Vila Arthur de Sá.
Foto do Autor

          Apesar desse conturbado contexto, por sinal histórico, no qual nos encontramos, o Autor deste blog acredita que muitos dos leitores já ouviram falar da “imprescindível” Via 710, obra considerada essencial para proporcionar a ligação direta entre as Avenidas Bernardo Vasconcelos e Andradas desde a Avenida Cristiano Machado, evitando assim uma suposta obrigatoriedade de se passar pela área central da capital. A via segue o traçado do antigo ramal férreo do Horto Florestal/Matadouro, no trecho compreendido entre os bairros São Geraldo e União. A obra, apresentada no Programa de Estruturação Viária de Belo Horizonte (Viurbs) no ano de 2008 foi incluída nas faraônicas e inúteis obras para a Copa de 2014 e obviamente não concluída a tempo do maior espetáculo da Terra.

     A administração municipal vem empreendendo desapropriações e demolições desde o ano de 2013, ano em que o Curral del Rey começou a acompanhar a execução das obras, ao mesmo tempo em que pesquisava sobre o Ramal férreo do Matadouro, artigo postado em setembro de2014.

     Durante todo esse tempo foram e continuam sendo realizadas diversas visitas a campo para acompanhar o andamento das obras e coleta de dados com os moradores da região, em particular o bairro União e a Vila Arthur de Sá, edificada sobre a linha do ramal férreo anos após a supressão do percurso no ano de 1969. Nesse mesmo período foram publicadas na imprensa diversas matérias sobre a questão das desapropriações, muitas delas sem necessidade alguma e ainda a questão da usurpação por parte da administração municipal dos antigos terrenos da Estrada de Ferro Central do Brasil (RFFSA) pertencentes à União, ocupados pela Vila.

     Felizmente e incrivelmente, visto a inacessibilidade a grande maioria dos projetos das obras realizadas na capital, coisa que foi naturalmente constatada ao se escrever o livro Rios Invisíveis da Metrópole Mineira, onde não se conseguiu ter acesso a projetos viários/canalizações de quase meio século, o projeto se encontra disponível para download no portal “Copa Transparente”. Ao mesmo tempo em que se estudava o projeto, o autor se deparou com a denúncia de uma “higienização” em andamento na Vila Arthur de Sá, a partir da retirada dos moradores de uma porção da Vila sem necessidade alguma, pois a via passará limítrofe as terras ocupadas/invadidas desde a desativação do ramal ferroviário sob conivência do Governo Federal (isso há mais de trinta anos). Tudo isso está nas inúmeras reportagens da mídia e nos links do MPF no final do artigo.

Imagem aérea do ano de 1953 referente ao extinto ramal e correspondente
ao traçado da Via 710, que acompanhará o trajeto férreo.
Fonte: APCBH gabinete do prefeito

     Ao que tudo indica, visto a inexistência (ou inacessibilidade) aos documentos, todo o leito propriamente dito do extinto ramal não foi cedido ao município, apenas algumas partes e os terrenos que se encontram abaixo da Vila e próximos a linha do Metrô, levando ao questionamento de quem realmente é o invasor do terreno, os moradores, assentados ali sob a benevolência federal, ou a administração municipal, que corre contra o tempo para lotear, proporcionar para a iniciativa privada a maior quantidade de terrenos possível[1] e transformar em lei projetos bizarros que beneficiarão apenas os políticos e os detentores privados do capital. E o pior de tudo isso é que uma parte considerável de tais desapropriações não se encontra no caminho da via em construção e nem das vias marginais, o que causará o surgimento de grandes e lucrativos vazios urbanos, como os existentes na Lagoinha, ainda que temporariamente, nesse caso.

     Usurpações à parte, apesar das denúncias e das recomendações do MPF para que se evitem remoções desnecessárias, esse fato inclusive foi constatado pelo próprio Ministério no ano de 2015, tudo vem acontecendo dentro do previsto pela PBH, as remoções maciças continuam sendo realizadas, sob alegação que a área (federal) foi invadida, sendo realizadas pequenas indenizações, de acordo com os moradores. Invadida há cerca de trinta anos, ou seja, há pelo menos uma geração. 
E onde serão reassentados os moradores? Possivelmente em locais bem distantes da via, pois ali não é mais o lugar deles de acordo com as normas higienistas. Ao longo de todo esse impasse, existem relatos no qual diversas famílias foram obrigadas a mudar às pressas dos terrenos federais, ameaçadas de se tornarem escombros, assim como os seus bens domésticos. Arbitrariedades similares são cometidas por estas bandas desde as primeiras décadas da capital e na última ditadura, quando o instrumento repressor estadual dava suporte às “pacificas” remoções no município.
     
      Ao se lançar os olhos nas distintas imagens relacionadas ao projeto da via nota-se que uma parte das remoções da Vila estão realmente sendo feitas sem a menor necessidade, visto que uma considerável porção da via passará na porção compreendida entre as casas em processo de remoção e a linha do metrô, em área onde a remoção já se encontra praticamente concluída.

A Via 710, quando da divulgação do Viurbs no ano de 2008.
Fonte: Viurbs/PBH

Parte da Via correspondente a Vila Arthur de Sá, extraído de 
uma audiência pública no ano de 2012.
Fonte: PBH

Sobreposição do referido trecho, imagens dos anos de 1953 e 2011.

Sobreposição aproximada de um trecho da Rua Arthur de Sá.
Fontes: Google Earth e portal Copa Transparente

Outra porção de um trecho correspondente ao bairro 
União, trecho que já se encontra arrasado.
Fontes: Google Earth e portal Copa Transparente

      Diante de todo esse contexto, pode se concluir que as remoções certamente atenderão os interesses fundiários, visto a valorização das terras da região nos últimos anos a partir do anúncio do inicio das obras do “corta caminho” por uma administração que será reconhecida no futuro como a responsável pelo reemprego de métodos retrógrados e pela “venda” da cidade, submissa aos interesses do capital privado. 

Em suma: Belo Horizonte se tornou uma Cidade-Empresa onde nada é pensado para os seus habitantes e sim como plataforma politica e para obtenção de lucro (o que não é novidade), mesmo que isso acarrete na piora na qualidade de vida dos citadinos que, em muitos casos, aplaudem as eternas obras e as remoções, sem levar em conta as consequências de tais atos e sem compreenderem o grau de alienação em que se encontram, achando que isso tudo é normal. Basta ler os comentários dos distintos cidadãos nas matérias cujos links se encontram no final do artigo, que aconselham a “passar o trator” por cima dos moradores, entre outros absurdos. Isso sem citar as remoções em lugares não invadidos que também estão sendo realizadas para a construção de infraestrutura, tais como viadutos, trevos, vias coletoras etc.

      Mas tudo isso é pouco significativo perto das vidas e historias que serão esmagadas pelo rolo compressor do progresso. Vocês, que estão ai no conforto do seu lar, que batalharam anos, décadas para atingir um grau de conforto material, imaginam de repente serem obrigados a abandonarem os seus lares, recebendo uma quantia que não dá para comprar nem um pequeno lote na região metropolitana, onde terrenos são relativamente mais baratos que na capital, sob a justificativa da abertura de uma via? Pois se o Poder Público/Privado resolver que amanha passará uma larga e confortável Via Expressa sobre o seu imóvel, adeus. Pensem se vale a pena a remoção, muitas delas na base da ameaça, de famílias inteiras apenas para você ganhar alguns minutos em sua vida sobre rodas, isso quando se ganha.

É assustador o grau de individualidade de uma considerável parcela da nossa sociedade, que toma como ofensa pessoal desde uma fechada no trânsito, uma conversa com as instituições educadoras dos filhos e até mesmo decisões politicas de âmbito coletivo, resquícios de uma sociedade colonial que matava sempre pela “defesa da honra”. Antes de vocês me criticarem pelo texto, pensem em seus próprios valores e compreendam que vocês são exatamente iguais aos moradores da Vila pois, como dito anteriormente, se os interesses público-privados resolverem que sobre o seu imóvel deve-se construir uma Via Expressa, você terá que sair do conforto do seu lar e habitar sabe lá onde, longe da sua história, dos seus amigos e da sua vida. Ou vocês acham que serão “beneficiados” pela pseudoposição social ocupada na cidade? Ou por terem tido condições e chances, em alguns casos, de ter acesso à educação, a moradia e outras coisas mais proporcionadas pela sua família se acham no direto de escorraçar quem não teve as mesmas oportunidades? A quem pertence a cidade? 

Em pleno século XXI continuamos a repetir os mesmos erros dos séculos antecedentes, qual o motivo desse retrocesso? Deixo a resposta à cargo de vocês.

Os vazios em meio as sentenciadas moradias na Vila Arthur de Sá. 
Ao centro o antigo leito do ramal, escondido pelas moradias.
Foto do Autor

O exato momento da saída de um morador do bairro em
imagem do ano de 2015. À direita a vila.
Foto do Autor

A remoção quase concluída no trecho correspondente a Via 710. 
À direita uma parte da Vila.
Foto do Autor

Os recados nas paredes do arrasamento, desaparecidas 
pouco tempo após esse registro.
Foto do Autor

     Como dito por um distinto morador da Vila: claro que eles vão nos tirar, eles não querem os pobres por perto desse lugar que vai se valorizar. Tudo isso dito em meio às lembranças do local, do trem elétrico passando na porta de casa na sua infância e de todo o processo de ocupação do leito ferroviário recém-desativado, ao mesmo tempo em que o distinto cavalheiro e sua esposa criavam os filhos, já adultos. Confesso que fiquei emocionado e chorei muito quando me afastei para fazer algumas imagens de toda a paisagem que se encontra prestes a desaparecer. Obviamente uma pesquisa, por mais simples que seja, deve ser realizada da forma mais imparcial possível, mas a partir da arbitrariedade imposta por uma administração que continua a perpetuar métodos e a tomar decisões de cunho elitista e higienista, sob a desculpa rodoviarista de melhoria da mobilidade, medidas que beneficiam apenas o capital feroz e dominador e os interesses de um seleto grupo, não é possível ficar calado diante de tais decisões. Espero que vocês compreendam o que está em andamento na cidade, apesar do conveniente desconhecimento geral, que se encontram preocupados apenas com o destino federal, mas mais uma vez se esquecem do seu quintal, e as eleições estão ai né? E Belo Horizonte não se resume ao seu bairro e a Praça da Liberdade, convido todo mundo a pular a cerca e descobrir o mundo exterior da velha e singular zona suburbana.

      Gostaria de deixar claro que o texto aborda apenas sobre o trecho correspondente ao trecho do bairro União, a Via impactará também regiões dos bairros Santa Inês e São Geraldo, as quais serão posteriormente abordadas. E em todo esse contexto capital-higiênico fica a dúvida: como que se deu a ocupação da porção do ramal no bairro União e ao longo da Avenida Cristiano Machado? Esse trecho encontra-se atualmente ocupado por edifícios residenciais, hotéis e concessionárias, além de edifícios comerciais em construção. Se toda a área referente ao ramal pertence à União, o referido trecho da imagem abaixo foi invasão? Se sim, eles também serão removidos? E claro, com direito a uma pequena indenização?
     
Em destaque o trecho do ramal correspondente a uma outra porção 
do bairro, ocupados por inúmeros edifícios residenciais e comerciais, 
entre outros estabelecimentos.
Fonte: Google Earth 2011

     Publico esse pequeno desabafo acreditando que, em futuro não tão distante, arbitrariedades desse tipo, cometidas desde a inauguração da capital mineira, não se repitam mais, pois o que é do século XX que fique no século XX, precisamos andar para frente e não ficar preso aos erros do passado, pois a cidade é para todos e as leis também. Pensem nisso quando estiverem escolhendo os seus representantes nos próximos meses, pois a cidade está doente e nós somos a cura, e a cura vem através do voto, a infecção continuará se tudo continuar do jeito que está, carcomidos e acomodados em suas cadeiras legislativas e executivas, trabalhando (a maioria) apenas para o bem estar da sua classe. Mudanças são urgentes e necessárias.


Recomendações do Ministério Público Federal

Para a PBH: Link
Para a Urbel: Link
Para a Sudecap: Link
Para a Secretaria de Patrimônio da União: Link


Links de algumas das reportagens publicadas pela mídia e pela PBH

Ministério Público Federal (importante): Link
Estado de Minas: Link 01Link 02
O Tempo: Link 01Link 02
R7: Link
Brasil de Fato: Link




[1] Os terrenos públicos, cristas de serra e a Mata do Planalto que o digam, visto a “luta” do Poder Público em conseguir a qualquer custo a licença para a construção dos edifícios na área, um claro exemplo de uma administração que trabalha em prol do capital privado, dando às costas para a população. No caso do Planalto, mesmo sendo terreno particular, a mata figura como uma das ultimas reservas verdes do município, com inúmeras e imprescindíveis nascentes, e é obrigação do Poder Público zelar pela cidade e pela sua população, que definitivamente não compreende o que é uma democracia representativa e o quão nocivo são os partidos políticos, nefastas organizações que dão às costas para a população e buscam conquistar o poder a qualquer custo. Apesar de toda essa “luta” que ocorre atualmente, uma considerável parcela da população ainda não compreendeu que de nada vai adiantar se não ocorrer uma profunda reforma politica excluído toda a classe que supostamente representa o povo.  
Casa sede da chácara do Comendador Negrão de Lima.
Foto do Autor


     Não é preciso falar da bagagem histórica do bairro urbano/suburbano da Floresta. Inserido na fixa delimitada para a primeira ocupação urbana da nova capital de Minas o bairro, nas três primeiras décadas de Belo Horizonte, em conjunto com os bairros da Lagoinha,Carlos Prates, Prado e Calafate, abrigava mais da metade da população belorizontina, visto os preços módicos dos lotes e a rígida legislação para se estabelecer na rígida zona urbana planejada, um artificio claramente impeditivo e segregador.

    A zona suburbana, apesar do “abandono oficial” por mais de trinta anos, se caracterizava pelos lotes de tamanho considerável e pela larga presença do verde dos quintais frutíferos e das exuberantes matas, algumas ainda presentes e ameaçadas, remanescentes das chácaras adjacentes a “Cidade Oficial” e dos sítios, muitas delas transformadas em pequenos, importantes e ameaçados Parques (o Planalto e o Jardim América que o digam).

    Praticamente desaparecidas, atualmente se vê na VI Seção Suburbana apenas remanescentes do que existiu anterior à voracidade imobiliária¹, que ainda vitima belos exemplares de uma metrópole que ainda respira em parte ares interioranos, como o singular casarão da chácara do Comendador Negrão de Lima, residência do ex-prefeito de Belo Horizonte Octacílio Negrão de Lima (1935/1938 e 1947/1951) e responsável por inúmeras obras realizadas no primeiro surto de canalizações da década de 1920, então exercendo o cargo de chefe da Divisão de Obras.
    
O terreno correspondente à chácara no bairro Floresta em 1928, posteriormente parcelado e fragmentado a partir da abertura de duas pequenas ruas e uma praça.
Fonte: APCBH

     O eclético edifício, cuja varanda se encontra voltada para a região central da capital, ficava quase ao centro do terreno, compreendido entre as Ruas Jacuí, Pouso Alegre, Ponte Nova e Itajubá, como se vê na figura abaixo. É importante ressaltar que o edifício se encontra a apenas quinhentos metros da Praça da Estação, corroborando a insistente ruralidade que marca as primeiras décadas de existência da capital planejada. Posteriormente as terras da chácara foram parceladas, restando atualmente apenas o casarão, um dos únicos remanescentes do período das chácaras suburbanas.

    A sua imponência, apesar de espremido entre as casas da Rua Leonídia Leite e notavelmente abandonado, corrobora a importância da majestosa zona suburbana da capital, guardiã de uma grande quantidade dos belos remanescentes arquitetônicos que outrora existiram na urbe, demolidos à custa de um progresso voraz e questionável. Posteriormente serão publicados sob o mesmo título diversos remanescentes espalhados pelo município, apesar de um estranho incômodo causado em alguns indivíduos que acreditam que algumas das pesquisas relacionadas a esse tema figuram como uma "invasão" em uma área que não diz respeito ao pesquisador. Sem delongas,"transdisciplinar" é preciso.

O edifício em destaque na imagem de satélite.
Fonte: Google Earth

Detalhe da varanda e do estado do singular imóvel.
Foto do Autor

A casa sede, as suas alterações e a varanda, proporcionando uma 
interessante vista para o muro da residencia vizinha.
Foto do Autor


¹ No Facebook existe uma página (Casas de BH) que está trazendo, ou melhor, catalogando as casas reminiscentes de uma cidade em eterna construção. É um trabalho muito bem feito, que expõe toda a riqueza arquitetônica que ainda existe e persiste na capital.
    Parte da bacia do ribeirão da Onça no ano de 1922, em destaque as denominações "da Onça" e "da Izidora" trocadas ao longo do século XX a partir da imposição de uma toponímia machista.
Acervo do Autor

      Já foi explicado em diversos artigos e no livro Rios Invisíveis da MetrópoleMineira o porquê de se trabalhar com a bacia do ribeirão Arrudas, da qual se irradiou todo o processo de desenvolvimento urbano de Belo Horizonte, por ser o sítio escolhido para abrigar a nova capital do Estado, apesar de que, em diversas passagens do livro, se fala das regiões da Onça e da Izidora, pois tudo está conectado apesar das divisas naturais, barreiras artificiais e mesmo mentais, assim como a ideia de cuidar apenas do seu quintal, sem se preocupar com o que acontece com o vizinho, nesse caso a bacia limítrofe e mesmo a própria bacia. Atitudes que só servem para desfragmentar todo o processo da quebra do paradigma das águas urbanas.

Venda Nova e em destaque o córrego do Vilarinho na década de 1940.
Fonte: APCBH

     Pois bem, em termos gerais, a bacia do ribeirão da(o) Onça é a maior bacia do município, abrangendo ainda parte do município de Contagem, superando em cerca de 7km² a bacia do ribeirão Arrudas. O ribeirão recebe essa denominação a partir da confluência do ribeirão Pampulha e o córrego da Cachoeirinha, no local assolado pelos transbordamentos na região do bairro São Gabriel. A Onça recebe ainda o ribeirão da Izidora (Isidora da Costa), seu principal afluente e receptor de uma considerável parcela da água escoada da região de Venda Nova. Exceção feita à região da Venda Nova e de alguns povoados no entorno, a bacia passou a “existir oficialmente” a partir de 1930, com a construção do novo matadouro da capital. A montante do Matadouro Modelo estavam o arraial da Pampulha e aos loteamentos aprovados na região a partir da década de 1920.
       A região, de suma importância politica para o município, de fato passou a receber investimentos vultosos a partir da década de 1970 e os velhos e ultrapassados métodos aplicados erroneamente e eternamente na bacia do Arrudas (não falo apenas da rede hidrográfica, mas sim de muitos dos elementos presentes no espaço, pois nos artigos futuros não será falado apenas dos cursos d’água) foram pulverizados por toda a região. Sendo assim, naturalmente, os mesmos problemas que assolam o núcleo urbano inicial da capital passaram a fazer parte do cotidiano da população, a partir do notável adensamento das terras onçanianas.

Ribeirão da Onça no ano de 1982.
Fonte: PBH/Laudelina Garcia

     Apesar dos notáveis transbordamentos disseminados por toda a bacia, ainda existem dezenas de cursos d’água em leito natural, muitos incrivelmente invisíveis para a cidade, naturalmente poluídos e espalhados por toda a bacia, além de resquícios históricos e marcos referenciais importantíssimos para a cidade e para a sua população. Isso tudo a uma pequena distância da região central da capital.
      Talvez a solução e o exemplo para a irreversível reabilitação dos cursos d’água da bacia do Arrudas e o próprio ribeirão esteja na bacia do Onça, que poderá resgatar e promover o (re)conhecimento da importância das águas urbanas, assim como a necessidade do resgate do convívio com esse importante elemento, necessário e imprescindível para o nosso cotidiano. Movimentos para isso já existem, sem duvida estamos em um caminho sem volta, para melhor.

Cachoeira do ribeirão da Onça em imagem de 2011.
Acervo do Autor

Cágados nas poluídas águas da Onça, na altura do bairro Ribeiro de Abreu.
Acervo do Autor 

O belo e poluído ribeirão Pampulha no ano de 2015.
Acervo do Autor

O ribeirão da Izidora no ano de 2014.
Acervo do Autor

Pressão urbana sobre um curso d'água pertencente a bacia da Onça.
Detalhe para as águas que naturalmente não se encontram livres dos 
efluentes e dos resíduos sólidos, apesar da existência recente dos 
interceptores de esgotos. 
Acervo do Autor



      Tenho a honra de anunciar que o livro “Rios Invisíveis da Metrópole Mineira” está à venda a partir de hoje. Na verdade estão à venda dois livros: o livro principal, com 430 páginas, e um complemento no formato A4, com 84 páginas. Abaixo explicarei o motivo da confecção de dois livros, assim como os links para a aquisição.

      O livro foi confeccionado no formato A5 preto e branco em papel Couché 90gr, contendo 430 páginas e cerca de 150 imagens e mapas, muitas inéditas. O livro, caso fosse editado a cores (não existe a opção na editora de mesclar cores e preto e branco) custaria quase três vezes o valor atual. Ele contém toda a cronologia dos rios urbanos de Belo Horizonte (1893/2015), assim como o processo de desenvolvimento urbano, ricamente ilustrado e detalhado.

Link para a compra do livro: clique aqui



     O complemento, ou encarte, em formato A4 com 84 páginas em papel Couché 150gr, contém fotos e mapas coloridos correspondentes aos capítulos do livro, muitas imagens inéditas, além de um capítulo denominado “Ribeirão Arrudas: da nascente à foz”, contendo um mapa e vinte imagens atuais do ribeirão e dos seus principais afluentes, desde as nascentes até a sua foz no município de Sabará, todas georreferenciadas no mapa.

   Tal publicação visa contribuir para a perfeita compreensão do livro, possibilitando ao leitor a possibilidade de visualizar, em um formato maior e a cores, os relevantes e imprescindíveis mapas e imagens durante a leitura, permitindo acompanhar, simultaneamente à leitura, os mapas, imprescindíveis para o entendimento do processo de inserção, canalização e cobertura dos rios urbanos, assim como todo o processo de desenvolvimento de Belo Horizonte. Todos os mapas estão no livro principal, em preto e branco, assim como algumas imagens do livro estão no encarte.

       Gostaria de ressaltar que, caso não tenham interesse na compra do encarte não afetará a leitura do livro, ele foi confeccionado para auxiliar na leitura e para a publicação de mais imagens coloridas relacionadas com os rios urbanos e o desenvolvimento de Belo horizonte, além do capítulo dedicado ao ribeirão Arrudas. O encarte não contém textos, apenas imagens, mapas e legendas. Mas caso tenham interesse recomendo veementemente!

     O encarte será oferecido em capa brochura, permitindo um melhor custo/benefício, e em capa dura, em acabamento mais fino. O miolo da publicação é idêntico, alterando apenas a capa.

Link para o encarte (capa brochura):  clique aqui

Link para o encarte (capa dura):  clique aqui

Disponibilizei junto com o produto uma prévia visualização das primeiras páginas.

Aproveito para agradecer a todos os leitores e apoiadores dos trabalhos publicados no Curral del Rey e em outros meios, assim como todos que ajudaram na divulgação e no projeto, sem dúvida foi a força motriz e a inspiração para escrever esse livro.

Aos arquitetos e professores Roberto Andrés e Wellington Cançado (Low) da Piseagrama, pelo apoio que sempre me deram nos estudos das águas urbanas, sem dúvida seguiremos nessa luta incansável de proporcionar uma cidade justa e agradável para os seus habitantes.

Ao Matheus de Paula, a Piseagrama, todos envolvidos na campanha do Catarse, ao Micrópolis e os seus integrantes (Belisa Murta, Fernanda Gomes, Felipe Carnevalli, João Carneiro, Marcela Rosenburg, Mateus Lira e Vítor Lagoeiro), trabalhando sempre com uma energia positiva e uma satisfação que reflete nos trabalhos criados. Serei sempre grato a vocês!

Ao arquiteto José Antônio Hoyuela Jayo e ao geógrafo Ícaro de Assis Brito que ofereceram os mapas que nortearão o histórico das canalizações. Meu agradecimento pela atenção dispensada no belíssimo trabalho. E a Margarete Leta que, além de nossas conversas agradabilíssimas, cedeu material importantíssimo para a compressão do fenômeno das enchentes na capital.

Ao historiador e poeta Sérgio Mitre, pelo belíssimo poema que se encontra no final do livro e a Fernanda Medeiros Borsagli pela revisão do livro. E ao Guilherme Appolinário pela logo Rios Invisíveis da Metrópole Mineira utilizada no projeto e no livro.

Aos Arquivos, a Hemeroteca Histórica, Arquivo Público Mineiro e as Fundações que deram o suporte imprescindível para a realização das pesquisas. Agradeço em particular ao Laboratório Sylvio de Vasconcelos da Escola de Arquitetura da UFMG, ao Museu Histórico Abílio Barreto e ao Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte que, sem o seu suporte e a presteza exemplar dos seus funcionários, o livro certamente não seria publicado. Meu agradecimento a toda a equipe e ao seu diretor, Yuri Mello Mesquita.

Por fim a todos os cidadãos, em particular meu pai, que se disponibilizaram prontamente para reviver o cotidiano das águas urbanas que estão por toda parte, escondidas do nosso convívio. Meus sinceros agradecimentos e que em um futuro próximo, possamos desfrutar das mesmas maravilhas vivenciadas pelos distintos citadinos e que nos foi arbitrariamente tirada, em nome de um suposto progresso.

Em caso de dúvida me coloco à inteira disposição. No mais obrigado e boa leitura!
Alessandro Borsagli

Posto Petrominas, anexo do Centro dos Chauffeurs de Belo Horizonte no inicio da década de 1970.
Fonte: APCBH/ASCOM

   
     O Centro dos Chauffeurs de Belo Horizonte, atualmente espremido entre a Rodoviária e os viadutos do complexo da Lagoinha é um dos mais emblemáticos edifícios da capital. Projetado por Angelo Murgel, o edifício integrava o conjunto art déco que surgiu na década de 1930 no eixo do ribeirão Arrudas, nos quais o Cine São Geraldo, a antiga Rodoviária e a Feira de Amostras, todos demolidos, eram os protagonistas.

      Localizado em uma área desprezada por uma parcela considerável da população, o edifício é um dos mais importantes remanescentes de um período de profunda mudança espacial ocorrida na capital, surgido a partir da construção do Cinema Brasil e do edifício Ibaté, o primeiro arranha céu de Belo Horizonte e atualmente um dos edifícios mais baixos do Hipercentro.

     Mas por ora lancemos os olhos no belo estilo arquitetônico aqui abordado nesse breve artigo, tão desprezado e esquecido por muitos em uma cidade sem identidade, cidade em eterna construção. Ele está ai, espalhado por todo o município, ao longo das antigas estradas, nas casas suburbanas. E convido a todos a olharem mais atentamente e desprovidos de pré conceitos, e admirar o que foi legado pelas gerações antecedentes, tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes.  

Cine São Geraldo no bairro da Lagoinha. O local atualmente encontra-se ocupado pela estação de Metrô da Lagoinha. Detalhe para o entorno.
Fonte: Acervo EM 

Antiga estação Rodoviária na década de 1960.
Fonte: skyscrapercity

O belíssimo edifício da Feira de Amostras.
Fonte: Acervo Augusto Guerra Coutinho





Finalmente o tão esperado livro!

A partir de hoje está disponível para compra o livro Rios Invisíveis da Metrópole Mineira no Catarse, clique no link e confira!


O livro Rios Invisíveis da Metrópole Mineira, resultado de cinco anos de pesquisa sobre os rios urbanos de Belo Horizonte, surge com a intenção de promover o (re)conhecimento do que se perdeu ao longo dos anos com o processo de desenvolvimento de Belo Horizonte. Ao se conhecer como um dia foi o saudável convívio dos elementos naturais com a vida urbana, é fácil perceber como a negação e a vedação de nossos rios acarretou na piora na qualidade de vida e em nosso cotidiano.

Colaborando com a campanha de financiamento coletivo, além de ajudar as pessoas a se reaproximarem das águas de nossa cidade, você também pode receber em casa o livro e demais recompensas, como fotografias antigas e raras, pôsteres e bolsas. Para apoiar, escolha uma das opções de recompensas à direita da tela e siga as instruções para o pagamento.
Certamente, as gerações futuras, quando estiverem pescando, navegando e se banhando por aí, agradecerão o nosso esforço.

Imagem: Ribeirão Arrudas em 1963 (Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte/ASCOM)

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis