Publico abaixo uma série de fotografias relacionadas com as obras que se realizaram na capital a partir de 1926, sendo que grande parte delas foram tiradas dentro da Zona Urbana sinalizada na Planta de 1895. As fotos, tiradas por Gines Gea Ribera foram incluídas nos dossiês “Calçamento de Ruas de Bello Horizonte” e no “Aspectos da cidade de Bello Horizonte”, ambos editados pelo Governo Estadual no inicio dos anos 30¹, como propaganda da gestão do então Presidente do Estado Antônio Carlos. As fotografias representam um dos melhores documentos para a pesquisa histórica e urbanística pois através delas pode-se compreender melhor as mudanças espaciais e da paisagem urbana de uma determinada região, localidade etc: e a partir daí formar conclusões, hipóteses e comparações entre as diferentes épocas, formas de ocupação e funcionalidades.
As obras, executadas trinta anos depois da extinção da Comissão Construtora seguiam várias diretrizes da CCNC e priorizavam a ordenação do espaço segundo a Planta Cadastral da Comissão, buscavam executar o saneamento planejado pela mesma, principalmente na zona urbana além de aumentar os serviços de distribuição de água, calçamento e pavimentação das vias públicas, dois serviços essencialmente importantes, pois a capital passou a crescer vertiginosamente a partir da segunda metade da década de 20 demandando então um aumento das obras, evitando assim o agravamento dos problemas já existentes em decorrência da diminuição dos investimentos dos anos anteriores.
Segue as fotografias na seguinte ordem: pontes, retificação e canalização dos cursos d’água, reservatórios e tubulações para o abastecimento de água, limpeza pública e saneamento e finalmente o calçamento e pavimentação de ruas e avenidas. Essas benfeitorias permitiram a continuidade da expansão da malha urbana da capital consolidada de fato nos anos 30.



Retificação do curso do Ribeirão Arrudas e canalização pelo sistema "Ravier" no final da Avenida dos Andradas. A esquerda a primitiva ponte que existiu sobre o o seu antigo leito e mais a direita a construção da nova ponte em cimento armado. Ao fundo as casas e o Quartel do bairro de Santa Tereza.
Fonte: APM


Construção da mesma ponte e aterramento na Avenida do Contorno às margens do Arrudas. Ao fundo parte da área ocupada pelo Hospital Militar e outros edifícios.
Fonte: APM


Ponte sobre o Arrudas na Vila Esplanada, área loteada poucos anos antes desse registro. Chama a atenção do observador os barqueiros navegando no Ribeirão e outras pequenas embarcações amarradas nas margens, cena impossível de se imaginar atualmente.
Fonte: APM


Canalização do Arrudas nas proximidades da Praça da Estação.
Fonte: APM


Canalização do Córrego do Leitão na Rua São Paulo com a descida d'água em degraus.
Fonte: APM


Canalização do Arrudas e aterramento para a abertura da Avenida dos Andradas. Ao fundo a Rua Ceará.
Fonte: APM


Reservatório da Pedra Bonita no Alto Barroca.
Fonte: APM


Preparação do terreno para a expansão e melhorias do Reservatório do Cercadinho no bairro Santo Antônio. Junto ao muro a Rua Mar de Espanha e suas casas residenciais. Ao fundo parte dos terrenos onde estão os bairros de Lourdes e Santo Agostinho e mais ao fundo a ex colônia Carlos Prates.
Fonte: APM


Terraplanagem do local onde se instalou os Filtros Reisert destinados ao Reservatório do Cercadinho na Rua Mar de Espanha (atual sede da Copasa), no mesmo local da imagem anterior. Ao fundo parte do local onde se abriu a Avenida Raja Gabaglia na década de 70.
Fonte: APM


Vista interna do Reservatório do Menezes, localizado no bairro Santo André.
Fonte: APM


Reservatório para o abastecimento de água da Lagoinha.
Fonte: APM


Caminhões transportando tubos para melhoria do abastecimento de água da capital. Os tubos destinavam-se a captação dos cursos d'água da região do Barreiro.
Fonte: APM


Caixa de união dos esgotos nas imediações da área central.
Fonte: APM


Caminhão destinado a coleta de lixo de Belo Horizonte.
Fonte: APM


Caminhões da Limpeza Pública de Belo Horizonte com bombas de água para a lavagem e irrigação das ruas e avenidas. Ao fundo a Usina de Gás Pobre que exisitu na Avenida Afonso Pena.
Fonte: APM


Calçamento da Rua São Paulo na área central e instalação de coletores.
Fonte: APM


Calçamento da Rua Rio de Janeiro, nas proximidades da Praça Sete. Ao fundo a esquerda a casa Bleriot e o seu famoso farol. Mais acima o local atualmente ocupados pelos edifícios Capichaba e Helena Passig.
Fonte: APM


Calçamento da Rua Pernambuco no cruzamento com a Avenida Brasil.
Fonte: APM


Pavimentação da Rua Pernambuco concluída, nas proximidades do cruzamento com a Rua Cláudio Manoel. À esquerda uma das casas residenciais ainda existentes na rua (observação feita gentilmente pelo Sr. Flavio Edenlar Pereira da Silva, bisneto de Cândido Lúcio da Silveira).
Fonte: APM


Pavimentação da Avenida Cristovão Colombo concluída. Ao fundo o bairro Sion em formação, nas terras da antiga colônia Adalberto Ferraz.
Fonte: APM


Abertura da Avenida do Contorno no bairro Santa Efigênia. À esquerda o Frigorifico Perrela, abaixo o Arrudas já canalizado e ao fundo a direita o inicio da ocupação às margens da Avenida.
Fonte: APM

¹As fotografias são na verdade uma pequena parte do que foi publicado nos dossiês, sendo que grande parte da Zona Urbana está documentada nele. Para ter acesso a tais fotografias recomendo o acesso ao site do Arquivo Público Mineiro cujo link se encontra na seção “Links Relacionados” e nas fontes das fotografias.

* Sobre a década de 20 recomendo a leitura do Artigo "O Embrião Metropolitano - O Poder Público e a Produção do Espaço em Belo horizonte na década de 1920" de minha autoria e da Engenheira Fernanda Guerra Lima Medeiros.
Operários trabalhando na pavimentação da Rua Paraibuna, atual Professor Morais. A direta pode-se ver uma pequena casa que, pela sua localização e estrutura talvez fosse uma das pequenas casas que existiam na beira da estrada que ligava o arraial ao Cruzeiro e que passava exatamente nesse local.
Fonte: APM

Na foto acima vemos uma parte do intenso trabalho de pavimentação realizada pela Prefeitura nos anos 20. A Rua Paraibuna fazia parte da 7ª Seção Urbana, uma das Seções que mais cresceram nessa década, passando a ter uma maior atenção por parte do Governo. A foto acima foi tirada no trecho compreendido entre as ruas Antônio de Albuquerque e Tomé de Souza vendo-se à esquerda a mureta do Córrego do Acaba Mundo.

Trecho da mesma rua no cruzamento da Rua Antônio de Albuquerque.
Fonte: APM

Obras de pavimentação já concluídas. A esquerda o Colégio Sagrado Coração de Jesus e à direita uma casa residêncial ainda existente.
Fonte: APM

Pelas fotos podemos notar a grande mudança ocorrida no espaço urbano da capital, principalmente nos bairros destinados inicialmente a serem residenciais e que atualmente apresentam cada vez mais um uso comercial, em particular o bairro Funcionários que atualmente apresenta uma configuração singular em relação aos outros bairros da capital. Ao compararmos a primeira foto da postagem, tirada em 1929 com a foto tirada quase oitenta anos depois (2007) podemos ver que a rua deixou de ter função unicamente residencial, passando a ter atualmente funções comerciais e residenciais sem nenhum ordenamento, o retrato de uma capital de construções e demolições constantes.

Foto tirada na mesma linha de direção da primeira foto, porém no lado oposto da dita rua.
Fonte: Foto do Autor


Fonte: APM

O Córrego do Leitão, como foi dito em artigos anteriores teve atenção especial da municipalidade a partir da década de 20. A região cortada por ele havia se tornado a principal região de expansão dentro da zona urbana devido, principalmente ao alto valor de mercado de seus lotes. A Prefeitura, à partir de 1925 priorizou a sua retificação, canalização e a regularização de ruas e abrindo novas, seguindo sempre o novo curso d’água.
Na primeira foto podemos ver um trecho da Rua São Paulo, entre a Avenida Augusto de Lima e Rua Guajajaras. À esquerda a mureta do córrego recém canalizado e ao fundo a rampa da Rua São Paulo, em frente ao Shopping Cidade e as casas residenciais que deram lugar aos prédios a partir dos anos 50. Chama a atenção os terrenos ainda vazios que existiam em uma área tão próxima do centro comercial. Esses “vazios” que ainda existiam na zona planejada da capital devia-se ao fato de que existiam rígidas regras para as construções na zona urbana além da especulação imobiliária que inflacionou os lotes da dita zona. A recente urbanização do vale do Leitão também era uma das causas do “vazio” das 9ª e 10ª Seção Urbana.


Trabalhos de calçamento da Rua São Paulo no cruzamento da Rua dos Guajajaras vendo-se junto a mureta do Córrego do Leitão uma pessoa, servindo como escala na foto.
Fonte: APM


Calçamento da mesma Rua, no cruzamento da Avenida Paraopeba, atual Augusto de Lima.
Fonte: APM

Nas fotos abaixo a Rua Tupis está à esquerda, inserida na 2ª Seção Urbana, uma das mais adensadas da capital. A via ainda estava sendo calçada, juntamente com a Rua Padre Belchior, como se vê na foto a direita. Esse trecho foi suprimido em 1970 após o fechamento do Córrego do Leitão na administração Sousa Lima e posteriormente transformado em quarteirão. À esquerda podemos ver uma pitoresca casa residencial, demolida posteriormente para a ligação da Avenida Paraná com a Avenida Amazonas, que vemos ao fundo. Mais ao fundo a Igreja de Lourdes e a Serra do Curral moldavam a paisagem. As sucessivas alterações das edificações modificaram completamente o espaço urbano alterando a perspectiva que se tinha do local, singular devido ao traçado feito por Aarão Reis, que dava maior ênfase a Serra.


Trabalhos de calçamento das Ruas Tupis e Padre Belchior.
Fonte: APM


Pavimentação da Rua Tupis, no cruzamento com a Avenida Paraná. À direita a construção de um sobrado, no local aonde se encontra atualmente uma agência do Banco Real.
Fonte: APM


* Sobre o Vale do córrego do Leitão sugiro a leitura do artigo O Vale do Córrego do Leitão em Belo Horizonte apresentado no I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica.

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis