
A titulo de curiosidade: um pouco a direita vemos o Almoxarifado da CCNC e entre ele e a Capela do Rosário está o Cemitério Provisório construído pela Comissão Construtora, no quarteirão do Banco do Brasil na Rua Rio de Janeiro.
Fonte: BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva, 1996.
Ao projetar a nova capital Aarão Reis criou inúmeras praças e largos destinados ao embelezamento da nova capital criando espaços definidos para a socialização da população e atividades civicas, entre outras finalidades. Muitas destas praças não chegaram a ser implementadas ou desapareceram devido as diversas alterações no traçado urbano e várias destas áreas foram posteriormente transformadas em quarteirões edificáveis. Para se ter uma idéia pela planta inicial estava prevista a existência de 24 praças e largos na Zona Urbana. Dessas atualmente não existe a metade disso. Áreas hoje ocupadas pelo Colégio Pedro II, os edifícios Raposo Tavares e Louis Ench e os grupos escolares Barão do Rio Branco e Bueno Brandão foram inicialmente largos e praças sendo posteriormente refuncionalizadas, tornando-se na sua maioria áreas edificáveis. Vamos analisar mais detalhadamente o caso do largo que deveria ter existido na Avenida Afonso Pena na esquina com as Ruas da Bahia e Tamoios. O largo, batizado pela Comissão Construtora de Praça Tiradentes fazia parte de uma das quatro praças que deveriam ter sido construidas em casa uma das arestas do Parque Municipal. As outras três, a saber foram denominadas:
- Praça Benjamin Constant, no cruzamento das Avenidas Afonso Pena, Carandaí e Mantiqueira, atual Alfredo Balena.
- Praça 15 de Novembro, atual Hugo Werneck no cruzamento das Avenidas Mantiqueira, Aragauaia, atual Francisco Sales e Paraibuna, atual Bernardo Monteiro.
- Praça 15 de Junho, no cruzamento das Avenidas Araguaia e Tocantins, atual Assis Chateaubriand.
Essas Praças delimitariam o verdadeiro Parque Municipal de Aarão Reis. Atualmente o Parque¹ ocupa apenas ¼ da área projetada para ele, como se vê nas imagens abaixo.
Voltando ao caso do quarteirão destinado a Praça Tiradentes (não confundir com a Praça 21 de Abril, localizada no cruzamento das Avenidas Brasil e Afonso Pena). Resolvi abordar a ocupação desse quarteirão devido a sua singularidade em relação aos outros quarteirões que inicialmente eram destinados a Praças, no que diz respeito à forma de ocupação e principalmente a arquitetura.
Até o inicio do Século XX a parte inferior da área destinada a Praça permaneceu vazia conforme o projeto de Aarão Reis. A parte superior, o quarteirão compreendido entre a Avenida Afonso Pena e as Ruas Tupis e Tamoios que também fazia parte da dita Praça já estava ocupado desde a inauguração da capital, como vemos na primeira foto. Esse quarteirão foi inicialmente ocupado por particulares, posteriormente por órgãos do Governo e desde os anos 1930 ele está ocupado por diversas construções de finalidade comercial.
Fonte: APCBH Coleção José Góes
Em Agosto de 1904 é lançada a pedra fundamental do edifício dos Correios, obra bancada pelo governo federal e a área escolhida para a sua edificação foi justamente a parte inferior da Praça Tiradentes. Era o inicio da transformação espacial, do “vazio” não edificável ao “cheio” que, como dito anteriormente ocorreu em toda a Zona Urbana da capital. O prédio dos Correios foi inaugurado em 1906 e era tido como um dos símbolos da nova capital, aparecendo até mesmo em diversos Cartões Postais da época, como vemos na imagem abaixo.
Fonte: Acervo MHAB
Fonte: APCBH Coleção José Góes
Nos anos que sucederam à sua construção a Avenida Afonso Pena se tornou o espaço da articulação urbana juntamente com a Rua da Bahia. A população crescia cada vez mais e o imponente edifício não atendia mais a demanda para a qual se propunha. No inicio dos anos 1930, devido a falta de espaço a Prefeitura inicialmente toma a decisão de expandi-lo mas em 1935 o Estado decide trocar o terreno antes destinado ao Congresso na própria Afonso Pena pelo quarteirão do edifício dos Correios, conforme relatório de 1935 do Prefeito Octacilio Negrão de Lima: “Prosseguindo as negociações iniciadas, conseguimos ver realizada a permuta do atual edificio dos Correios e Telegrafos pelo terreno ao lado do novo edificio da Prefeitura, na Avenida Afonso Pena”.
Fonte: Acervo MHAB
No final dos anos 1930 é decidido que o prédio dos Correios deveria ser demolido repassando o terreno para particulares, vendido então para o Grupo Sul América. Na planta cadastral feita na gestão do Prefeito Juscelino Kubitschek em 1941 o quarteirão aparece vazio, figurando como projetado por Aarão Reis, uma praça em pleno centro da capital, porém o edifício dos Correios só viria a ser demolido alguns anos mais tarde.
Por volta de 1944/1945 teve inicio a construção das torres gêmeas dos edifícios Sulamérica e Sulacap, inaugurados em 1946. Em estilo Protomoderno os edifícios cubistas eram ladeados por dois edifícios menores em sua base e que, devido a sua posição criou um “vazio” entre eles, uma nova “praça” que criou uma perspectiva interessante do Viaduto Santa Tereza, enquadrando-o entre os edifícios e resgatando em parte a ideia de Aarão Reis, uma imposição do município para a venda do terreno no final da década de 30.

Fonte: BH Nostalgia

Fonte: APCBH
Fonte: Acervo do Autor
Fonte: BH Nostalgia
Fonte: Acervo do Autor
Essa praça existiu até meados dos anos 1970, quando lamentavelmente é construído um anexo de dois andares, preenchendo o “vazio” existente entre os edifícios e acabando com o enquadramento do Viaduto de Santa Tereza. A construção desse “puxadinho” coincide com a época de maior congestão do centro de Belo Horizonte, que sofria com o incontrolável crescimento urbano dos últimos trinta anos e do aumento do trânsito de veículos, principalmente os coletivos que até essa época ainda tinham os seus pontos finais nas ruas da área central. Abaixo do anexo figurava a “praça” completamente esmagada. Ela se tornou um local marginalizado, principalmente nos finais de semana e que então passou a ser evitado pelas pessoas que passavam pelo local. Atualmente existe um gradil que impede as pessoas de transitarem por baixo do anexo fora do horário comercial.
A história da Praça Tiradentes, que virou quarteirão edificável em parte é a história da maioria das praças e largos projetados pela CCNC: praças essas que atualmente seriam muito bem vindas pois seriam “refúgios” entre a verticalização exagerada e o caos urbano que vemos atualmente na área central de Belo Horizonte e entorno. Infelizmente os administradores não entenderam o “recado” deixado por Aarão Reis e pelos membros da Comissão Construtora, sacrificando o bem estar e o convívio social em favor do progresso desenfreado.
Assim resumimos a história desse quarteirão: “Vazio” - Largo - Praça - Edifício Público - Edifício Particular + “Praça” ++ Anexo = “Cheio”.
Fonte: Google Earth

Fonte: PBH/ Secretaria Municipal de Políticas Urbanas
Foto: Rodrigo Eyer Cabral
Os edifícios em imagem aérea do ano de 2010.
Fonte: Google Maps
¹O Parque Municipal e a cronologia de sua dilapidação será um tema abordado posteriormente.