Transbordamento do Leitão (1940), Rua são Paulo. Acervo Fernandes Linhares Morais publicada no livro Rios invisíveis da metrópole mineira (2016) e Rios urbanos de Belo Horizonte (2020).


Neste mês de janeiro de 2024 vários locais de Belo Horizonte ficaram submersos, o que não é novidade nenhuma no ano do centenário das primeiras intervenções da rede hidrográfica da capital mineira (sim, começaram maciçamente a partir do ano de 1924, e os transbordamentos também, tudo isso se encontra no livro Rios invisíveis da metrópole mineira, publicado há exatos oito anos).

 

Bacias como a do córrego do Leitão, apesar das intervenções realizadas ininterruptamente há um século nunca estarão livres dos transbordamentos, potencializados pelas intervenções, impermeabilizações e incompetências que tanto caracterizam a grande maioria das administrações municipais desde o ano de 1898 no que diz respeito aos elementos naturais em meio urbano.

 

Enfim, mais uma vez passamos pelos mesmos problemas que nunca serão plenamente solucionados, problemas que poderiam ter sido mitigados no passado e no presente e que nunca erradicados, pois transbordamentos são fenômenos naturais potencializados pela ação antrópica, pela incompetência das administrações municipais e agora pelas mudanças climáticas.

 

“Nesse sentido, pode-se concluir que o problema dos transbordamentos se deve pela insistência do ser humano em habitar áreas que não deveriam ser habitadas e modificadas, como as planícies de inundação. No entanto, as sociedades buscam desde a antiguidade intervir nos fenômenos da natureza, na esperança de que um dia alguns dos fenômenos possam ser controlados, ainda que a busca contribua para a alteração dos fenômenos, no qual Brito (1944, p.49) observa que o problema das inundações é, portanto, um problema estabelecido pelos caprichos da atividade do homem, onde a impossibilidade de se resolver o problema deve ser aceito para que se evite trabalhos desnecessários, o desperdício de vultosas quantias e desilusões” (BORSAGLI, 2019).


 Para saber mais: Borsagli, Alessandro. Do convívio a ruptura: a cartografia na análise histórico-fluvial de Belo Horizonte (1894/1977). Belo Horizonte, 2019, que pode ser baixada/lida neste LINK

 Borsagli, Alessandro. Rios invisíveis da metrópole mineira (2016); Rios urbanos de Belo Horizonte (2020).




Devido à mudança nas regras do Issuu, que limitou o acesso aos arquivos grandes, o livro Arraial de Bello Horizonte, publicado no ano de 2019 pode ser baixado no link abaixo:


Boa leitura a todos e um ótimo 2024!

 

Entroncamento das estrada para os Fechos (Speedway) e estrada Belo Horizonte-Macacos 
(Trilha Perdidas) no ano de 1952. Imagem encontrada e identificada durante as pesquisas.
Acervo APCBH/ASCOM

Link para leitura: CLIQUE AQUI    

     Três anos para encontrar a história da icônica Trilha Perdidas.

Ou, três décadas. Foi lá nos anos 1990 que @borsagli começou a pedalar por este emaranhado de caminhos nas bordas de Nova Lima com Belo Horizonte, ligando os Ribeirão de Macacos e Mutuca.

@bernardobiagioni só apareceu para pedalar e correr aqui nos anos 2000. Mas, escrevendo um artigo sobre o Forte de Brumadinho, em 2020, encontrou o rumo da Trilha Perdidas em um mapa de 1936. E, depois, em documentos do século XIX.

     Mas, peraí, a Perdidas não era essa trilha aberta pelas motos?

Depois de três anos em intensas correspondências digitais, com mais de 30 horas de áudios e infinitos documentos trocados, publicamos enfim o artigo Das Tropas às Trilhas.

Mais do que a história da Perdidas, este trabalho é uma investigação profunda dos primeiros caminhos que definiram a ocupação do hoje chamado Quadrilátero Aquífero
Ferrífero. E, adivinhe só: a Perdidas sempre esteve por aqui!

À todos os motoqueiros, trilheiros, jipeiros, ciclistas, corredores, caminhantes e entusiastas em geral, fica o convite para a leitura. O artigo se encontra publicado no Cadernos de Geografia do PPGG TIE PUC Minas (Qualis da Geografia A1), com link em nossos perfis.

Espalhe e marque aqui quem possa se interessar. Que a mãe das trilhas tenha o seu valor reconhecido e não se perca em meio aos extravios morais de nossa sociedade. Que continue proporcionando às gerações futuras o que ela proporcionou e proporciona para a nossa.

     Quem sabe ainda dá tempo de salvar este caminho e esta história dos tempos estranhos que se anunciam no horizonte?




 

Acervo AGC

Complexo da Pampulha ano 80: no que diz respeito ao meio ambiente e as águas represadas do ribeirão Pampulha não há nada para se comemorar. A moldura do Complexo Arquitetônico se encontra há décadas degradada, marginalizada, abandonada. 


A Pampulha é bela, é tricentenária, não é apenas modernista, não se resume a uma represa e nem foi inventada por JK.


Ainda assim, segue um pequeno resumo publicado por @borsagli nos anos de 2014, 2016 e 2017:

 

“A represa da Pampulha foi construída na bacia do ribeirão Pampulha, formado pelos córregos Ressaca e Sarandi, entre outros pequenos afluentes. A represa, cuja construção se iniciou na gestão de Octacílio Negrão de Lima (1935-1938) tinha como objetivo o abastecimento de água da capital e proporcionar um espaço para a prática de esportes aquáticos, dentro do desenvolvimento do lazer promovido na Era Vargas para a população dos centros urbanos.

 

Em 1941 a represa foi transformada em área de lazer para a população belorizontina e seria amplamente utilizada pela administração Juscelino Kubitscheck e demais administrações municipais para promover a urbe mineira como uma capital moderna e como atrativo turístico de uma cidade de meia idade. A estratégia de projeção da região se completou com a construção do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, cujo projeto coube a artistas e arquitetos conhecidos pelos trabalhos de vanguarda realizados na década anterior.

 

De acordo com JK, a construção do Complexo era imprescindível, pois não se podia frear o desenvolvimento urbano de Belo Horizonte, sendo necessária a continuidade do crescimento urbano para as regiões mais afastadas, projetando a capital como um dos grandes centros urbanos brasileiros, na vanguarda do modernismo e do morar moderno:

 

"A Pampulha era uma imposição do progresso da capital, traduzido no crescimento constante da área edificada e na projeção vertical das construções, quando os arranha-céus vieram substituir casas velhas e sem conforto. Compreendemos ser a ocasião propícia para dar a cidade uma série de atrações que em outros centros de população densa constituem fator preponderante para o desenvolvimento do intercâmbio turístico, uma das mais rendosas indústrias que podem contar as cidades" (JK, 1943).


Acervo Alessandro Borsagli

 

Fonte: Acervo EM - Hemeroteca Histórica

Entra ano, sai ano e as tragédias continuam a ocorrer, potencializadas por uma sucessão de erros seculares que contribuem significativamente para o triste espetáculo dos transbordamentos em meio urbano, ocasionados por um fenômeno que precisa ser respeitado e compreendido, e que nunca será controlado.

“As intervenções na rede hidrográfica de Belo Horizonte acarretaram na piora dos transbordamentos dos fundos de vale a partir de 1930, sendo que apenas o período compreendido entre 1965 e 1977 apresenta uma sensível melhora nos transbordamentos dos afluentes do ribeirão Arrudas, que apresentou ao longo do processo de evolução urbana um aumento gradativo dos transbordamentos, ressaltando que as grandes obras de intervenção fluvial se iniciaram na bacia do ribeirão da Onça apenas no ano de 1974. Ademais, observa-se que os transbordamentos nas bacias do Arrudas e Onça ocorrem de maneira regular desde o final da década de 1970, fenômeno agravado pela realização de obras mal planejadas e mal executadas.

Ressalta-se que o alto grau de impermeabilização das sub bacias e a massa hidráulica drenada para o canal do Arrudas podem ser considerados fatores determinantes no seu transbordamento regular, onde as perdas materiais e humanas ocorrem de maneira frequente há cerca de nove décadas. Nesse sentido, pode-se concluir que o problema dos transbordamentos se deve pela insistência do ser humano em habitar áreas que não deveriam ser habitadas e modificadas, como as planícies de inundação.

No entanto, as sociedades buscam desde a antiguidade intervir nos fenômenos da natureza, na esperança de que um dia alguns dos fenômenos possam ser controlados, ainda que a busca contribua para a alteração dos fenômenos, no qual Brito (1944) observa que o problema das inundações é, portanto, um problema estabelecido pelos caprichos da atividade do homem, onde a impossibilidade de se resolver o problema deve ser aceito para que se evite trabalhos desnecessários, o desperdício de vultosas quantias e desilusões."
Fonte: @borsagli (2019)

Imagem: Estado de Minas (1962) publicada no artigo Do protagonismo à invisibilidade: Geografia Histórica do córrego do Acaba Mundo e a sua relação com o sítio de Belo Horizonte-MG (1716/1973) que pode ser acessado neste Link




Repostando (PPGG-UFRJ): "Mais uma dica de leitura e download aqui da página, o lançamento do e-book "RIOS URBANOS: diferentes abordagens sobre as águas nas cidades". Autores: Alexander Costa - Luisa Schneider (Orgs.).

SOBRE O LIVRO:

Nas primeiras décadas do século XXI, a discussão sobre a água ganhou crescente relevância, com avanços perceptíveis tanto no meio acadêmico como na sociedade em geral. Entretanto, dada a importância desse elemento da natureza, há um longo caminho a ser percorrido. Apesar de a água ter a sua importância reconhecida por diferentes segmentos das sociedades, ainda assistimos ações e atividades que causam e perpetuam degradações nos corpos hídricos de ambientes rurais e urbanos. O livro Rios Urbanos: diferentes abordagens sobre as águas nas cidades lança um olhar específico para rios presentes em inúmeras cidades brasileiras. Nos ambientes urbanos, onde se concentra a ampla maioria da população do país, as relações estabelecidas entre sociedade e natureza causam profundas intervenções sobre os corpos hídricos, levando a um complexo quadro ambiental de degradação e modificação de seus rios. As pesquisas apresentadas nos capítulos contribuem para o entendimento desse quadro e servem de estímulo para o surgimento de novas pesquisas sobre rios urbanos, como forma de entender seus problemas e apontar direções para ações sociais e governamentais".

Para download, acesse: https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/37340-rios-urbanosbr-diferentes-abordagens-sobre-as-aguas-nas-cidades?fbclid=IwAR30eoSSsdg3aJRI3t3p-u5NZtZsl9UBCQWVSzthQe-rdevIJT42cCrF_DY

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis