Publico abaixo uma série de fotos tiradas em Belo Horizonte no decorrer da década de 40. As imagens, na sua maioria retratam as obras realizadas pelas duas principais gestões da década: a gestão do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira e do Prefeito Octacílio Negrão de Lima. Nessas fotos e nas outras que também publico podemos notar uma capital em transição, traduzida principalmente pela verticalização da área central, a industrialização e da continuidade de expansão da sua malha urbana ou seja, uma cidade que perdia definitivamente a imagem de uma capital pacata e tranquila iniciando-se então o processo de metropolização que trouxe consigo todos os problemas no que diz respeito a infra-estrutura e transportes. As fotos estão publicadas em ordem cronológica para facilitar a compreensão da mudança espacial de Belo Horizonte.

Área central de Belo Horizonte em 1940 destacando-se, entre outros edifícios o Ibaté e o Capichaba, os primeiros construídos na capital. Imagem obtida da Feira de Amostras.
Fonte: Acervo MHAB

Avenida Afonso Pena no cruzamento com Rua Tamoios.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Avenida Santos Dumont nas proximidades da Rua Espirito Santo.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Avenida Paraná desobstruida na esquina com Rua Tupis. Essa obra permitiu prolongar a via até a Avenida Amazonas.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Alargamento da ponte sobre o Córrego do Leitão na esquina da Avenida Amazonas e Rua Padre Belchior.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Ponte sobre o Córrego do Leitão nas esquinas das ruas Tupis e Rio Grande do Sul. Ao fundo o Edifício Randrade em construção, o primeiro construído no entorno da Praça Raul Soares.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Ponte construída sobre o Arrudas na Rua Acre, rua hoje escondida sob o Viaduto da Rodoviária.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Alargamento da Ponte sobre a linha da EFCB na Avenida do Contorno. A direita o Frigorífico Perrela.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.

Praça Raul Soares nos anos 40. Ao fundo a Avenida Amazonas e em destaque os primeiros edifícios construídos na capital. Da esquerda para direita destacam-se as pontas dos Edifícios Ibaté, Capichaba, Lutélia e Brasil.
Fonte: BH Nostalgia

Avenida Antônio Carlos nas proximidades da Rua Formiga. À esquerda o Conjunto IAPI.
Fonte: APCBH/ASCOM

Avenida José Bonifácio no bairro popular (IAPI) e a esquerda parte da Pedreira Prado Lopes.
Fonte: APCBH/ASCOM

O recém inaugurado Conjunto IAPI e ao fundo a Pedreira Prado Lopes. Mais a esquerda, ainda desocupada a parte da Pedreira aonde se extraia o Granito usado em parte das primeiras construções e no calçamento da capital.
Fonte: BH Nostalgia

Estrada da Pampulha, atual Avenida Antônio Carlos na altura do bairro São Francisco.
Fonte: APCBH/ASCOM

Cruzamento da Avenida Afonso Pena e Rua da Bahia em meados dos anos 40.

Imagem obtida da antiga Estação da Gameleira onde se vê a construção da ponte sobre as linhas da EFCB na Gameleira. Foto de 1945.

Área central de Belo Horizonte em 1948 vendo-se o Edifício Acaiaca em construção.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1948.

Abertura da Rua Conde de Linhares em 1948.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1948.

Calçamento da Rua Montes Claros em 1949.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1949.

Calçamento da Rua Lavras em 1948.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1948.

Calçamento da Rua Mauá de Cima, antiga Rua do Ramal.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1948.

Calçamento da Rua Turfa.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1948.

Vista da área central de Belo Horizonte na segunda metade dos anos 40.
Fonte: APM

Praça Raul Soares na segunda metade dos anos 40 vendo-se a Avenida Amazonas já prolongada. Ao fundo as árvores que circundam o Reservatório dos Pintos (Pedra Bonita) no Alto Barroca. Foto tirada do Edifício Tupi.
Fonte: BH Nostalgia

Calçamento da Rua Almirante Alexandrino em 1949.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, 1949.

Cena constante no transporte público de Belo Horizonte ao longo das décadas: poucos carros para atender a população que não parava de crescer.
Fonte: BH Nostalgia

Cursos d'água inseridos na zona urbana planejada de Belo Horizonte (1895).
Fonte: APCBH acervo CCNC

   Quando se projetou a nova capital no final do Século XIX os cursos d’água que atravessariam a zona urbana – no caso os Córregos do Acaba Mundo, Serra e Leitão¹ foram simplesmente ignorados pela Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC), como se vê na Planta Cadastral de 1895. Com exceção do Ribeirão Arrudas os cursos d’água não estavam em harmonia com a malha urbana projetada, atravessando inclusive diversos quarteirões que foram projetados sobre a calha dos córregos.
   Entre 1897 e 1920 eles ainda estavam no seu leito natural, tendo sofrido poucas modificações ao longo dos anos. Mas é na década de 20 que se tem o inicio da retificação dos cursos d’água e da canalização dos mesmos. Essas medidas visavam adequar os cursos d’água ao crescimento urbano, pois a canalização possibilitaria a abertura das vias projetadas e a construção e ocupação dos quarteirões. Era uma medida que permitia a continuidade da expansão da malha urbana, mas que traria sérias conseqüências para a população da capital, como veremos adiante.
   As canalizações também visavam resolver o problema das enchentes que ocorriam com freqüência na capital. Naquela época acreditava-se que ao canalizar um curso d’água solucionaria o problema das enchentes, desbarrancamentos etc. Atualmente sabemos que a canalização atenua mas não resolve esse problema.
   A canalização de um curso d’água na maioria das vezes o desvia do seu leito natural, passando a não existir mais os obstáculos naturais que ajudam a diminuir a velocidade da água. Com isso as águas passam a correr com mais velocidade aumentando a sua vazão e levando os problemas das enchentes para as áreas mais próximas da sua foz. A impermeabilização do solo, a retirada da cobertura vegetal e a ocupação das várzeas também contribuem para o agravamento do problema².


Córrego do Acaba Mundo antes da sua canalização na Rua Bernardo Guimarães. 
Ao fundo a Avenida Afonso Pena.
Fonte: MHAB

   O primeiro curso d'água a ser retificado e canalizado foi o Ribeirão Arrudas que teve a canalização da área central (trecho entre as proximidades da Ponte do Saco e a Avenida do Contorno na Ponte do Perrela) concluída no inicio da década de 30. A canalização do trecho urbano foi concluída somente em 1940 na administração JK.
   Já os três córregos citados (Acaba Mundo, Serra e Leitão), todos afluentes da margem direita do Arrudas também tiveram a sua retificação e canalização a céu aberto iniciada nos anos 20. O Acaba Mundo era o mais problemático, pois atravessava o bairro funcionários e desaguava na área central de Belo Horizonte, dentro do Parque Municipal. No período das chuvas ele transbordava, danificando ruas e pontes que eram obrigadas a passar por intermináveis reparos e conforme dito anteriormente o seu leito prejudicava a regularização dos quarteirões compreendidos na 5ª e 6ª Seção Urbana. A solução foi canalizá-lo, aterrando o seu leito natural e construindo outro ao longo da Rua Paraibuna, atual Professor Morais e da Avenida Afonso Pena. Nessa época devido a falta de emissários de esgoto na região os efluentes eram jogados in natura no córrego, o que gerou muitas reclamações por parte da população.
   O córrego do Leitão até o inicio dos anos 1920 não recebeu muita atenção da municipalidade, pois ele atravessava uma grande parte da cidade que ainda não havia sido urbanizada. A partir da segunda metade da década de 1920 é que se tem o inicio da ocupação dessa zona da capital. A prefeitura então inicia a retificação e a canalização do córrego desde a sua foz até a recém aberta Rua Alvarenga Peixoto. Nos anos seguintes a canalização foi estendida até a Avenida do Contorno, nas proximidades da antiga sede da Fazenda do Leitão. As suas águas inicialmente não recebiam esgotos, pois quando da sua canalização foram instalados coletores de esgotos paralelamente ao seu curso, evitando então que se despejassem os efluentes em suas águas.
  Já o córrego da Serra nascia nas vertentes da Serra do Curral e atravessava parte dos bairros Funcionários e Santa Efigênia indo desaguar no Arrudas, no local onde existiu uma Fabrica de Ferro no Século XIX e posteriormente o Matadouro Velho, nas proximidades da favela União ou “Ilha do Urubu”, aglomerado que ali existiu à partir da década de 1950 e erradicado quando foi estendida a canalização do Arrudas nos anos 1980.


Córrego do Acaba Mundo recém canalizado para a Avenida Afonso Pena.
Fonte: APM


O Córrego do Leitão canalizado entre as ruas Gonçalves Dias e 
Alvarenga Peixoto.
Fonte: APM


Canalização do Córrego do Leitão nas proximidades da sua foz.
Fonte: Acervo MHAB


Canalização do Ribeirão Arrudas nas proximidades da Rua Ceará. 
Ao fundo o Instituto Afonso Pena.
Fonte: APM


Canalização do Arrudas entre as Ruas Curitiba e Rio de Janeiro.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacilio Negrão de Lima,1935.


Canalização do Arrudas nas proximidades do Prado.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Octacilio Negrão de Lima,1935.


Canalização do Córrego da Serra no bairro Funcionários.
Fonte: APM


Canalização do Córrego da Barroca na Rua Araguari.
Fonte: APM

    O crescimento acelerado de Belo Horizonte a partir dos anos 1950 não permitiu que os serviços de infra-estrutura acompanhassem esse aumento populacional. Os cursos d’água tornaram-se redes de esgotos, pois os emissários existentes não suportavam o volume e além disso eles sofriam com o lixo que assoreavam o seu leito. Diante do colapso iminente no inicio dos anos 1960 toma-se a decisão de fechar os cursos d’água que atravessavam a região central, eliminando assim o mau cheiro, o risco de doenças e principalmente as inundações que já faziam parte do cotidiano do belorizontino no período das chuvas. O fechamento dos córregos também procurava melhorar o tráfego na capital que havia aumentado consideravelmente a partir de 1950 e ainda visava o embelezamento da cidade, pois havia um movimento para que Belo Horizonte voltasse a ter o titulo de “Cidade Jardim”, abalada desde o corte das árvores da Avenida Afonso Pena em 1963.
   O primeiro córrego no qual se iniciaram as obras foi o Acaba Mundo em 1963. Como projetado pela Comissão Construtora o córrego despejava as suas águas nos lagos do Parque Municipal depois de atravessar boa parte da zona sul da capital e parte do bairro Funcionários, recolhendo os esgotos dessa área extremamente adensada. Em prol da saúde e do bem estar da população o córrego foi fechado entre a Rua Professor Morais e a Avenida Afonso Pena. Já os lagos do Parque Municipal que recebiam as águas provenientes do córrego passaram a ser alimentados pelas águas subterrâneas, sendo o Acaba Mundo desviado dos lagos e canalizado até a foz do Ribeirão Arrudas. No inicio dos anos 1970 foi concluída a sua canalização na Avenida Uruguai e em 1980 o córrego foi coberto na Avenida Afonso Pena e foi construído sobre o seu leito um canteiro central ajardinado.


                                      O Acaba Mundo em 1950 na Rua Professor Morais.
                                                           Fonte: APCBH/ASCOM


Obras de cobertura do canal do Acaba Mundo no cruzamento das 
Ruas Professor Morais e Tomé de Souza em 1963.
Fonte: APCBH/ASCOM


O Acaba Mundo revestido e canalizado no cruzamento da Avenida 
Afonso Pena.
Fonte: APCBH/ASCOM


Alargamento das galerias do Acaba Mundo no cruzamento da 
Avenida Afonso Pena e Rua Rio Grande do Norte.
Fonte: APCBH/ASCOM

   O córrego do Leitão passara a receber esgotos em suas águas devido à deficiência dos emissores destinados ao transporte dos efluentes. O grande e desordenado crescimento urbano foi à principal causa desse problema e o aumento da ocupação das vertentes do córrego nas proximidades de suas cabeceiras desencadeou o lento processo de assoreamento que nos períodos de chuva enlameava diversas ruas ao longo do seu curso. Outro problema que se verificava era o lançamento de lixo nas suas águas, principalmente na altura do Mercado devido a falta de consciência da população³ e da coleta deficiente de lixo por parte da Prefeitura que se agravou no decorrer da década de 60. A situação do lixo era tão grave que em alguns trechos do Ribeirão Arrudas ele impedia o escoamento normal das águas criando assim um ambiente propicio para a proliferação de doenças.
   No final dos anos 60 tem-se o inicio das obras de cobertura do canal do Córrego do Leitão assim como a sua canalização e cobertura na região da Cidade Jardim para a abertura da Avenida Prudente de Morais. Paralelamente as obras de cobertura do Leitão inicia-se a construção do elevado Castelo Branco na Avenida Bias Fortes. Concluída em 1972 a cobertura do córrego proporcionou a melhoria do fluxo viário na região, uma das justificativas para o seu sepultamento.
   Já o Córrego da Serra foi totalmente canalizado na Zona Urbana e fechado no inicio dos anos 70 em toda a extensão do bairro Santa Efigênia em parte das ruas dos Aimorés, Piauí e Maranhão. Era o sepultamento do primeiro manancial de água que serviu a capital.


O Córrego do Leitão em 1947 na Rua Padre Belchior.
Fonte: APCBH Coleção José Góes


Início da cobertura do canal do Córrego do Leitão em 1970 
supervisionado pelo Prefeito Souza Lima. 
Fonte: APCBH/ASCOM


Canalização do Córrego do Leitão para a abertura da Avenida 
Prudente de Morais. Ao fundo o edifício do TRE em 
construção e o Conjunto IAPB.
Fonte: APCBH/ASCOM


Cobertura do Córrego do Leitão na Rua Padre Belchior.
Fonte: Desconhecida


Cobertura do Córrego do Leitão na Rua São Paulo no ano de 1971.
Fonte: Desconhecida


Canalização do Córrego da Serra.
Fonte: APCBH/ASCOM


Canalização do Córrego da Serra na Rua Piauí. Ao fundo a Santa Casa de Misericórdia.
Fonte: SANEAMENTO básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos - Coleção Centenário, FJP

   Como dito anteriormente o Ribeirão Arrudas, a principal drenagem da capital era (e ainda é) o receptor dos córregos citados acima, todos afluentes da sua margem direita. Desde a inauguração da capital em 1897 ele já sofria com o despejo de esgotos em suas águas, apesar da construção dos emissários a partir da década de 10. Com o passar dos anos a situação piorou cada vez mais devido ao crescimento populacional e o descompasso da prefeitura em relação aos investimentos necessários em saneamento. A partir dos anos 50 com o crescimento da cidade Industrial e da ocupação das áreas ao longo do ribeirão a poluição se tornou evidente e nos anos 70 ela “matou” o Ribeirão que passou a exercer a função que os emissários de esgotos deveriam ter. Os alagamentos no período das chuvas eram constantes e no inicio dos anos 80 começaram os trabalhos de alargamento e aprofundamento do canal do ribeirão visando acabar com as enchentes na região central sendo a canalização estendida ate a Avenida Silviano Brandão e nos anos 90 até o bairro Vera Cruz.
   O Boulevard Arrudas inaugurado em 2007 no trecho entre as Ruas Pernambuco e Rio de Janeiro foi construído com o intuito de melhorar o fluxo viário na região central inserida no Projeto da Linha Verde e o embelezamento da Praça da Estação que passava por uma requalificação.


Ribeirão Arrudas na região da Lagoinha no inicio dos anos 1960. 
A direita a antiga Rodoviária.
Fonte: APCBH/ASCOM


Obras de alargamento e rebaixamento do leito do Arrudas em 
1981 entre o Parque Municipal e a Ponte do Perrela.
Fonte: Desconhecida


Obras de alargamento e rebaixamento do leito do Arrudas em 1982.
Fonte: Desconhecida


Obras de alargamento e rebaixamento do leito do Arrudas em 1984 na Praça da Estação.
Fonte: SANEAMENTO básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos - Coleção Centenário, FJP


O Ribeirão antes de ser canalizado após a Ponte do Perrela. A direita pode-se ver parte da Ilha do Urubu (Favelas União/Urubus), a esquerda a Favela do Perrela e ao fundo o bairro de Santa Tereza.
Fonte: SANEAMENTO básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos - Coleção Centenário, FJP


As duas imagens do ano de 1967 e 2008 respectivamente mostram 
como era o leito do Arrudas antes da sua retificação e canalização nos anos 80. 
É notável a mudança sofrida no espaço, assim como o desaparecimento 
de grande parte da Ilha do Urubu (Favelas do Perrela e União) e o 
aterramento do antigo leito na altura da fábrica de Pregos São Lucas.
Acervo APCBH e Google Earth


   O que se vê atualmente em Belo Horizonte (2010) já está em desuso em boa parte do planeta: um fechamento de um curso d’água visando a melhoria da mobilidade urbana. Claro que no caso do Arrudas é necessária uma reflexão sobre as vantagens e desvantagens em deixar o seu curso aberto ou fechado. Ao longo do seu curso está uma das redes de articulação viária mais importantes de Belo Horizonte. A degradação ao longo do seu curso demanda uma urgente requalificação urbana no seu entorno e mesmo uma reurbanização em algumas áreas, principalmente na região do Barreiro. Mas a politica adotada pelo Poder Público vai contra tudo o que é divulgado pelo próprio Governo, em relação a forma como está se tratando dos cursos d'água da capital.
   Sejamos realistas: a despoluição e descanalização do Arrudas, tão discutida nesses últimos anos é uma tarefa quase impossível no atual contexto urbano em que vivemos. Para tal teria que se realizar uma grande intervenção em diversos pontos da capital e de Contagem, coisa impossível de se realizar atualmente pois interceptar 100% dos esgotos e renaturalizar o Ribeirão é uma árdua tarefa para as próximas décadas e que precisará de um vultuoso investimento por parte do Poder Público. Por isso, entre outros fatores é que o “problema” – assim é visto o Arrudas, um problema causado por nós deve ser erradicado da paisagem e sobre ele alargar as Avenidas, visando melhorar o fluxo viário e resolvendo o problema dos congestionamentos nos horários de pico, momentaneamente. Mas é bom lembrar que as suas águas continuarão poluídas e que certamente a população só se lembrará delas quando o Ribeirão tomar o que é seu por direito nas grandes enchentes.


O Córrego do Acaba Mundo durante as chuvas de 1999.
Fonte: Foto do Autor


Foz do Córrego da Serra no período chuvoso de 2009.

 Fonte: Portal EM/UAI


Ribeirão Arrudas na altura do bairro Betânia em 2009.
Fonte: Portal EM/UAI

   Pode-se afirmar que a grande maioria dos córregos e ribeirões que atravessam a capital, verdadeiros rios invisíveis tiveram o mesmo destino: passaram a integrar a rede de esgotos de Belo Horizonte. A transformação da paisagem foi radical, primeiramente com a canalização dos rios urbanos e posteriormente com a cobertura deles, ocultando-os da paisagem e legando a eles o papel de condutores de esgotos. A impermeabilização (concretagem) do fundo dos córregos e a extinção de sua várzea acarretam problemas que são visíveis nas grandes enchentes quando os córregos tomam o que é seu por direito alagando as vias construídas sobre eles. Assim sendo, qualquer semelhança da intervenção que se realiza atualmente (2010) no Ribeirão Arrudas com a intervenção realizada nos córregos do Acaba Mundo, Leitão e Serra nas décadas de 60 e 70 NÃO é mera coincidência, pois só muda a largura e a extensão, mas o destino deles foi e continuará sendo o mesmo³¹ até que se adote uma política de reinserção dos cursos d'água cobertos na paisagem urbana.


Obras do Boulevard Arrudas e a cobertura do ribeirão Arrudas na 
altura da Rua Paracatu.
Fonte: Foto do Autor


O Córrego do Acaba Mundo sob a Rua Professor Morais em Maio de 2010.
Fonte: Foto do Autor


Córrego do Leitão a jusante da Barragem Santa Lúcia.
Fonte: Foto do Autor


Córrego da Serra no ponto em que atravessa a Rua Cícero Ferreira.
Fonte: Foto do Autor


*2011: Recomendo a leitura do artigo Os córregos e a metrópole - a inserção no espaço urbano dos cursos d’água que atravessam a zona urbana de Belo Horizonte apresentado no XII Simpósio Brasileiro de Geografia Urbana.


¹ Existiam além desses cursos d’água citados outros que também percorriam a zona urbana, tais como o Córrego do Mendonça, do Zoológico, Mangabeiras, da Barroca etc. depois de canalizados foram posteriormente (e naturalmente) convertidos em coletores de esgotos, assim como os outros.

² A curva de 90º existente no Arrudas na Praça da Estação retinha as águas nos períodos de chuva e em conseqüência alagava toda a área adjacente ao Ribeirão fechando, inclusive, a foz dos córregos do Pastinho e Leitão que transbordavam causando grandes estragos. A solução encontrada no caso do Pastinho foi fazer uma segunda saída para o melhor escoamento das águas. Com o rebaixamento do leito do Arrudas no inicio dos anos 80 a foz dos dois córregos passaram a desaguar bem acima do nível das águas do ribeirão, diminuindo consideravelmente o risco de alagamentos, no entanto, nas grandes cheias ainda são susceptíveis.

³ A falta de conscientização da população naquela época era alarmante, os cursos d’água eram simplesmente tratados como deposito de lixo, pois para ela a água leva tudo que é indesejável nos centros urbanos como o lixo, esgotos, animais mortos etc. O Poder Público por sua vez não ajudava, faltava investimentos na área e o sistema de coleta de lixo estava à beira de um colapso. As enchentes, freqüentes nesse período levava para as ruas e avenidas todo o material depositado nos cursos d’água, aumentando ainda mais o desejo de ver os córregos erradicados da área urbana, ou seja, na verdade era esconder o “problema” debaixo do tapete. E a população apoiou e aplaudiu o fechamento dos cursos d’água.

³¹ O programa DRENURBS / NASCENTES lançado pela Prefeitura em 2001 e atualmente convertido em canalizações, propõe, entre outras coisas a “recuperação ambiental que implica em reverter a degradação em que se encontram os córregos não canalizados da cidade. A proposta de sanear os fundos de vale significa combater as causas da poluição das águas, esta originada não apenas nos fundos de vale como também e, principalmente, nas respectivas bacias de drenagem”. É um programa que foi lançado tardiamente, mas que já apresenta resultados em alguns pontos específicos da capital, apesar da contínua cobertura dos rios urbanos, no mínimo contraditório para não nos aprofundarmos mais. Para saber mais sobre o programa recomendo o acesso ao site http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ e acessar o link “programas e projetos”.



Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis