Perspectiva à montante do córrego do Acaba Mundo na Rua Bernardo Guimarães, entre os anos de 1924/1925. Ao fundo a Avenida Afonso Pena em meia pista. Acervo MHAB
A imagem acima registra a
interessante perspectiva à montante do córrego do Acaba Mundo no bairro
Funcionários, nos anos de 1924/1925. Já a imagem abaixo registra o curso d’água
a jusante, ambas feitas na Rua Bernardo Guimaraes entre a Avenida Afonso Pena e
Rua Paraíba. O Acaba Mundo, como se lê na citação abaixo, retirada do relatório
do prefeito Bernardo Monteiro, era motivo de preocupação do poder público desde
a inauguração da capital, ocorrida no ano de 1897, uma vez que o seu leito
natural atravessava uma importante e valiosa porção da zona urbana planejada.
“Resta por concluir-se o canal
destinado à mudança do leito do Acaba Mundo, que parte da Rua Grão Mogol
suburbana e vai ao Parque. Essa obra, aliás necessária, foi iniciada pela
antiga Comissão Construtora e está parada desde 1897, e dela não poderá cogitar
tão cedo” (BELO HORIZONTE, 1900, p.31).
As obras de retificação e
canalização do curso d’água, paralisadas entre os anos de 1897 e 1924 só foram
retomadas no ano de 1925, pouco antes dos registros fotográficos, raros por
sinal, do curso d’água em leito natural. Na imagem à jusante é possível
observar um imóvel eclético ainda existente no cruzamento da Rua Pernambuco e
Avenida Brasil.
É importante compreender que ambas as fotografias, atualmente com um alto valor histórico e essencial para o pesquisador que vos escreve, certamente foram feitas com a finalidade de mostrar o “problema” gerado por um curso d’água que ainda se encontrava em leito natural, onde é claramente visível que tanto a Rua Bernardo Guimarães quanto a Avenida Afonso Pena se encontravam interrompidas pelo meandro que impossibilitava a ligação direta entre as duas vias.
Como se vê na primeira imagem, nesse
trecho existia apenas uma ponte de madeira sobre o córrego, diferentemente de
outros locais onde a prefeitura, perante o adensamento do então principal bairro
da zona urbana planejada, construiu algumas pontes de alvenaria de pedra,
destacando-se as pontes da Rua Santa Rita Durão (ainda existente, porém
soterrada) e a ponte da rua Pernambuco, ambas sobre o leito natural do Acaba
Mundo.
Na imagem abaixo, identificada
pelo autor no ano de 2016 e feita devido ao abatimento do canal construído às
pressas (para a administração municipal, era de grande importância a comercialização dos lotes atravessados pelo curso d'água) é possível ver a ponte da Rua Pernambuco sobre o córrego do Acaba
Mundo e a canalização tosca empreendida em 1926/1927. Na imagem é possível ainda
visualizar a placa com a data da construção da ponte (1909) e as iniciais do
prefeito Benjamim Brandão e do diretor de obras José Nogueira de Sá. Certamente
muitas das belas pontes do bairro Funcionários ainda existem, enterradas sob o
concreto e o asfalto das vias.
Na porção do bairro atravessado
pelo córrego do Acaba Mundo ainda deve existir cerca de quatro a cinco pontes
similares, onde se pode destacar ainda a ponte do cruzamento da Avenida Getúlio
Vargas e Rio Grande do Norte e a ponte da Rua Cláudio Manoel, todas sobre o referido
curso d’água. Nesse contexto, é importante observar que as pontes foram construídas
em caráter emergencial, uma vez que já estava prevista o desvio das águas do
Acaba Mundo para a Rua Professor Morais e Avenida Afonso Pena, obra executada
entre os anos de 1925 e 1929. O leito natural foi convertido em dreno pluvial, passando a ser responsável
pela coleta das águas de uma porção da vertente oeste do Acaba Mundo (bairro
Funcionários).
Fontes: BORSAGLI, Alessandro.
Rios invisíveis da metrópole mineira, Clube de Autores, 2016.
BORSAGLI, Alessandro. Rios
urbanos de Belo Horizonte. Clube de Autores, 2020.