À direita a Estação Carlos Prates da Rede Mineira de Viação, demolida pouco tempo depois deste registro. Ao fundo o Viaduto da Rua Santa Quitéria.
Fonte: Flickr/Palmer
Estação do Calafate em 1980, também demolida.
Fonte: Flickr/Palmer
A mesma Composição e Estação em 1980.
Fonte: Flickr/Palmer
Trem de passageiros saindo da Estação Calafate em 1982, em direção a cidade de Conselheiro Lafaiete. A linha seria suprimida em 1989.
Fonte: Flickr/ Antônio Marques-Paulo Roberto Oliveira
Trem de Subúrbio entre as estações de General Carneiro e Sabará no ano de 1980.
Fonte: Flickr/Ramiro
A mesma composição em direção a Belo Horizonte.
Fonte: Desconhecida
Composição oriunda da Mina de Águas Claras no ano de 1977, no pátio da Lagoa Seca. Ao fundo a Serra do Curral.
Fonte: Flickr/ George Palmer-Alexandre Almeida
A composição saindo da Mina de Águas Claras em 1980.
Fonte: Flickr/Paulo Roberto de Oliveira
Pátio da Lagoa Seca em Maio de 1981. À direita parte do BH Shopping e ao fundo parte das vertentes do córrego do Cercadinho. Á esquerda a Seis Pistas. Atualmente o local está envolto por um muro de concreto dos dois lados.
Fonte: Flickr/Alexandre Almeida
¹ E em todo o Brasil.
² Esse discurso de que a cidade
apresenta um relevo acidentado, não convidativo para o uso da bicicleta, ou que
o clima não ajuda já se tornou no mínimo ridículo, sustentado por quem não quer
sair do sedentarismo e da comodidade em que se encontra, além de ser
economicamente ruim para muita gente, que lucra com a especulação sobre o automóvel,
venda de combustível etc. Recomendo para quem acha que bicicleta é coisa do
passado ou transporte de “pobre” procurar material a respeito delas, a
tecnologia empregada e o seu uso em países cultuados pela maioria que nega o
seu uso por aqui.
Recomendo o site BH em Ciclo para se conhecer melhor o uso da bicicleta como transporte.
* Agradeço ao Sr. Johannes Smit pelas divulgação e disponibilização das belas imagens.