Conseqüência do crescimento que tem caracterizado ultimamente, o movimento imobiliário de Belo Horizonte, principalmente voltado para as construções de apartamentos, em altura, passou a ser objeto do maior interesse a questão da chamada zona comercial e sua ampliação, porquanto só nela se permitem edifícios de vários pavimentos”. Sylvio de Vasconcelos, em artigo de 1956 sobre a construção de edifícios na região central de Belo Horizonte.


Imagem noturna da Avenida Afonso Pena na década de 50, um retrato da Belo Horizonte com ares de Metrópole.
Fonte: APM

A formação da Metrópole Industrial

   Em 1950 Belo Horizonte já havia entrado no caminho para a metropolização, apresentando uma população de cerca de 352.000 habitantes. A industrialização iniciada na década de 40 na capital incentivou o aumento do fluxo migratório em direção a Belo Horizonte e o parcelamento do solo, que empurrou o crescimento urbano para todas as direções, principalmente as regiões norte e oeste devido ao seu relevo de menor declividade. Nessa década o adensamento na área central já chamava a atenção pela rapidez que se concretizava, incentivado pela verticalização, um fenômeno que se tornou incontrolável na década seguinte.
Esse crescimento urbano acentuou ainda mais os conhecidos problemas que a capital sofria havia décadas: os serviços básicos, onde se destaca o abastecimento de água e o transporte público que acompanhava precariamente a expansão urbana. Para tentar acompanhar o crescimento urbano foram inaugurados em 1952 os serviços de trolebus, ônibus movidos a eletricidade. A expansão urbana e a falta de investimentos nos serviços de Bondes tornavam o transporte cada vez mais obsoleto, restringindo-o a poucas linhas em comparação com o transporte feito por ônibus, extremamente deficiente ao comparar com o crescimento da malha urbana¹.


Mapa do Município de Belo Horizonte do ano de 1953. Pode-se observar a expansão urbana para os eixos Oeste e para o Norte motivadas pela Cidade Industrial e pela Pampulha, respectivamente.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte, FJP; 1997.

   As Avenidas Amazonas e Antonio Carlos, consolidadas na década passada foram responsáveis pela articulação entre o centro e os bairros periféricos que iam surgindo no entorno das vias. Mesmo sendo grande o aumento populacional nessa década ainda existiam diversos locais que apresentavam uma baixíssima taxa de adensamento populacional, que formavam “ilhas” entre as vilas e bairros nas proximidades das vias principais. Com a consolidação da Cidade Industrial o crescimento urbano se acentuou para o oeste, atingindo a região do Barreiro e posteriormente para o norte, na direção da Pampulha. Foi durante a década de 50 que se deu a conurbação de Venda Nova, distrito anexado a Belo Horizonte em 1949. Essa conurbação teve inicio quando da criação dos bairros Jardim Pampulha, Jardim Leblon, Santa Branca entre outros bairros que tiveram como eixos norteadores de criação do Complexo da Pampulha, a Cidade Universitária e posteriormente a Cidade Industrial.


Bonde em trânsito na Rua São Paulo.
Fonte: APCBH/ASCOM


Bonde na Avenida Cristovão Colombo.
Fonte: APCBH/ASCOM


Trólebus em circulação na Praça Raul Soares em 1952.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Américo Renne Giannetti, 1952.


Bonde fechado em trânsito na Avenida Carandaí.
Fonte: William Janssen/The Tramways of Brazil.


Bonde na Rua Campos Sales.
Fonte: William Janssen/The Tramways of Brazil.

   Em 1950 Belo Horizonte já se destacava no cenário nacional como uma dos mais importantes centros urbanos do país, mas ainda apresentava problemas de infra estrutura datados do inicio do Século, no que diz respeito ao abastecimento de água e de energia.
   A criação da CEMIG em 1952 impulsionou o crescimento industrial, limitado até o inicio da década de 50 devido à pequena demanda energética, motivo que desde o inicio do Século atrasava o desenvolvimento industrial da capital. A Cidade Industrial, incorporada a Contagem em 1953 se consolidou nessa década, recebendo mais indústrias e criando vilas operarias para facilitar o deslocamento para as indústrias. Com energia elétrica abundante e sendo servido exclusivamente pelo Manancial da Catarina, construído exclusivamente para atender a sua demanda hídrica a Cidade Industrial do Ferrugem caminhava a passos largos.
   Deve-se entender que o acentuado crescimento urbano que se verificou a partir de 1950 está estritamente ligado ao desenvolvimento industrial. Os anos 50 podem ser considerados de fato como a década da industrialização no Estado. Esse desenvolvimento da Cidade Industrial deu-se por três motivos cruciais: ao abastecimento de água, proveniente do manancial da Catarina, a regularização do fornecimento de energia, com a criação da CEMIG e com a abertura das rodovias ligando Belo Horizonte ao Rio de Janeiro e a São Paulo, principais mercados consumidores do Brasil. A construção das rodovias beneficiou enormemente a capital e a partir da construção de Brasília Belo Horizonte ficou a meio caminho dela e passagem obrigatória de quem vinha do Rio de Janeiro.


A Cidade Industrial nos seus primeiros anos vista desde a atual Avenida Eugênio Pacelli.
Fonte: APCBH/ASCOM


Companhia Cimenteira Itaú e a Vila dos Operários (Vila Itaú).
Fonte: APCBH/ASCOM


A Rodovia BR-3 recém aberta nas proximidades de Belo Horizonte.
Fonte: Acervo IBGE

   Se o problema energético se encontrava resolvido, já com o abastecimento de água não era bem assim. Desde os primeiros anos da nova capital o abastecimento de água era deficitário em relação à demanda populacional e ao longo das décadas esse déficit só aumentou, mesmo com a captação sendo estendida para os mananciais do Mutuca no final dos anos 40 e dos Fechos em 1953, além dos córregos cujas nascentes se localizam nas vertentes da Serra do Rola Moça.
   Na década de 50 o problema se agravou ainda mais, a ponto de faltar água na região central da capital em alguns horários do dia. Em muitas vilas mais distantes e nas favelas o abastecimento regular de água ainda era um sonho distante. Visando reverter esse caótico quadro a Municipalidade resolve adotar ao longo da década de 50 uma série de medidas visando normalizar o abastecimento.

   Os cursos d’água começavam a apresentar os resultados do crescimento desenfreado de Belo horizonte. Os emissários de esgotos existentes haviam sido projetados dentro do contexto do período em que foram construídos, ou seja, uma cidade com residências de poucos andares, com uma população que crescia em ritmo lento, dentro de todo o contexto social e urbano da época.
   A partir dos anos 50 o problema dos lançamentos dos esgotos in natura nos cursos d’água se agravou, devido principalmente a incapacidade dos emissários de receberem tantos resíduos, na sua maioria domésticos. Nesse período o Poder Público nada fez para ao menos resolver em parte esse problema, limitando-se apenas a executar obras de pequeno porte nas redes já existentes. E os cursos d’água, em particular o ribeirão Arrudas foram entrando em rota de colisão com a sociedade, que passou então a enxerga-los como um “problema”. Problema esse que seria “resolvido” nas décadas seguintes. Data desse período o saneamento do Parque Municipal, cujas águas poluídas do Córrego do Acaba Mundo desaguava nos lagos, tornando-os insalubres devido aos esgotos e detritos trazidos pelas águas.


Construção do Reservatório do Morro Redondo na segunda metade dos anos 50.
Fonte: APCBH/ASCOM


Construção do mesmo reservatório, ao fundo, em primeiro plano a área onde se construiu a Barragem Santa Lúcia e os bairros Santo Antônio e Luxemburgo.
Fonte: APCBH/ASCOM


Obras do Reservatório em 1958.
Fonte: APCBH/ASCOM


Inicio das obras da Estação de Tratamento de Água do Morro Redondo. Ao fundo as áreas ocupadas atualmente pelos bairros São Bento, Luxemburgo e Avenida Raja Gabaglia.
Fonte: APCBH/ASCOM


Ribeirão Arrudas nos anos 50 no Barro Preto.
Fonte: APCBH/ASCOM


Canalização do Córrego do Acaba Mundo no Parque Municipal.
Fonte: APCBH/ASCOM


Preparação do solo para a canalização e desvio do mesmo córrego.
Fonte: APCBH/ASCOM

   A especulação imobiliária nessa década cresceu significativamente. Ela foi na verdade um prefácio dos anos 60, década em que inicia de fato a derrubada em massa de grande parte das primeiras construções da capital¹¹.
Esse adensamento da área central foi motivo de criticas em vários segmentos da sociedade, que não via com bons olhos a construção de edifícios de uso residencial em uma área que deveria ser exclusivamente de comércio e de serviços, funções que a região central passou a exercer de fato no final dos anos 20. Mas como o regulamento de construções feito alguns anos antes pelo Poder Municipal permitia a verticalização apenas na área central e restrito ao resto da zona urbana e adjacências, era natural que ai se instalasse os grandes condomínios residenciais que ainda existem alternados com o comercio e serviços. Uma verdadeira miscelânea de funcionalidades, como escreveu Sylvio de Vasconcelos em 1956:

“Edifícios de apartamento não é comercio. É habitação, residência, e, portanto, tais obras, devem ser construídas em zona residencial e não comercial. Por um lapso do atual regulamento de construções da municipalidade (que, parece, não os previa) ficaram enquadrados no centro da cidade, sujeitos as mesmas determinações e regalias dos edifícios para fins exclusivamente comerciais”. 

 Certamente o Regulamento de Construções da Prefeitura foi elaborado para permitir a ocupação residencial na região central. O concreto armado permitiu a verticalização e o adensamento da área central a partir da década de 30. E como o regulamento restringia a construção de edifícios acima de três pavimentos na região central era natural que o regulamento apresentasse uma brecha para a construção de edifícios exclusivamente residenciais. Os construtores, que nessa altura já faziam pressão para o aumento da área permitida para a verticalização acumulariam mais capital e a Municipalidade, por sua vez arrecadaria mais impostos, ou seja, um excelente negócio para todos. Em contrapartida a qualidade de vida da população se deteriorou em poucos anos, ao mesmo tempo em que o comércio na região central entrava em uma lenta decadência, como se verá nas décadas seguintes.
  A especulação se espalhou por toda a capital, principalmente na área central. Os grandes edifícios residenciais tiveram a sua construção iniciada nessa década. Podemos destacar o Condomínio Solar, construído em 1955 e o Conjunto Archangelo Maletta, construído em 1957 como exemplos. Alguns edifícios exclusivamente comerciais também merecem destaque, tais como os edifícios do antigo Banco Mineiro da Produção, construído em 1954 e o edifício Clemente Faria, sede do Banco da Lavoura, inaugurado em 1950, ambos localizados na Praça Sete.
   Outro edifício que não pode deixar de ser citado é o edifício Niemeyer, construído na Praça da Liberdade em 1954, no local onde existiu uma pequena residência construída nos primeiros anos da capital e o Colégio Estadual Central, construído na área ocupada anteriormente pelo Regimento de Cavalaria, transferida para o Prado Mineiro. Foi nessa década que se iniciou a construção do Conjunto JK, nos terrenos doados pelo então Governador Juscelino Kubitschek e pertencentes ao Governo. Projetados pelo Arquiteto Oscar Niemeyer para ser um espaço multifuncional as obras do Conjunto se arrastaram por mais de uma década, sendo entregue para uso residencial apenas no final dos anos 60. Os edifícios alteraram toda a paisagem da região central da capital, se destacando no espaço urbano belorizontino até os dias atuais.

Área central de Belo Horizonte nos anos 50.
Fonte: Acervo IBGE


Praça Raul Soares nos anos 50, onde se vê logo acima os quarteirões onde se construiu o Conjunto JK. Fonte: BH Nostalgia

  Durante toda a década de 50 Belo Horizonte teve o lançamento de 22 novos loteamentos¹². Em comparação com a década anterior verifica-se que houve um decréscimo em relação aos anos 40, mesmo que muitos loteamentos já ocupados foram aprovados nessa década.
   A primeira parte da década de 50 se destaca devido à grande aprovação de loteamentos, motivados pelo crescimento da Cidade Industrial. Foram aprovados 106 loteamentos num total de 79.000 lotes espalhados pela capital. Esse vertiginoso crescimento imobiliário é uma conseqüência da pressão exercida pelos construtores no Poder Municipal daquele período. Deve-se entender que a classe era um dos alicerces das campanhas eleitorais dos prefeitos após o Estado Novo que, ao serem eleitos atendia prontamente as demandas dos grupos aliados.
   Na segunda metade houve um desaquecimento imobiliário motivado pela construção de Brasília, os fluxos migratórios se converteram para lá ate o inicio dos anos 60.


Região central de Belo Horizonte na década de 50.
Fonte: APM


Edifícios do antigo Banco Mineiro da Produção e Clemente Faria, localizados na Praça Sete.
Fonte: Foto do Autor


Conjuntos Residenciais Solar e IAPB, e a esquerda o Conjunto Archangelo Maletta, edificado no local onde existia anteriormente o Grande Hotel, demolido para a sua construção.
Fonte: Foto do Autor


Edifício Niemeyer na Praça da Liberdade.
Fonte: Rodrigo Eyer Cabral


Edifício Panorama, construído em 1959 na Praça ABC.
Fonte: Foto do Autor


Vista do Edifício Clemente Faria nos anos 50.
Fonte: Acervo IBGE


Colégio Estadual Central nos anos 50.
Fonte: APCBH/ASCOM


Construção do Conjunto JK na segunda metade da década de 50.
Fonte: APCBH Coleção José Góes

     O primeiro Plano diretor de Belo Horizonte foi criado em Setembro de 1951 com o objetivo de regular, orientar e organizar o crescimento da capital. Para a sua elaboração foram convidados o urbanista Francisco Prestes Maia, o arquiteto Oscar Niemeyer e o paisagista Burle Max.
   Na primeira metade da década o vertiginoso crescimento urbano dos últimos anos da década de 40 já gerava preocupações por parte da administração municipal, que com os recursos reduzidos via se obrigada a diminuir as obras decorrentes desse crescimento, fato que gerou muita discussão ao longo da década.
   Definitivamente já havia consciência que a capital influenciava o crescimento dos municípios vizinhos, um centro de atração, um embrião da região metropolitana.


Alargamento da Avenida Getúlio Vargas no cruzamento da Avenida do Contorno.
Fonte: APCBH/ASCOM


Cidade Jardim e Avenida do Contorno. Ao fundo a Favela do Querosene.
Fonte: APCBH/ASCOM


Ponte sobre o Córrego da Serra na Rua Monte Alegre.
Fonte: APCBH/ASCOM


Palácio Hotel no local que abrigou o Congresso quando da inauguração da capital no cruzamento da Rua da Bahia e Avenida Afonso Pena.
Fonte: APM

      Para agravar ainda mais o problema os recursos se tornavam cada vez mais escassos devido a política de repasse dos recursos do governo federal, talvez um reflexo da construção da nova capital federal que obrigava o governo federal a direcionar todo e qualquer tipo de investimento para o Planalto Central. Como a capital havia conquistado a autonomia plena na década anterior em relação ao Estado, a verba antes destinada a manutenção da capital foi cortada¹³. Daí que se acentua a desigualdade entre o aumento populacional e os investimentos na infra-estrutura urbana para dar suporte a esse crescimento, fato que se agravou nas décadas seguintes em todos os setores.


Avenida Nossa Senhora de Fátima no final da década de 50.
Fonte: APCBH/ASCOM


Veículos adquiridos pela Prefeitura na década de 50.
Fonte: APCBH/ASCOM


Avenida Afonso Pena após a poda das árvores na década de 50.
Fonte: APM


Avenida do Contorno nas proximidades do Hospital Militar. Ao fundo as Torres da Igreja de Santa Teresa em construção.
Fonte: APCBH/ASCOM

   A região da Pampulha começava a se adensar, devido principalmente a abertura da Avenida Antonio Carlos que acelerou a expansão para o norte da capital. No entorno da Represa foram surgindo residências modernistas, construídas pelas classes mais abastadas que começavam a deixar a região central. Ao mesmo tempo iam surgindo novos bairros ao longo da Antonio Carlos, habitado em grande parte pela classe media e pelo contingente que vinha do interior. É bom lembrar que os fluxos migratórios foram constantes a partir da década de 20, alternando ao longo das décadas grandes fluxos e alguns decréscimos no movimento migratório.
   Voltando a Pampulha: em 1954 foi constatada que a barragem apresentava rachaduras e o acesso a ela foi impedido em caráter de emergência. Para piorar as comportas existentes estavam emperradas e houve uma tentativa de se abrir um canal, conforme sugerido por engenheiros da Mannesmann que foram chamados as pressas. Em 1954 a Barragem rompeu devido ao subdimensionamento na época da sua construção. A nova barragem foi construída somente em 1958, com o dobro de largura da anterior. Quando do rompimento da barragem as áreas situadas mais abaixo na região do Matadouro ficaram completamente alagadas.


Barragem da Pampulha no momento do seu rompimento em 1954.
Fonte: Desconhecida.

Incêndio da antiga sede da Câmara dos Vereadores em 1959, no cruzamento das Avenidas Augusto de Lima e Alvares Cabral, abaixo do Edifício do Conselho Deliberativo. O edifício existiu no local onde se construiu posteriormente a sede do Prevminas.
Fonte: Desconhecida

As Favelas da Capital

   A questão das favelas em Belo Horizonte era antiga. Desde a construção da capital já existiam favelas dentro da zona urbana planejada. Elas abrigaram desde o inicio os operários que trabalhavam na construção da nova capital e a população de baixa renda, a sua maioria expulsa do arraial de Belo Horizonte, antigo Curral Del Rey. As duas Favelas mais citadas pelos autores nesse período são o Alto da Estação, que se localizava na Rua Sapucaí e a Favela do Leitão, que existiu ao longo do Córrego nas proximidades dos bairros de Lourdes e Barro Preto. As duas Favelas foram removidas pelo governo em 1902 e os seus habitantes se assentaram na área atualmente ocupada pela Praça Raul Soares e na região do Santo Agostinho, além da criação de uma Vila Operária no Barro Preto pelo Poder Público. 
   Ao longo das décadas as favelas foram sendo removidas da zona urbana e gradativamente empurradas para a suburbana. Porem os moradores após a remoção se assentava nas proximidades do antigo núcleo, e a favela voltava a existir. Nessa época não existia uma política efetiva de reassentamento, a população era simplesmente removida do local e obrigada a procurar outro local para morar, geralmente em áreas mais afastadas do centro de Belo Horizonte.
   A partir de 1930 as Favelas foram surgindo com uma maior intensidade na capital, sendo compostas na sua maioria pela população originaria do interior, atraídas pelo crescimento econômico da capital.
   Somente nos anos 40 é que se extinguiu um dos últimos aglomerados dentro do perímetro da Avenida do Contorno motivados pelo capital imobiliário, a Favela da Barroca, ao mesmo tempo em que outras iam aparecendo, motivadas pelo crescimento urbano e econômico da capital, empurradas para cada vez mais longe da região central e liberando as áreas pleiteadas pelo capital para serem ocupadas pelas camadas mais abastadas. Nesse contexto a Pedreira Prado Lopes se destacou das demais favelas surgidas no período. Surgida em 1920 nos terrenos da antiga Pedreira da Viação ela foi removida no inicio dos anos 40 com a abertura da Avenida Pedro Lessa. Porém, em 1946 os terrenos da antiga favela voltaram a ser ocupados, permanecendo assim até os dias atuais.
   Na década de 50 existiam cerca de 60 Favelas no município de Belo Horizonte, sendo que a maioria se localizava na Zona Suburbana empurradas para às margens dos rios, então áreas marginalizadas pelo capital e pela população, ocasionadas pela pressão urbana, exceção à Favela Universidade que ocupava os terrenos destinados ao Campus Universitário no bairro Santo Agostinho. Com o constante aumento populacional da capital as Favelas iam surgindo na mesma intensidade em que surgiam as vilas, porém careciam de qualquer equipamento urbano e grande parte da população favelada viviam em condições sub-humanas. O Poder Público Municipal começa a tratar a favelização como uma questão social e cria em 1955 o Departamento de Bairros Populares, órgão que se tornou responsável pela questão. Uma das principais diretrizes do órgão era remover a população somente se ela pudesse ser reassentada em bairros populares. Infelizmente essa medida não foi adotada e o velho sistema de remoção continuou a ser adotado nas décadas seguintes, sendo incrementado até pelo corte do fornecimento de água e luz para a favela que estava em vias de ser removida, uma medida absurda para acelerar a remoção da população²¹. Pode citar como exemplo desse antigo sistema de remoção a Favela da Barroca, no Santo Agostinho. Após a expulsão dos moradores nos anos 40 eles passaram a ocupar uma parte da vertente do Córrego do Leitão na Cidade Jardim, formando o Morro do Querosene já na Zona Suburbana²².


Favela do Pau Comeu no bairro São Lucas.
Fonte: APCBH/ASCOM


Favela do Perrela em formação.
Fonte: APCBH/ASCOM


Favela do Pombal no bairro Serra. Ao fundo a Serra do Curral ainda intacta.
Fonte: APCBH/ASCOM


Buraco do Peru no bairro Carlos Prates.
Fonte: APCBH/ASCOM


Placa em agradecimento ao DBP na Vila São Vicente.
Fonte: APCBH/ASCOM


Caminhão Pipa do Departamento de Bairros Populares fornecendo água para as Comunidades.
Fonte: APCBH/ASCOM

   Belo Horizonte se consolidou nessa década como o principal centro de atração migratório do Estado, o que se traduz nos números demográficos. No final da década a população da capital havia crescido em quase 100%, atingindo a marca de 693.000 habitantes no final de 1959. O êxodo rural, marca das migrações internas, a procura por serviços especializados, encontrados somente nos grandes centros urbanos e a procura pela melhoria de vida foram os principais fatores para tamanho crescimento. A conurbação em direção a Contagem (eixo oeste) e a Venda Nova (eixo norte) era um fato concreto já no final dos anos 50. Era a materialização da Metrópole, um fenômeno que aconteceu nas principais capitais brasileiras entre as décadas de 40 e 70 e que culminou com a criação das regiões metropolitanas. No caso de Belo Horizonte, cidade planejada e racional nos moldes positivistas a metropolização implantou a desordem e o caos, ainda que houvesse diversas tentativas por parte do Poder Municipal para tentar conter e ordenar o crescimento.
  A disparidade entre os equipamentos urbanos necessários para a manutenção da cidade e o seu crescimento era visível e a falta de maiores investimentos por parte do Poder Público agravou ainda mais o problema, que perdurou por grande parte da década seguinte, quando a capital, que crescia sem nenhuma ordenação e em ritmo constante esteve à beira de um colapso, no que diz respeito aos serviços públicos e a infra estrutura urbana.


Vista da região centro-sul de Belo Horizonte em 1960.
Fonte: BH Nostalgia


¹ A Epopéia do Transporte Público de Belo Horizonte é sem dúvida um capitulo a parte na história da capital e será abordado em artigos posteriores.

¹¹ Devo lembrar que Belo Horizonte sempre foi uma cidade em constante obra. É na verdade a contradição de todo o planejamento urbano: da cidade pensada, planejada e organizada ao crescimento desordenado que ocorreu a partir dessa década. Na verdade, desde os anos 20 Belo Horizonte é uma cidade de demolições e construções intermináveis.

¹² Plambel, O Processo de desenvolvimento de Belo Horizonte, 1897-1970.

¹³ Entre 1897 e 1946 o Governo do Estado era responsável pela nomeação dos Prefeitos de Belo Horizonte. Em contrapartida, o Estado dispunha uma verba para ser utilizada na infra-estrutura urbana da capital. Essa intervenção foi necessária nas primeiras décadas pois Belo Horizonte, inaugurada as pressas não dispunha de recursos para ter autonomia em relação ao Estado.

²¹ Não há a mínima necessidade de se comentar uma coisa dessas...

²² Muitos dos antigos moradores da Favela da Barroca formaram posteriormente a Vila dos Marmiteiros que foi durante muito tempo a maior Favela do Município de Belo Horizonte. Desse aglomerado existem atualmente pequenos núcleos ao longo da Avenida Tereza Cristina.

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis