Abertura da Avenida do Contorno em 1930, no local atualmente ocupados pelos bairros da Cidade Jardim e Santo Agostinho. À esquerda a colina ocupada atualmente pela Avenida Raja Gabaglia e a direita a porção ocupado pelo antigo prédio da Faculdade de Farmácia da UFMG.
Fonte: Acervo MHAB

Entre 1897 e 1920 a nova capital de Minas apresentou um pequeno crescimento populacional na zona urbana compreendida dentro da Avenida do Contorno, projetada para delimitar a zona urbana racionalmente planejada da zona suburbana, destinada à população de menor poder aquisitivo e que apresentava ruas e quarteirões irregulares, com lotes mais acessíveis a crescente população da capital, onde a especulação imobiliária, incentivada pelo governo do estado já atuava na zona planejada desde a sua construção.
        A urbanização da zona planejada nesse período estava restrita a uma porção de terras dentro da Avenida do Contorno, cuja ocupação se limitava a região central, e a parte dos bairros Floresta e Funcionários, de acordo com o planejamento feito pela Comissão Construtora em 1896.
Discutido em diversas publicações do blog – recomendo a leitura do artigo “Os anos 1920 e o inicio da remodelação do espaço urbano de Belo Horizonte” somente na década de 1920 a capital mineira voltaria a apresentar um significativo crescimento econômico e populacional, obrigando o Poder Público a aumentar os investimentos em diversos setores. No inicio da década a capital ainda era um canteiro de obras segundo o Engenheiro João Gomes em seu relatório do ano de 1920:

Bello Horizonte é e ainda será por muito tempo uma cidade em construcção e, assim, precisa de recursos mais avultados para que possam ser atacados vários serviços de urgência, todos tendentes ao desenvolvimento da cidade, como a construcção de galeria de esgotos, a ampliação da rede de água, a construcção de mais reservatórios, abertura de novas ruas, calçamento e retificação e canalização de córregos em vários pontos”.

Nesse contexto, a Avenida do Contorno havia sido aberta somente no trecho delimitado pela CCNC para a ocupação dos primeiros 30.000 habitantes da nova capital, ou seja, fragmentada entre os vales dos cursos d’água onde a zona planejada havia sido assentada pela Comissão.
Em 1926 assume a Presidência do Estado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que então nomeia Christiano Monteiro Machado para administrar a capital. Essa manobra política tinha finalidades especificas: o governador era o potencial candidato para assumir a Presidência da Republica em 1930, visto que Minas Gerais e São Paulo estavam se alternando no controle do Brasil desde o final do Século XIX. Antônio Carlos viu em Belo Horizonte a oportunidade que precisava para se promover, e para isso não poupou esforços nem capital para continuar a expansão e melhoria dos equipamentos e serviços públicos necessários para dar suporte a tal crescimento.

Abertura da Avenida do Contorno na década de 1920 entre os bairros da Barroca e o Prado. Detalhe para as cafuas que pertenciam ao bairro operário e ao fundo a antiga fábrica de Tecidos e Malhas na Rua Erê, ocupado atualmente por uma instituição de ensino. À direita o local onde se construiu o Hospital Mater Dei.
Fonte: Acervo FGV

A intervenção do Estado na administração da capital no período 1926/1930 foi direta sendo que o Estado, com capital próprio e dos empréstimos obtidos junto ao Governo Federal encampou os serviços de transporte publico que careciam de mais carros e de investimentos na expansão das linhas do Bonde para os bairros da zona suburbana. A pavimentação e a abertura de ruas e avenidas nas zonas urbana e suburbana seria continua na segunda metade da década de 20, onde a conclusão da Avenida do Contorno seria de suma importância para a conclusão da zona planejada.

Abertura da Rua Uberaba, se destacando na paisagem os testemunhos da terraplanagem em andamento, o prédio do Casa de Correção e as cafuas da Favela da Barroca.
Fonte: Acervo FGV 

As raras imagens publicadas aqui apresenta uma porção da zona planejada ocupada por cafuas de operários, deslocados para a região do Barro Preto em 1902 após a extinção das Favelas do Leitão e Alto da Estação e ignoradas por todas as plantas confeccionadas no período. Um registro importante de um período de Belo Horizonte, que então passava pela sua primeira grande remodelação (ou construção?) urbana, onde as vilas operarias seriam extintas dentro da zona planejada, sendo ao longo das décadas seguintes realocadas para locais cada vez mais distantes da zona compreendida dentro da Avenida do Contorno.

Abertura da Avenida do Contorno no Barro Preto, nas proximidades da Avenida Augusto de Lima. Observem a movimentação de terra realizada no local, na ocasião da abertura da via. Ao fundo parte dos bairros Carlos Prates e Bonfim.
Fonte: Acervo FGV

Cruzamento da Avenida do Contorno e Rua Uberaba.
Fonte: Acervo FGV

Parte da região da Barroca na planta do ano de 1930, em destaque o prédio da Casa de Correção.
Fonte: Acervo MHAB


* Recomento também a leitura do artigo "O Embrião Metropolitano: O Poder Público e a Produção do Espaço em Belo Horizonte na década de 1920" publicado no ano de 2012.

Um comentário:

  1. A primeira foto remete à av. do Contorno ao longo do bairro cidade jardim. O trecho desta avenida que vai da esquina das ruas Joaquim Murtinho / Rio de Janeiro até a Ouro Preto / Av. André Cavalcanti foi o último a ser aberto, ocorrido na gestão do prefeito Juscelino Kubitschek em 1941/42. O trecho representado na segunda foto, Av. do Contorno a partir da r. Ouro Preto até r. Rodrigues Caldas, terceira foto, av. do Contorno abaixo do Col. Pio XII até ao atual Hosp. Mater Dei, quarta foto, mesmo logradouro no trecho formado pelo Col Monte Calvário, hosp. Felício Rocho mostrando ao fundo o já então existente prédio do Inst. São Rafael, foi aberto na década de 1930. De fato muitos dos primeiros moradores das primeiras favelas e até do extinto Curral Del Rey eram deslocados para "um pouco mais adiante". Interessante comprovar que áreas nobres como os bairros Gutierrez e Sto. Agostinho (foto 2) possuiam casas humildes. Fotos inéditas. Parabéns pelo seu trabalho de "garimpar" novas imagens e informações.

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