Pequena retificação do leito do Ribeirão Arrudas em 1960.
Fonte: APCBH/ASCOM


A imagem acima apresenta uma retificação no leito do ribeirão Arrudas, ou um desvio, como está sinalizada a imagem oficialmente, realizada na zona suburbana de Belo Horizonte, mais precisamente na região leste da capital, entre os bairros de Santa Tereza e Santa Efigênia. Tal obra, empreendida em Junho de 1960 visava suprimir um dos inúmeros meandros do curso d’água, possivelmente para melhorar a sua vazão, talvez para aumentar a área urbanizada do entorno do ribeirão ou mesmo diminuir a magnitude das enchentes que assolavam a região no período, lembrando que a canalização do Arrudas terminava a cerca de três quilômetros à montante do local retificado, e a velocidade das águas do ribeirão nos períodos chuvosos era notável, visto que a canalização facilitava o escoamento e a drenagem da zona urbana planejada, em detrimento aos bairros da zona suburbana à jusante da ponte do Perrela, ponto final da canalização. 
A pequena retificação* foi realizada nas proximidades da primitiva ponte do Cardoso, que ligava os bairros de Santa Tereza e Santa Efigênia, substituída na década de 80 pelo viaduto que liga a Avenida dos Andradas ao bairro de Santa Tereza. É importante ressaltar que nesse mesmo local existiu a parada do Cardoso, ponto de desembarque dos passageiros dos trens de Subúrbio da Central do Brasil. O entorno do trecho retificado em 1960 foi ocupado entre as décadas de 60 e 80 pelas favelas União e Gogó da Ema na margem esquerda do ribeirão, e pela Vila São Rafael, na margem direita.
Após a enchente de 1983 a retificação desapareceu junto com as casas remanescentes das favelas que não sucumbiram às águas do ribeirão, dando lugar a retificação e a canalização, estendida desde a Avenida do Contorno até a Avenida Silviano Brandão, na confluência do ribeirão com o córrego da Mata.

Canal do ribeirão após a pequena retificação empreendida em 1960. Ao fundo parte do bairro Pompéia.
Fonte: APCBH/ASCOM

Local da retificação do ribeirão sinalizado na Planta de 1961, à direta da linha férrea da Central do Brasil.
Fonte: APM

A retificação vista da margem direita do Arrudas, bairro de Santa Efigênia.
Fonte: APCBH/ASCOM

Ribeirão Arrudas na região leste de BH no final da década de 70. Abaixo a Favela Gogó da Ema, desaparecida quando da retificação e canalização e Vila São Rafael. À esquerda da imagem está sinalizado o local da retificação, logo abaixo da ponte do Cardoso.
Fonte: APCBH Coleção José Góes

Trecho logo acima da retificação em 1983, na margem esquerda do Arrudas. Em primeiro plano as obras de extensão da retificação paralisadas, ao fundo as casas remanescentes da Favela União junto a margem erodida do ribeirão e parte das Ruas Mármore e Conselheiro Rocha.
Fonte: Acervo PLAMBEL


* Toda e qualquer retificação de um curso d'água, seja ela pequena ou não acarreta uma mudança na dinâmica do curso d'água, desde a extinção do seu leito original, o amento da velocidade das águas, a agressão à morfologia do local, ao assoreamento do curso d'água até a um impacto na vida aquática e na fauna e flora terrestre, em um âmbito local e mesmo regional. Tal técnica empregada para a solução das enchentes no meio urbano e para a melhoria da drenagem urbana provoca a extinção das várzeas e o desaparecimento do traçado original do curso d'água, ao mesmo tempo em que se "ganha" porções de terra estratégicas para os agentes imobiliários. Nesse momento em que se celebra a conclusão de mais um trecho do "magnifico" Boulevard Arrudas, sem dúvida, se torna necessária uma profunda reflexão da sociedade e do Poder Público em relação a forma em que se trata os cursos d'água no meio urbano, tão discutida neste blog, para que tais erros não sejam cometidos nos centros urbanos brasileiros que estão em processo de desenvolvimento e que certamente irão apresentar problemas semelhantes, no que diz respeito a ocupação dos fundos de vale e das várzeas dos cursos d'água, entre outras coisas.

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