Paisagem do arraial de Belo Horizonte em 1894, desde a Rua de Santana.
A Comissão Construtora da Nova Capital ainda estava
se instalando no arraial de Belo Horizonte quando os quadros aqui publicados
foram pintados. Pintados por Honório Esteves, artista nascido em Santo Antônio
do Leite e conhecido por suas paisagens, alegorias e retratos, que muitas vezes
representavam o cotidiano do mineiro, uma característica que se vê em outros
quadros pintados no mesmo período no Brasil. Os quadros pintados por ele
provavelmente faziam parte do plano da CCNC de registrar a paisagem em
desaparecimento, no caso o arrasamento do arraial para a construção da nova
capital. Além das pinturas, centenas de fotos foram tiradas de diversos pontos
do arraial retratando a paisagem tipicamente rural e a vida tranquila dos
curralenses, expulsos do arraial e adjacências quando do inicio da construção
da capital. Infelizmente muitas dessas imagens se perderam com o tempo,
enviadas como propaganda republicana para promover a nova capital de Minas e
incentivar a imigração, tanto interna quanto externa.
O primeiro quadro foi provavelmente pintado desde a
Rua de Santana, que ficava um pouco abaixo da Rua da Boa Vista, local onde se
encontra atualmente a Praça da Liberdade. Destacam-se a Matriz da Boa Viagem e
a Rua de Sabará, a principal rua do arraial, responsável pela ligação deste com
a cidade de Sabará. Em primeiro plano pode-se ver uma parte da rua e o
cotidiano dos moradores do arraial. Ao fundo o local onde se ergueram os
bairros Floresta e Santa Efigênia e a Serra da Piedade, se destacando na
paisagem.
A imagem abaixo, retratada desde o Cruzeiro, hoje
Praça Milton Campos nos apresenta a quase totalidade do arraial e alguns dos
caminhos que faziam a ligação entre ele e as fazendas que o circundavam. A
estrada à direita fazia a ligação do arraial com Congonhas de Sabará
(Nova Lima), e era na verdade o prolongamento da Rua de Congonhas que se
iniciava nas proximidades do Largo da Matriz. A estrada à esquerda fazia a ligação
entre o arraial e a Fazenda das Mangabeiras, sendo que a estrada se originava
na Rua do Capão. Dessa rua originavam-se também as estradas para o povoado dos
Olhos D’água, Mutuca, Lagoa Seca e para as Fazendas do Leitão, Capão e do
Cercadinho. A mata ciliar que existiu ao longo do córrego do Acaba Mundo também
foi retratada no quando em questão, assim como as Palmeiras Macaúbas, muitas
delas derrubadas para a implantação do Parque Municipal. Ao fundo as montanhas
em primeiro plano, hoje ocupadas por diversos bairros da região noroeste de Belo
Horizonte.
Sem duvida os quadros pintados em 1894 são um
importante registro de um arraial tipicamente rural arrasado pelo rolo
compressor republicano que vislumbrava a nova capital como uma ruptura com o
passado colonial, e mesmo a recuperação dos ideais republicanos evocados por
eles e atribuídos a Inconfidência Mineira, a nova capital viria a ser um raio
de luz entre a escuridão do período imperial, cujas marcas e representações
seriam apagadas ou legadas ao esquecimento. Mas é bom ressaltar que Aarão Reis,
sabendo que a paisagem do arraial e adjacências seriam profundamente modificadas
com a construção da Cidade de Minas procurou registrar, através das pinturas,
imagens e mapas a forma e as peculiaridades de uma paisagem em transformação.
Arraial de Belo Horizonte desde o Cruzeiro. Ao fundo as montanhas hoje ocupadas por diversos bairros da região noroeste de Belo Horizonte.