Acervo AGC

Complexo da Pampulha ano 80: no que diz respeito ao meio ambiente e as águas represadas do ribeirão Pampulha não há nada para se comemorar. A moldura do Complexo Arquitetônico se encontra há décadas degradada, marginalizada, abandonada. 


A Pampulha é bela, é tricentenária, não é apenas modernista, não se resume a uma represa e nem foi inventada por JK.


Ainda assim, segue um pequeno resumo publicado por @borsagli nos anos de 2014, 2016 e 2017:

 

“A represa da Pampulha foi construída na bacia do ribeirão Pampulha, formado pelos córregos Ressaca e Sarandi, entre outros pequenos afluentes. A represa, cuja construção se iniciou na gestão de Octacílio Negrão de Lima (1935-1938) tinha como objetivo o abastecimento de água da capital e proporcionar um espaço para a prática de esportes aquáticos, dentro do desenvolvimento do lazer promovido na Era Vargas para a população dos centros urbanos.

 

Em 1941 a represa foi transformada em área de lazer para a população belorizontina e seria amplamente utilizada pela administração Juscelino Kubitscheck e demais administrações municipais para promover a urbe mineira como uma capital moderna e como atrativo turístico de uma cidade de meia idade. A estratégia de projeção da região se completou com a construção do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, cujo projeto coube a artistas e arquitetos conhecidos pelos trabalhos de vanguarda realizados na década anterior.

 

De acordo com JK, a construção do Complexo era imprescindível, pois não se podia frear o desenvolvimento urbano de Belo Horizonte, sendo necessária a continuidade do crescimento urbano para as regiões mais afastadas, projetando a capital como um dos grandes centros urbanos brasileiros, na vanguarda do modernismo e do morar moderno:

 

"A Pampulha era uma imposição do progresso da capital, traduzido no crescimento constante da área edificada e na projeção vertical das construções, quando os arranha-céus vieram substituir casas velhas e sem conforto. Compreendemos ser a ocasião propícia para dar a cidade uma série de atrações que em outros centros de população densa constituem fator preponderante para o desenvolvimento do intercâmbio turístico, uma das mais rendosas indústrias que podem contar as cidades" (JK, 1943).


Acervo Alessandro Borsagli

 

Fonte: Acervo EM - Hemeroteca Histórica

Entra ano, sai ano e as tragédias continuam a ocorrer, potencializadas por uma sucessão de erros seculares que contribuem significativamente para o triste espetáculo dos transbordamentos em meio urbano, ocasionados por um fenômeno que precisa ser respeitado e compreendido, e que nunca será controlado.

“As intervenções na rede hidrográfica de Belo Horizonte acarretaram na piora dos transbordamentos dos fundos de vale a partir de 1930, sendo que apenas o período compreendido entre 1965 e 1977 apresenta uma sensível melhora nos transbordamentos dos afluentes do ribeirão Arrudas, que apresentou ao longo do processo de evolução urbana um aumento gradativo dos transbordamentos, ressaltando que as grandes obras de intervenção fluvial se iniciaram na bacia do ribeirão da Onça apenas no ano de 1974. Ademais, observa-se que os transbordamentos nas bacias do Arrudas e Onça ocorrem de maneira regular desde o final da década de 1970, fenômeno agravado pela realização de obras mal planejadas e mal executadas.

Ressalta-se que o alto grau de impermeabilização das sub bacias e a massa hidráulica drenada para o canal do Arrudas podem ser considerados fatores determinantes no seu transbordamento regular, onde as perdas materiais e humanas ocorrem de maneira frequente há cerca de nove décadas. Nesse sentido, pode-se concluir que o problema dos transbordamentos se deve pela insistência do ser humano em habitar áreas que não deveriam ser habitadas e modificadas, como as planícies de inundação.

No entanto, as sociedades buscam desde a antiguidade intervir nos fenômenos da natureza, na esperança de que um dia alguns dos fenômenos possam ser controlados, ainda que a busca contribua para a alteração dos fenômenos, no qual Brito (1944) observa que o problema das inundações é, portanto, um problema estabelecido pelos caprichos da atividade do homem, onde a impossibilidade de se resolver o problema deve ser aceito para que se evite trabalhos desnecessários, o desperdício de vultosas quantias e desilusões."
Fonte: @borsagli (2019)

Imagem: Estado de Minas (1962) publicada no artigo Do protagonismo à invisibilidade: Geografia Histórica do córrego do Acaba Mundo e a sua relação com o sítio de Belo Horizonte-MG (1716/1973) que pode ser acessado neste Link




Repostando (PPGG-UFRJ): "Mais uma dica de leitura e download aqui da página, o lançamento do e-book "RIOS URBANOS: diferentes abordagens sobre as águas nas cidades". Autores: Alexander Costa - Luisa Schneider (Orgs.).

SOBRE O LIVRO:

Nas primeiras décadas do século XXI, a discussão sobre a água ganhou crescente relevância, com avanços perceptíveis tanto no meio acadêmico como na sociedade em geral. Entretanto, dada a importância desse elemento da natureza, há um longo caminho a ser percorrido. Apesar de a água ter a sua importância reconhecida por diferentes segmentos das sociedades, ainda assistimos ações e atividades que causam e perpetuam degradações nos corpos hídricos de ambientes rurais e urbanos. O livro Rios Urbanos: diferentes abordagens sobre as águas nas cidades lança um olhar específico para rios presentes em inúmeras cidades brasileiras. Nos ambientes urbanos, onde se concentra a ampla maioria da população do país, as relações estabelecidas entre sociedade e natureza causam profundas intervenções sobre os corpos hídricos, levando a um complexo quadro ambiental de degradação e modificação de seus rios. As pesquisas apresentadas nos capítulos contribuem para o entendimento desse quadro e servem de estímulo para o surgimento de novas pesquisas sobre rios urbanos, como forma de entender seus problemas e apontar direções para ações sociais e governamentais".

Para download, acesse: https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/37340-rios-urbanosbr-diferentes-abordagens-sobre-as-aguas-nas-cidades?fbclid=IwAR30eoSSsdg3aJRI3t3p-u5NZtZsl9UBCQWVSzthQe-rdevIJT42cCrF_DY

 

Avenida Afonso Pena, 1965. Acervo APCBH/ASCOM

Por questões de ética (ou falta de, entre outras qualidades) por parte de terceiras, acabo de liberar o acesso ao capítulo "O racionalismo como progresso: A Avenida Afonso Pena e a sua influência no crescimento urbano de Belo Horizonte", publicado no blog em setembro de 2012 e apresentado em formato de Artigo Científico no XIII SIMPURB/2013. O capítulo faz parte do volume 2 do livro Sob a sombra do Curral del Rey (2017).

Referência do capítulo que também pode ser acessado neste  LINK

BORSAGLI, Alessandro; MEDEIROS, Fernanda Guerra Lima. O Racionalismo como Progresso: A Avenida Afonso Pena e a sua importância no crescimento urbano de Belo Horizonte. In: BORSAGLI, Alessandro. Sob a sombra do Curral del Rey: alcunhada Bello Horizonte. São Paulo: Clube de Autores, 2017. 220p.


 

Inaiá e as Arrudas, exposta na Casa das Artes Bissaya Barreto em Coimbra


A imagem "Inaiá e as Arrudas", de minha autoria, foi vencedora no International Competition of Ethnographic Photography: "UrbanAct. Images of Environmental Action and Activism in the City", e foi feita durante as gravações do filme Olhos de Inaiá no ano de 2016. O concurso foi promovido pela @ucoimbra e @cias_uc

O júri do concurso foi presidido pela vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cláudia Cavadas, e teve como integrantes Alexandre Lemos, Cristina Padez, Michael Herzfeld, Sara Dias-Trindade, Tiago Castela e Gonçalo D. Santos.

Abaixo uma parte do texto que acompanhou a imagem, exposta em Coimbra:

"Inaiá, índia que reinava nos bosques e matas brasileiras, ao se deparar com a aridez urbana, onde as águas se tornaram cinzentas e as matas foram substituídas pelo concreto estático, errático, apático, apenas observa. Sem o seu verde ciliar, sem as Arrudas que forravam o seu território e que hoje dá nome ao rio, ela contempla o que restou do seu habitat, antes belo, hoje mutilado e fragmentado pela urbe. A imagem, obtida durante uma intervenção realizada em 2016, chama a atenção para o conjunto de elementos que integram a paisagem da cidade de Belo Horizonte, que abrigava frondosas matas e águas puríssimas, que acabaram por dar lugar ao asfalto e ao concreto durante o processo de evolução urbana da capital do Estado de Minas Gerais.

A imagem, resultante da dinâmica urbana-antrópica-ambiental característica das grandes cidades brasileiras, onde ao verde e imposto o controle ou o desaparecimento, é uma parte de um todo que visa promover a reflexão das consequências decorrentes de um modelo urbano que contribuiu de maneira decisiva para o rompimento entre as sociedades urbanas e os elementos naturais, antes vistos como imprescindíveis para a vida e atualmente vistos por muitos como elementos alienígenas em meio urbano".


Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis