Transbordamento do ribeirão Arrudas durante as obras de canalização e abertura da Avenida 
Tereza Cristina 1996/1997, na altura do bairro Nova Cintra.
Acervo Jeanine Oliveira

    Estamos entrando no tão aguardado período das chuvas, e em meio ao estranho 2020, onde inúmeros acontecimentos obrigatoriamente nos fazem refletir sobre os nossos valores e sobre a nossa passagem nesse belo e sofrido planeta, os (por ora) esquecidos e centenários transbordamentos em meio urbano serão por muito tempo uma realidade em Belo Horizonte, ressaltando que a extensa repercussão dos transbordamentos ocorridos em 2020 se deu por um simples motivo: por ter ocorrido na bacia do córrego do Leitão, onde se encontram assentados alguns bairros nobres da capital mineira.

  No entanto, hoje veio ao meu conhecimento essas interessantes imagens, enviadas pela ativista ambiental e ribeirinha urbana Jeanine Oliveira, de dois momentos distintos das obras de canalização do ribeirão Arrudas na altura do bairro Nova Cintra no ano de 1996. A primeira imagem mostra as obras de canalização do curso d’água e a segunda imagem mostra o mesmo local no período chuvoso de 1996/1997, onde se observa o transbordamento do curso d’água parcialmente desviado para o canal em construção, ocupando as suas várzeas que então se encontravam em processo de urbanização.

   As imagens, obtidas no exato momento em que o curso d’água sofria uma nova intervenção, torna ainda mais evidente a necessidade de se abandonar a técnica de canalização e retificação dos cursos d’água em meio urbano, realizadas até a atualidade sob pretextos higienistas, de extinção dos transbordamentos e melhoria do sistema viário. A extrapolação do canal e a ocupação das águas no local onde se encontra a Avenida Tereza Cristina demostra que as obras deveriam ter sido realizadas de modo a integrar e fortalecer a relação cidade/rio e não promover o rompimento entre a cidade e o rio. Obviamente, politicamente e monetariamente, as obras tiveram continuidade e a potencialização dos transbordamentos também, ressaltando que o processo de urbanização/impermeabilização do alto Arrudas se encontrava nesse momento em franca expansão.

   Antes de culpar a natureza, as chuvas ou ainda acreditar que não existem alternativas a uma técnica que busca controlar um elemento incontrolável, é importante compreender que atrás da indústria das enchentes existem relações políticas e econômicas que superam qualquer interesse coletivo, onde poucos lucram e todos perdem. As várzeas não foram feitas para serem habitadas e o ser humano não tem o poder e nem o direito de controlar a natureza e os seus fenômenos.

Ribeirão Arrudas durante as obras de canalização e abertura da Avenida 
Tereza Cristina 1996/1997, na altura do bairro Nova Cintra.
Acervo Jeanine Oliveira


Perspectiva do ribeirão Arrudas durante as obras de canalização 1996/1997.
Acervo Jeanine Oliveira

Transbordamento do ribeirão Arrudas durante as obras de canalização nos anos de 1996/1997, 
no mesmo trecho da imagem acima.
Acervo Jeanine Oliveira

O curso d'água ocupando as suas várzeas que se encontravam em processo de urbanização. Uma imagem que explícita a incompetência e conveniência de um poder público historicamente 
submisso e negligente.
Acervo Jeanine Oliveira







Parque Santo Antônio no ano de 1936, construído no local destinado ao Zoológico pela CCNC.
Acervo APCBH

   Belo Horizonte é uma cidade que nasceu sob os escombros do velho arraial do Curral del Rey, tido pela Comissão construtora da Nova Capital (CCNC) como não merecedor do sítio que habitou por quase dois séculos. O verde e o líquido elemento, que fazia parte da paisagem do arraial, foram considerados elementos imprescindíveis para a nova capital, que com sua racionalidade deveria controla-los dentro da cidade rígida e inflexível.

   Dentre os espaços públicos criados para concentrar o elemento vergel dentro da urbe estava o Jardim Zoológico, planejado pela CCNC no ano de 1895 para ocupar a porção de uma parte do interflúvio que separava as microbacias dos córregos do Mendonça e do Zoológico, coincidentemente (ou nem tanto, pois cabeceiras e fundos de vale sempre foram elementos importantes na divisão de propriedades, territórios etc.) parte dos limites das Fazendas do Capão e Leitão, desapropriadas no ano de 1894 para a construção da capital, que também divisavam com terrenos devolutos. Ressalta-se ainda que o córrego do Zoológico certamente era um curso d’água sem nome quando da chegada da CCNC ao arraial (1894), recebendo posteriormente o nome que carrega até a atualidade.

   O Zoológico projetado pela CCNC ocuparia seis quarteirões na zona urbana dentro da Avenida do Contorno, tendo como limites as ruas rio de Janeiro, Emboabas (Antônio Aleixo), Fernandes Tourinho e Bahia, em local que inicialmente ficou de fora da primeira ocupação urbana da nova capital, e consequentemente o Zoológico não foi construído.

   Preservada nas suas devidas proporções até a década de 1920, a área acabou por se tornar valiosa dentro dos planos erários de uma cidade que vivia do repasse do Estado, que por sua vez indicava os prefeitos da capital. A área original do Zoológico, que abrangia cerca de 110.000 metros quadrados, foi reduzida para cerca de 35.000 metros quadrados com a abertura de quatro quarteirões que não existiam na planta original.

   A área que permaneceu desocupada correspondia às cabeceiras do córrego do Zoológico, que passou por profundas modificações entre os anos de 1928 e 1930, uma vez que o pequeno curso d’água foi canalizado e coberto em toda sua extensão, e as cabeceiras arrasadas para receber um parque.

        Perspectiva da área reservada para o Jardim Zoológico (1895) e a área destinada ao Parque Santo Antônio (1928) nas respectivas plantas de Belo Horizonte. 
Detalhe para a presença dos metros iniciais do córrego do Zoológico na planta de 1895, inserido na planta do Jardim, à direita o curso d'água já desaparecido da paisagem urbana e da área do parque, 
em um local que se encontrava em profundas mudanças no ano de 1928.
Modificado de APCBH

Obras de canalização e terraplanagem das cabeceiras do córrego do Zoológico nos anos de 
1928/1929, no momento em que o bairro Santo Antônio/Lourdes se encontrava 
em urbanização. À direita a Rua Espírito Santo.
Acervo MHAB


Perspectiva de uma parte da vultosa movimentação de terra na área destinada 
ao Zoológico/Parque, 1928. ao fundo a Rua Antônio Aleixo.
Acervo APM

   Por parte do poder público, pouco se fez na primeira metade da década de 1930, período de turbulência política no país e no Estado de Minas Gerais. No entanto, a partir do ano de 1935 a cidade se tornou novamente um canteiro de obras capitaneado por Octacílio Negrão de Lima, prefeito indicado pelo interventor estadual Benedito Valadares. A área do ex zoológico e do parque em projeto, parcialmente terraplanada, era então vista como um lugar insalubre e problemática dentro de uma área nobre recém ocupada, e tornou-se prioridade de uma administração que, assim como as demais e as atuais, se preocupava prioritariamente com a porção da cidade dentro da Avenida do Contorno.

   Alinhada à política promovida por Getúlio Vargas, que incentivava o desenvolvimento do lazer para a população dos centros urbanos (a construção da Represa da Pampulha também atendeu a tais objetivos), a prefeitura deu início à construção do Parque Santo Antônio, batizado com o nome de um bairro que então englobava as terras do projetado Zoológico, atualmente “empurrado” para os limites da Contorno por motivos óbvios.

   Ao mesmo tempo em que a PBH dava sequência a construção do Parque, que atenderia aos moradores da cidade, ou de pelo menos uma parte dela, um grupo de belorizontinos buscava um local para fundar o seu clube, vislumbrando no Parque Santo Antônio e em sua piscina olímpica, obra que capitaneava as propagandas oficiais do período, o local ideal para a concretização dos seus planos, observando que entre outros pormenores, certamente a posição geográfica do local dentro de uma cidade altamente segregacionista e elitista foi um dos fatores preponderantes para a escolha.

  Com as obras do parque finalizadas a área acabou arrendada mediante concorrência pública (Relatório PBH 1935-1936 p.63) para o Minas Tênis Clube, que pouco tempo mais tarde construiu a sua sede em estilo Art Déco.

   Nesse contexto, duas coisas chamam a atenção do pesquisador: a primeira é o fato de uma espaço público ter sido rapidamente convertido em um espaço privado, cujos frequentadores figuravam como os mais abastados da capital, ou pelo menos alguns deles procuravam manter as aparências para frequentar espaços "vedados" à população de menor poder aquisitivo. 

Em segundo lugar, de acordo com o relatório de Negrão de Lima, o Parque foi arrendado mediante concorrência pública, no entanto, de acordo com a dissertação da historiadora Marilita Aparecida Arantes Rodrigues sobre a história do Minas Tênis Clube (1996, p.63-65) o Parque já havia sido previamente prometido à sociedade pelo prefeito, ressaltando que o arrendamento, ao que tudo indica, durou cerca de quatro anos, de acordo com relatos que se encontram na interessante pesquisa. Abaixo uma parte do texto que pode ser consultada neste LINK:

Para assegurar o êxito do empreendimento, resolvi colher pessoalmente as reservas de cotas, pois muitas pessoas achavam improvável manter um clube sem a renda que, na época, somente o futebol assegurava. Examinávamos alguns terrenos para a construção do nosso clube, quando o Prefeito Otacílio Negrão de Lima, preocupado em urbanizar a área de Santo Antônio, deu início à construção da piscina olímpica, que seria complemento de um parque público.

Ocorreu-nos, então, a possibilidade de instalar o nosso clube no parque Santo Antônio e para isto solicitamos uma audiência ao Prefeito, que teve a gentileza de receber uma comissão nossa, à noite, em sua residência. Faziam parte dessa comissão: Eu, Dr. Necésio Tavares e alguns dos seus liderados, Desembargador Walfrido Andrade, Dr. José Mendes Júnior, Dr. Esmeraldo Borges, Gamaliel Suaris e Adalberto Veloso de Carvalho.

O Dr. Otacílio nos ouviu atentamente, fez várias indagações sobre a finalidade educativa do nosso clube e terminou nos garantindo o arrendamento, assim que terminassem as obras da piscina e quadras esportivas.

Assim, no dia 15 de novembro de 1935, era fundado o Minas Tênis Clube, nos salões do Automóvel Clube, assumindo a presidência o Dr. Estevão Pinto, secretariado pelos Senhores Dr. Sady Laborne e Dr. Hélio Tavares, sendo considerados sócios fundadores do clube os 200 primeiros sócios que assinassem a ata de fundação.

No dia 7 de janeiro de 1937, foi ultimado o contrato de arrendamento e no dia 7 de junho do mesmo ano, lançada a pedra fundamental. A inauguração do Minas Tênis Clube se deu no dia 27 de novembro de 1937 e a solenidade de inauguração realizada nos dias 27 e 28, assistida por milhares de pessoas, jornalistas esportivos de todo o país e Presidentes de várias Federações, foi um acontecimento empolgante. No dia 24 de fevereiro de 1939, o então presidente do clube, Major Ernesto Dornelles, conseguiu a rescisão do contrato de arrendamento da Prefeitura. Finalmente, em 22 de dezembro de 1967, o então presidente do clube, Dr. José Mendes Júnior, obteve da Prefeitura a sua doação, por escritura Lavrada no cartório do Dr. Abílio Machado, na qual o Clube se obrigava a ceder, gratuitamente, suas instalações para promoções esportivas, culturais, artísticas e recreativas patrocinadas pelo Governo do Estado, ou do Município, quando solicitadas.

    Ainda a respeito desta questão, a historiadora Luciana Silva Schuffner, em sua dissertação defendida no ano de 2007 (p.57) realizou algumas observações sobre o processo de conversão de um espaço público para um espaço privado:

"O grupo que fundou o MTC era liderado pelo Dr. Necésio Tavares e pelo Dr. Waldomiro Salles Pereira. A Prefeitura de Belo Horizonte doou, para a construção do clube, a área onde seria construído um parque público, denominado Parque Santo Antônio, para a população da cidade. Nesse local, a prefeitura já havia começado as obras para a construção do parque esportivo. Assim, o MTC foi contemplado com as benfeitorias pagas com dinheiro público: Dessa forma, uma obra idealizada, inicialmente, como um espaço público de lazer, construída com dinheiro público, passou atender interesses particulares de um grupo interessado em construir ali um clube para os seus associados [...]. O processo de nascimento do MTC mostra-nos que o sonho desse clube foi desenhado em um grande quadro sócio-cultural, que possibilitou atender à vontade de um grupo da elite política e econômica de Belo Horizonte, que se reuniu em torno de um objetivo da criação de um espaço para a prática esportiva como lazer. (RODRIGUES, 1997, p. 485)."

Parte destinada aos jogos infantis, 1936.
Acervo APCBH

Perspectiva da piscina olímpica em construção, 1936.
Acervo APCBH

Página extraída do relatório de Octacílio Negrão de Lima, 1936, destacando o trecho referente
ao Parque Santo Antônio.
Acervo APCBH

    Nesse período o espaço arrendado pelo Minas Tênis Clube acabou ainda se tornando um ponto central nas visitas de Getúlio Vargas a Belo Horizonte durante o Estado Novo (1937-1945), onde se promoviam desfiles cívicos e demonstrações de esporte, principalmente da mocidade belorizontina, ressaltando que o governo fascista no qual o Brasil se encontrava (a ditadura de Vargas de fato foi fascista entre os anos de 1937-1939) enxergava a pratica de esportes como um importante elemento aperfeiçoador e disciplinador, imprescindível para a formação do caráter da sociedade moderna, e ao que tudo indica em Belo Horizonte o clube se tornou no período o representante oficial da política do Estado, onde predominavam os princípios da “eugenia e o aperfeiçoamento da raça” como se lê na propaganda abaixo, veiculada pelo Estado em agosto de 1939**.

    O clube acabou tendo uma participação importante para a plena ocupação do seu entorno, ao mesmo tempo em que acabou se tornando um importante marco da paisagem urbana da capital mineira, sendo “vendido” em matérias veiculadas na imprensa e em postais como um importante elemento de uma capital que desde sempre buscou a modernidade, ainda que, ao longo da história de Belo Horizonte, espaços inicialmente destinados à população em geral, como o Zoológico e o Parque Santo Antônio acabaram convertidos em espaços destinados a uma parcela dela. É sem dúvida um capítulo da história da capital que merece maior aprofundamento por parte dos pesquisador@s, ainda que Arantes Rodrigues, e principalmente Schuffner (cujos links se encontram no final do texto) já realizaram isso com grande relevância

Propaganda veiculada pelo Estado na Revista Alterosa em agosto de
1939. Detalhe para os trechos "cultura e de aperfeiçoamento da raça" 
e "grandiosa obra de eugenia e civilização", o que demonstra o 
alinhamento social, político e cultural entre o estado e o governo federal
Acervo APCBH

Visita de Getúlio Vargas a Belo Horizonte, 1939 

(inauguração do parque infantil)

Acervo Arquivo Nacional






Visita de Getúlio Vargas a Belo Horizonte, 13 de maio de 1940 

(inauguração da Avenida do Contorno)

Acervo Arquivo Nacional






* O Autor gostaria de ressaltar que possui respeito pela história do MTC, sabendo da sua importância para uma parte da população de Belo Horizonte ao longo dos oitenta e cinco anos de existência. O que foi exposto no presente artigo são fatos que se encontram em documentos da época (1895/1940), ressaltando ainda que as informações aqui apresentadas se encontram registradas nos relatórios dos prefeitos, revistas do período analisado, em trabalhos acadêmicos e em acervos iconográficos que se encontram sob a guarda do APCBH e do Arquivo Nacional.

** Recomendo a leitura da dissertação da historiadora Marilita Aparecida Arantes Rodrigues sobre a história do Minas Tênis Clube, que realiza uma interessante abordagem sobre o papel do Estado no período (p.77-82), que alinhado ao poder central agia em busca de um ideário político de eugenização do Brasil, no qual as dependências do clube foram frequentemente utilizadas. A dissertação pode ser consultada neste LINK

*** Recomento a leitura da dissertação da historiadora Luciana Silva Schuffner, intitulada "O Minas Tênis Clube e o Estado Novo: moldando corpo e mente da juventude de Belo Horizonte (1935-1945)", uma pesquisa de grande importância que pode ser consultada este LINK

**** Links para ler com atenção (clique nos links). Gostaria de observar que os links 2 e 3 saíram do ar após a publicação do texto. No entanto, os mesmos ficarão aqui disponíveis caso voltem ao ar:

Link 1

Link 2 

Link 3 








 

Ribeirão Arrudas.
Foto: Alessandro Borsagli

Estamos no meio de uma pandemia, bizarrices e absurdos políticos, no auge da estiagem e quase ninguém se lembra dos rios, simplesmente por estarem invisíveis (mesmo visíveis ao olfato e aos olhos de poucos) e "domados" em seus canais e leitos degradados.
A PBH até agora nada fez de concreto (não é alusão aos canais artificiais), as chuvas estão chegando e as eleições também. Quando as águas ocuparem o seu espaço de direito no período chuvoso que se aproxima o assunto certamente voltará à tona, as mesmas "soluções" voltarão à tona e vários "entendidos" do assunto, que eu acredito que estejam hibernando por aí também voltarão à tona ou fazendo política com o que está na mídia atualmente, e como sempre nada de novo será apresentado/falado.
E ai? Mais uma vez Belo Horizonte sofrerá com um problema potencializado por decisões políticas e técnicas mal aplicadas e altamente rentáveis. E a culpa mais uma vez será atribuída ao rio, ao transbordamento e a natureza, mas desde sempre a culpa é da forma em que convivemos com o meio do qual fazemos parte, acreditando que os fenômenos podem ser controlados por uma racionalidade técnica mal aplicada mas altamente lucrativa e vendida como solução para o não solucionável.
Os fenômenos não podem ser controlados, isso é ponto pacífico, mas a ganância, a ambição política e o poder fazem com que você cidadão belorizontino, acredite que a grande maioria dos indivíduos eleitos pelo voto realmente trabalham em prol do bem estar coletivo, e que nesse caso resolverá as mazelas causadas por um problema criado por seus antecedentes.
Lembre-se disso.

Ribeirão Arrudas na altura da foz do córrego da Serra, após a lavagem das galerias 
pelas primeiras chuvas de 2019.
Foto: Alessandro Borsagli



 


O livro Rios Urbanos de Belo Horizonte é o último dos três livros lançados por Alessandro Borsagli sobre a rede hidrográfica de Belo Horizonte. Ele aborda, a partir da perspectiva geográfica-histórica, as bacias hidrográficas dos córregos do Acaba Mundo, Serra e Leitão trazendo à luz imagens, mapas e fatos que levaram ao desaparecimento da paisagem urbana da rede hidrográfica que atravessa a zona urbana planejada de Belo Horizonte.

Link para compra do livro: Clique Aqui



 


O livro Curral del Rey: a metrópole em Preto & Branco apresenta a Belo Horizonte as imagens feitas pelo autor entre os anos de 1999 e 2019 retratando, sob a perspectiva da Geografia, as perspectivas, aspectos e elementos que formam a metrópole mineira e toda sua complexidade. São aproximadamente trezentas fotografias que mostram o cotidiano de uma cidade bela e árida, sufocada e verticalizada, formal e informal, uma cidade em eterna construção.

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Ribeirão Arrudas (Avenida dos Andradas), 1986. Ao fundo a Igreja de Santa Tereza e em 
segundo plano o campo da Associação Esportiva Santa Tereza (AEST).
Acervo APCBH/ASCOM


     Atualmente, é mais fácil encontrar imagens de cinquenta, sessenta anos atrás do que imagens contemporâneas (pelo menos do período de minha geração). No entanto, em meio às pesquisas sempre me deparo com agradáveis surpresas que remetem à minha infância e adolescência, onde um ribeirão Arrudas recém canalizado nos bairros de Santa Tereza e Santa Efigênia e as esplanadas surgidas das intervenções realizadas no curso d'água faziam parte do meu cotidiano.
     A imagem acima, feita durante a administração do prefeito Sérgio Ferrara (1986-1989), registra um Arrudas recém canalizado em um local anteriormente ocupado por grandes aglomerados, em parte arrasados após a grande enchente de 1983, que acabou por acelerar as obras de canalização que então se encontravam interrompidas.
      O curso d'água, que até então corria em leito natural em meio aos aglomerados, passou a correr em um canal esteticamente horrível e que com sua largura e profundidade atesta a incompetência do poder público em lidar com a questão da presença da rede hidrográfica em meio urbano e com a própria drenagem urbana.


Encontra-se disponível para leitura o livro “Olhares Geográficos sobre Minas Gerais”, organizado pelos Geógrafos Amanda Ribeiro, Gleyber Calaça, Juliana Caputo e Sabrina Goncalves, todos da PUC Minas. O livro traz inúmeros registros sobre as pesquisas de campo realizadas no estado de Minas Gerais, incluindo ainda imagens captadas em trabalhos de campo realizados em Belo Horizonte nos últimos anos.

Recomendo a leitura e apreciação das belíssimas perspectivas que se encontram registradas no livro, um importante registro de paisagens e percepções de uma sociedade plural, espaços multiculturais e belezas singulares. Abaixo o link do livro, para acessa-lo é só clicar no título:


    Distância entre os povoados representada nas Cartas Sertanistas, elaboradas na primeira metade 
do século XVIII. A partir das informações contidas no importante documento geográfico-histórico,        um dos primeiros registros do arraial que se transformou em metrópole dois séculos mais tarde,        optou-se pela adoção do topônimo ‘Curral del Rey’, de origem galego-portuguesa, no site criado 
para divulgar as pesquisas sobre o processo de desenvolvimento urbano de Belo Horizonte.
Acervo BN


Hoje, dia treze de abril, faz dez anos que realizei a primeira publicação no Curral del Rey. De lá para cá foram mais de cento de cinquenta textos postados no site, que se encontra com mais de um milhão de visitas, e inúmeras publicações que abordam o processo de evolução urbana de Belo Horizonte a partir da perspectiva da Geografia Histórica. Nestes dez anos de site só tenho a agradecer a tod@s os leit@res e amigos que fiz ao longo das pesquisas e que são a força motriz do trabalho realizado até agora. Abaixo parte de um pequeno texto que escrevi para o livro “Curral del Rey: a metrópole em preto & branco (1999-2019), que será lançado nas próximas semanas: 

Muitas são as Belo Horizontes em que vivemos. Para mim, apesar de ter nascido no ano de 1979, muitas lembranças das mudanças ocorridas na capital desde a década de 1980 vem à tona quando começo a mexer nos arquivos armazenados em minha mente. Morador do bairro Santo Antônio durante grande parte da minha vida, no entanto criado em Santa Tereza, guardo em minha memória a chácara na Rua Pitangueiras, demolida no final da década de 1980 para a construção de um edifício residencial. Também se encontra em minhas memórias uma tranquila Avenida Prudente de Morais sem semáforos e a agradável perspectiva das janelas do meu apartamento, da qual era possível visualizar quase toda a Avenida Raja Gabaglia, parte da Serra do Curral, o Neon do hospital Biocor e o Morro do Papagaio, ouvindo ainda, nas silenciosas madrugadas, a composição do Ramal de Águas Claras transportando o minério extraído da Serra do Curral para o além-mar.

A barragem Santa Lúcia era um dos locais preferidos para andar de bicicleta e brincar em meio ao mato e aos barrancos formados pelas movimentações de terra e assoreamentos oriundos da urbanização e ocupação dos bairros adjacentes, ocorrido ao longo das décadas de 1970 e 1980. Isso, falando apenas do bairro Santo Antônio e adjacências. De Santa Tereza, local onde passei boa parte da minha infância e adolescência, me lembro das remoções das favelas ribeirinhas e do prolongamento da Avenida dos Andradas, onde aprendi a andar de bicicleta, na vastidão dos aterros do antigo leito do Arrudas e das pipas sobre uma inacabada ponte do Cardoso. Abaixo da Avenida Silviano Brandão havia apenas mato e casas às margens de um ribeirão que ainda corria em seu leito natural.

Lembro ainda das terras altas da capital, pouco povoadas e mesmo desabitadas, como a região da Lagoa Seca, região que frequentei semanalmente a pé e de bicicleta até os meus dezenove anos, vedada a partir do início da verticalização que encheu de pregos as vias até então desertas, fenômeno que presenciei in loco. E por inúmeras vezes, me refugiei no alto da Serra do Curral para assistir aos crepúsculos vespertinos mais belos que já vi. Tudo isso nada mais é do que fragmentos de memória de uma cidade que já conheci metrópole, com todas as suas belezas e mazelas, uma cidade caótica, mas que apresentava um agradável relacionamento entre seus citadinos, o que, infelizmente, em parte vem se perdendo com a consolidação de uma cultura materialista-individualista explícita e ignorante.

Nesse contexto do resgate memorial dos fragmentos, paisagens, percepções e mesmo situações vividas ao longo de nossa existência, na década de 1990, mais precisamente no ano de 1996, comecei a fotografar diversas paisagens dentro e fora de Belo Horizonte, que possibilitaram as múltiplas percepções não só da cidade, mas também do rural, do natural e das perspectivas e interações entre os elementos da paisagem, alguns peculiares a Minas Gerais e utilizando uma máquina fotográfica analógica, uma vez que as câmeras digitais eram muito caras e se encontravam em evolução, além do fato de que na época não me atraía nem um pouco a ideia de fazer uma dezena de imagens de um mesmo local e só aproveitar uma ou duas, visto que os filmes eram caros, ainda mais em preto e branco. Hoje vejo que essa ideia, com as suas devidas ressalvas, foi importante para o meu aprendizado e para a transição para o digital.

Nos primeiros anos do século XXI eu fotografava prioritariamente paisagens do interior de Minas Gerais e mesmo de outros Estados, tanto a cores quanto preto e branco, utilizando para as fotografias a cores uma Olympus Stylus portátil, que fazia fotos panorâmicas e que ao mesmo tempo era compacta, diferentemente da Konica, utilizada para as fotografias preto e branco e que exigia o transporte de lentes e tripé. Nesse período, as minhas preferências eram por registros que compreendessem paisagens naturais e as reminiscências históricas do Estado e fora dele, o que acabou por me possibilitar conhecer uma quantidade considerável de cidades. Registrava Belo Horizonte? Sim, mas com uma frequência irregular, uma vez que ainda não tinha uma clara percepção do espaço e das múltiplas relações entre a sociedade e o meio que resultam na ininterrupta transformação da cidade. A capital mineira é a minha matriz, mas na época eu ainda não possuía uma ideia clara da importância de se registrar as paisagens urbanas que se encontravam em transformação e as reminiscências de paisagens pretéritas.

O ingresso no curso de Geografia da PUC Minas no ano de 2003 ampliou o meu horizonte em relação a metrópole mineira, uma urbe de vanguarda que busca incessantemente a modernidade, uma urbe de construções e demolições constantes, um organismo vivo de grandes pluralidades e contradições, rupturas e permanências. Aos poucos, Belo Horizonte deixou de ser apenas a minha cidade natal e passou a despertar sentimentos, percepções e questionamentos que foram se ampliando nos anos seguintes, ao mesmo tempo em que a adoção da fotografia digital, ocorrida no ano de 2005 para facilitar os registros dos trabalhos de campo, possibilitou a captação de imagens para fins documentais, me desobrigando dos custos de revelação.

No ano de 2006, a partir de uma pesquisa sobre a Fazenda Capitão Eduardo, reminiscência das antigas propriedades rurais do século XIX no município, realizada no Instituto de Geociências Aplicadas e no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, ambos na Rua Itambé, comecei a ter contato com os relatórios dos prefeitos da capital, publicação anual que me despertou a atenção para os detalhes e imagens de paisagens que até então desconhecia, ainda que, desde os meus dez anos de idade, a partir de um livro (Memória da Economia da cidade de Belo Horizonte) do acervo da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil localizada na Rua Carangola, comecei a ter contato com textos e imagens históricas da capital, até então publicadas em doses homeopáticas e que ainda não possuíam o valor atribuídas a elas na atualidade. Isso demonstra a importância em que a leitura e as bibliotecas possuem na formação do indivíduo e o quanto são negligenciadas na atualidade por uma parcela da sociedade cada vez mais ignorante, alienada e estúpida, que prefere se instruir pela Internet e redes (anti)sociais, ao invés de ler livros e debater de maneira racional as questões pretéritas e atuais.

Ao mesmo tempo em que o contato com os acervos documentais se intensificavam, as instituições guardiãs dos acervos fotográficos começavam a disponibilizar em formato digital as fotografias que registravam o processo de evolução urbana de Belo Horizonte, ou seja, esses fatores, aliados à ampla visão que a geografia proporciona, em um momento em que a cidade e a sua paisagem urbana se transformavam com as obras do Boulevard Arrudas e a Linha Verde, além dos edifícios não paravam de surgir no horizonte, me despertou para a necessidade de registrar de maneira contínua as transformações na paisagem urbana, ao mesmo tempo em que iniciei as pesquisas sobre a capital, a partir da perspectiva geográfica-histórica urbana.

O ano de 2007 pode ser considerado o ponto de partida das pesquisas, que três anos mais tarde se converteram no Curral del Rey, blog batizado com o nome do povoado que deu lugar a nova capital de Minas. Adotou-se o topônimo primitivo (Rey), de origem galego-portuguesa e amplamente utilizado na primeira metade do século XVIII, ao invés do topônimo (Rei), este último utilizado de maneira frequente a partir da segunda metade do século XVIII. Ressalta-se que os dois topônimos se encontram corretos ao se referir ao arraial e se encontram em diversos documentos entre 1720 e 1890. O blog foi criado para promover o amplo acesso às pesquisas realizadas por mim e publicadas numa linguagem simples e direta, pois a pesquisa não se deve restringir a academia e nem se prender a uma linguagem puramente técnica, lembrando que a sociedade deve tomar conhecimento e se beneficiar de tudo que é produzido pela ciência.

Nos últimos quatorze anos, realizei mais de seiscentas pesquisas de campo em Belo Horizonte, não só para registro fotográfico, mas também para tomar conhecimento das peculiaridades, realidades, aspectos e para o registro das memórias e informações sobre a cidade, sem contar as visitas aos arquivos, bibliotecas, aquisição de material sobre a capital, livros (inclusive as publicações originais da CCNC e o relatório de 1893), revistas e fotografias, além de conversas e encontros com pesquisadores e citadin@s, que oxigenam o cérebro e aprofundam a discussão sobre Belo Horizonte e suas múltiplas faces.

As imagens, antigas e atuais, procuram atestar toda a mudança paisagística da capital mineira, onde a concentração e atuação ao longo das décadas de determinados grupos em determinadas áreas geraram formas e deixam marcas na paisagem, adaptada e modificada a partir de suas necessidades e interesses. Nesse contexto, as fotografias ainda possuem a função de complementar as pesquisas realizadas sob a ótica geográfica-histórica, um campo de estudo que pode ser definido como um ramo da Geografia que estuda o presente que existiu em algum momento do que hoje é passado (Silva, 2012), que se preocupa em recuperar as espacialidades pretéritas que marcam as espacialidades atuais (Erthal, 2003).

Dentro dessa perspectiva, a construção e metropolização da cidade de Belo Horizonte se concentram em um período de setenta anos (1896/1966), ou seja, um espaço de tempo consideravelmente pequeno e repleto de informações abordadas de maneira pontual, parcial ou nunca abordadas, o que acabou por criar lacunas espaciais e temporais nos registros sobre o processo de evolução urbana. Ressalta-se que, nesse mesmo período, a fotografia se popularizou e passou a ser utilizada como propaganda oficial e não oficial, atestando toda a mudança paisagística de uma cidade que se reinventou e se modernizou ao longo do século XX.

Enfim, entre erros e acertos, a pesquisa sempre procurou explicitar as múltiplas faces de uma cidade de ares joviais e ao mesmo tempo tradicionais, onde muitos ainda acreditam que se afastar dos seus elementos e do meio ambiente é necessário para atingir a tão almejada modernidade, uma modernidade que gera notáveis disparidades espaciais, sociais e contrastes tão peculiares à metrópole mineira, uma urbe que ao mesmo tempo em que queria e quer ser moderna e plural, ainda conserva algumas tradições e costumes que estranhamente se perpetuam em um Estado guardado pelas montanhas.

Abaixo algumas imagens feitas nos primeiros anos de pesquisa e registro e fotos de algumas das pesquisas de campo realizadas no munício de Belo Horizonte e em suas bacias hidrográficas.


Cachoeira do Freitas (ribeirão Arrudas) 1999: uma das primeira imagens de BH feitas pelo Autor.
Acervo Alessandro Borsagli


Mina de Águas Claras, 2000
Acervo Alessandro Borsagli


Rosa dos Ventos (PUC Minas) pouco antes da substituição da pintura por pedra, 2003.
Acervo Alessandro Borsagli


Hotel Imperial, 2003.
Acervo Alessandro Borsagli


Antiga Fafich e os anseios por liberdade, 2004.
Acervo Alessandro Borsagli


Morro das Pedras e bairro Gutierrez, 2004.
Acervo Alessandro Borsagli


Abertura da Avenida do Cardoso, 2007.
Acervo Alessandro Borsagli


Linha Verde, 2008.
Acervo Alessandro Borsagli


Metrô de Belo Horizonte, 2009.
Acervo Alessandro Borsagli

Fonte: BRITO, Saturnino. Obras Completas, vol.XX, Imprensa Nacional, 1944.

Refletindo um pouco sobre as chuvas dos anos de 2019/2020, sobre barragens nas cabeceiras e como o poder público se comportará a partir de agora, transcrevo parte da minha dissertação de Mestrado, onde abordo a relação entre a evolução urbana de Belo Horizonte e as intervenções na rede hidrográfica:

"Ao analisar os trabalhos de mapeamento do sítio onde se construiu a nova capital de Minas Gerais, percebe-se que os estudos foram realizados de maneira sistemática, de modo a conhecer melhor o território a ser adaptado e modificado a partir de preceitos então considerados imprescindíveis para a construção de uma urbe racional, higiênica e salubre, na qual a rede hidrográfica foi um item considerado de suma importância para a escolha do sítio. No entanto, observa-se que a rede hidrográfica não foi levada em consideração na elaboração da planta da nova capital, exceção feita a Serra do Curral, limite sul do planejado, ao ribeirão Arrudas, inserido no tecido urbano planejado como um elemento de referência geográfico-paisagística e ao interflúvio Arrudas/Onça, limite norte do planejamento da CCNC.

Pode-se concluir que a partir desse momento (1895), ocorreu a ruptura entre a cidade planejada e a rede hidrográfica, que deveria ser controlada pelo racionalismo geométrico da urbe na medida em que o tecido urbano fosse crescendo, onde o caminho das águas deveria ser ditado pela técnica e não pelo meio natural, onde a ideia da busca pela menor permanência das águas fluviais dentro da urbe significava ainda uma maior salubridade para a cidade. Nesse contexto, observa-se que ao mesmo tempo em que os cursos d’água sofreram intervenções de ordem técnica, os transbordamentos de fundo de vale passaram a ocorrer de forma regular, visto que o caminho natural das águas e a perda das planícies de inundação, porções de terras valiosas para o poder público, não foram consideradas no momento das intervenções.

As obras de intervenção na rede hidrográfica, até a década de 1940 acompanhou de maneira satisfatória a evolução urbana no município. A partir de 1950, período que pode ser considerado o início do processo de metropolização de Belo Horizonte e o ano de 1965, observa-se uma crescente disparidade entre a expansão urbana e as intervenções fluviais, fator que contribuiu para o surgimento de uma aversão à permanência dos cursos d’água dentro da cidade a partir do aumento do despejo de esgotos domésticos e industriais, descarte de resíduos e transbordamentos frequentes, que contribuiu para o surgimento de doenças ligadas ao consumo e contato com as águas poluídas.
Ressalta-se ainda que o protagonismo rodoviário nas políticas urbanas do município foi fator determinante para a ampla cobertura dos cursos d’água de Belo Horizonte, iniciada oficialmente no ano de 1963 e em uso até a atualidade.

As intervenções na rede hidrográfica de Belo Horizonte acarretaram na piora dos transbordamentos dos fundos de vale a partir de 1930, sendo que apenas o período compreendido entre 1965 e 1977 apresenta uma sensível melhora nos transbordamentos dos afluentes do ribeirão Arrudas, que apresentou ao longo do processo de evolução urbana um aumento gradativo dos transbordamentos, ressaltando que as grandes obras de intervenção fluvial se iniciaram na bacia do ribeirão da Onça apenas no ano de 1974. Ademais, apesar da sensível melhora no período 65/77, observa-se que os transbordamentos nas bacias dos ribeirões Arrudas e Onça ocorrem de maneira regular desde o final da década de 1970, ainda que as administrações municipais anunciem ao longo das últimas quatro décadas obras de intervenção fluvial que contribuem para a potencialização dos transbordamentos de fundos de vale, fenômenos naturais agravados pela realização de obras mal planejadas e mal executadas.

Ressalta-se que o alto grau de impermeabilização das sub bacias e a massa hidráulica drenada para o canal do ribeirão Arrudas podem ser considerados fatores determinantes no seu transbordamento regular, onde as perdas materiais e humanas ocorrem de maneira frequente há cerca de nove décadas. Nesse sentido, pode-se concluir que o problema dos transbordamentos se deve pela insistência do ser humano em habitar áreas que não deveriam ser habitadas e modificadas, como as planícies de inundação. No entanto, as sociedades buscam desde a antiguidade intervir nos fenômenos da natureza, na esperança de que um dia alguns dos fenômenos possam ser controlados, ainda que a busca contribua para a alteração dos fenômenos, no qual Brito (1944, p.49) observa que o problema das inundações é, portanto, um problema estabelecido pelos caprichos da atividade do homem, onde a impossibilidade de se resolver o problema deve ser aceito para que se evite trabalhos desnecessários, o desperdício de vultosas quantias e desilusões."

Fonte: Borsagli, Alessandro. Do convívio a ruptura: a cartografia na análise histórico-fluvial de Belo Horizonte (1894/1977). Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial, Belo Horizonte, 2019.


Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

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