O poluído córrego do Gentio na Rua Outono em 1966, cujas margens eram utilizadas para o despejo de lixo e entulho dos moradores da região e mesmo de locais mais distantes. A imagem atesta o desrespeito da população e a negligencia do Poder Público em relação aos cursos d'água de Belo Horizonte.
Fonte: APCBH/ASCOM

O córrego do Gentio, principal afluente do córrego do Acaba Mundo, tem as suas nascentes localizadas na Serra do Curral, canalizadas atualmente sob as ruas Francisco Deslandes, Vitorio Marçola e Odilon Braga (esta considerada a verdadeira nascente do córrego, próximo a Fundação Guignard). A região atravessada pelo curso d’água, assim como ocorreu com a sub bacia do Acaba Mundo, foi inserida nas terras da Colônia Agrícola Adalberto Ferraz, que existiu onde estão atualmente os bairros Carno, Sion, Anchieta e Cruzeiro. Após a anexação à 1ª Seção Suburbana em 1912 as terras pertencentes a bacia do córrego do Gentio foram sendo gradativamente ocupadas, apesar da falta de infra estrutura urbana nessa porção da capital, escassamente povoada. 
Assim como os demais cursos d’água que atravessam a zona urbana de Belo Horizonte compreendida dentro dos limites da Avenida do Contorno, o córrego do Gentio sofreu ao longo do Século XX o mesmo processo de degradação e poluição de suas águas devido a ocupação das suas vertentes, inicialmente dos lotes mais próximos a Avenida do Contorno e Rua Grão Mogol, e a partir da segunda metade da década de 40 as vertentes a direita da Rua Pium i, correspondentes aos bairros Carmo e Anchieta e a região da caixa d’água do Cruzeiro, nesse período ocupada pela Favela do Pindura Saia. Tal degradação se deu devido a falta de investimentos na infra estrutura urbana (principalmente o saneamento) e da venda de diversos lotes que davam fundo para o curso d’água, onde o despejo de esgotos e de lixo era feito diretamente nele.

Córrego do Gentio na Planta Cadastral de 1928.
Fonte: APCBH

O córrego do Gentio e as suas respectivas ruas construídas sobre o seu leito em imagem aérea de 1953. À direita parte do córrego do Acaba Mundo, encaixotado atualmente sob a Avenida Uruguai.
Fonte: APCBH

Na década de 60, a região sul de Belo Horizonte passou a ser prioritária para a expansão urbana da capital, visando às camadas mais abastadas (recomendo a leitura do artigo Metamorfoses Urbanas: Avenida Afonso Pena). A arrecadação aumentaria com a urbanização das vertentes e canalização dos córregos já poluídos da região, no caso aqui o Gentio e seus afluentes, convertidos em emissários de esgotos que não davam conta dos efluentes das residências, cuja ocupação seguia para as suas cabeceiras na Serra do Curral. E sobre o seu leito seriam abertas as principais vias de acesso aos bairros, no caso as Ruas Odilon Braga e Vitorio Marçola, além da Avenida Francisco Deslandes.
Nesse contexto, para a melhoria viária e sanitária, visto que os córregos se encontravam extremamente poluídos foi empreendida pela Prefeitura o alargamento do canal e a cobertura do Acaba Mundo entre os anos de 1963 e 1965 (recomendo a leitura do artigo Qualquer semelhança não é mera coincidência – o destino dos cursos d’água que atravessam a capital) e em 1966 a canalização e cobertura do córrego do Gentio e seus afluentes, além do alargamento do canal coberto na Rua Outono. Tal obra viria a se arrastar por mais de dois anos, visto que a obra, inserida no programa Nova BH 66¹ foi prejudicada com a descontinuação de grande parte do programa pela gestão Souza Lima. Tal obra foi vista por grande parte dos moradores da região como a solução dos problemas das enchentes nos períodos chuvosos e mesmo sanitários, visto que os esgotos eram despejados diretamente no leito do córrego e continuam sendo, apesar do seu canal atualmente não comportar tal volume²

Alargamento da canalização e cobertura do córrego do Gentio na Rua Outono em 1966, dentro do programa Nova BH 66. Nesse período, a cobertura dos cursos d'água e o asfaltamento das vias existentes nas margens dos rios eram vistos como um embelezamento da paisagem urbana.
Fonte: APCBH/ASCOM 

Inicio da antiga canalização do Gentio, no cruzamento das Ruas Outono e Andalizita em 1966.
Fonte: APCBH/ASCOM

Canalização e alargamento do canal do Gentio na Rua Andaluzita em 1966. 
Fonte: APCBH/ASCOM

Rua Vitorio Marçola no final da década de 1960. Abaixo da via corre atualmente um dos braços do córrego do Gentio.
Fonte: APCBH/ASCOM

Parte da Bacia do córrego do Acaba Mundo, onde aparece em destaque o curso atual do córrego do Gentio (encaixotado).
Fonte: PBH

Atualmente sabe-se que tais obras empregadas por toda Belo Horizonte não resolveram o problema das enchentes, na verdade agravou, visto que a impermeabilização do solo, a retirada das árvores e supressão de pequenas matas, a ocupação e o adensamento desenfreado das vertentes e dos fundos de vale (as famigeradas Avenidas “Sanitárias”) aumentou consideravelmente a vazão dos cursos d’água de Belo Horizonte. O Gentio, atualmente identificável pelos gradis nas ruas e pelo antigo leito, perceptível apenas na Rua Caldas é um dos clássicos exemplos de como não deve se tratar um curso d’água no meio urbano, ainda não assimilado pelo Poder Público, que continua a promover a cobertura do ribeirão Arrudas e agora (2013) anunciando o aumento do coeficiente de aproveitamento dos terrenos no vale do Arrudas, apesar do Decreto 4.408  de Janeiro de 1983 que proibia novas edificações ao longo dos cursos d’água da capital, em particular o Arrudas, lembrando que tanto o bairro da Lagoinha quanto o de Santa Tereza, ameaçados pelo faraônico projeto Nova BH (2013) pertencem a bacia do Arrudas. Transcrevo abaixo o Decreto:

O Prefeito de Belo Horizonte, no uso de suas atribuições, considerando:

I - que as disposições do item III, do art. IV, da Lei Federal 6.766, de 19.12.79 e o disposto nos artigos 52 combinado com o art. 9º, § 1º da Lei Municipal nº 2.662, de 29.11.76, justificam as determinações deste Decreto;
II - que a inobservância daqueles dispositivos tem sido fator de graves e irreparáveis danos causados à população, com toda a sequela de tragédias, que, não raro, se traduzem na desolação e no lamentável desenlace fatal de muitos munícipes;
III - que, além das providências já tomadas para diminuição dos transtornos ocasionados aos moradores da região assolada pelas enchentes, compete ao Poder Público tomar medidas acauteladoras, que previnam a repetição futura dos lamentáveis acontecimentos, que tanto sofrimento e prejuízos causaram à população, decreta:

Art. 1º - As faixas de terreno que margeiam os cursos d’água existentes em Belo Horizonte, notadamente as que se situam de um e outro lado do Ribeirão do Arrudas e seus afluentes, são classificados "nom aedificandi", na forma da Lei Federal nº6.766/79. 
Art. 2º - O Município, sobre não aprovar qualquer edificação nas referidas áreas, promoverá a erradicação das construções clandestinas ali já existentes e providenciará a remoção dos moradores para locais adequados. 
Art. 3º - A Prefeitura fiscalizará permanentemente as regiões delimitadas para evitar novas invasões, e demolirá as que ali se construírem, sem qualquer ressarcimento aos que tentarem a violação das Leis e do disposto neste Decreto. 
Art. 4º - Revogadas as disposições em contrário, este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. 

Belo Horizonte, 13 de Janeiro de 1983

Júlio Arnoldo Laender
Prefeito




* Posteriormente divulgarei aqui e pela página do Facebook noticias mais detalhadas sobre a história de alguns cursos d'água de Belo Horizonte. Aguardem que virão novidades.

¹ Esse programa, lançado após o Golpe Militar de 1964 marca a prioridade do veiculo nas politicas urbanas da capital mineira, e a consequente perda de espaço na urbs pelo pedestre. Uma das prioridades do programa era a canalização e cobertura dos córregos para a ampliação das vias destinadas aos veículos individuais e coletivos movidos a Diesel. Qualquer semelhança com o Nova BH de 2013 NÃO é mera coincidência...

² Vi e ainda vejo o esgoto transbordar em diversos pontos do bairro nesses últimos meses, provavelmente devido a impossibilidade do canal e dos emissários comportar tamanho volume de efluentes.
Moradores de Rua na margem esquerda do Ribeirão Arrudas, no cruzamento da Avenida do Contorno e Rua Conquista.
Fonte: APCBH/ASCOM 

      Belo Horizonte já nasceu como uma cidade segregacionista. Desde a sua construção sempre houve um esforço por parte do Poder Público para tentar afastar ao máximo os operários e moradores de baixa renda da Zona Urbana compreendida dentro dos limites da Avenida do Contorno, além de parte dos antigos moradores do arraial do Curral del Rey (recomendo a leitura do subcapítulo “As Favelas da Capital” dentro do Artigo dedicado a Década de 50). Ainda assim, apesar dos esforços por parte dos governantes e das leis segregacionistas elaboradas por eles para a urbanização e venda de lotes na zona planejada uma grande parcela da população segregada formaram as primeiras favelas da capital, sendo que grande parte delas se encontravam dentro dos limites da Contorno nas primeiras décadas do Século XX, mais precisamente no Barro Preto e ao longo do Córrego do Leitão. É bom ressaltar que foi cogitada por alguns políticos mineiros a "devolução" dos operários brasileiros que construíram a nova capital para os seus locais de origem após o término das obras, uma ideia que, de tão absurda, não merece comentários aqui¹.   
      No decorrer das décadas do Século XX essa população foi sendo, aos poucos, expulsas de suas moradias na medida em que se urbanizavam as áreas ainda não regularizadas conforme a Planta da CCNC de 1895, sendo obrigadas a ocupar as áreas mais afastadas do centro e as várzeas e vertentes dos cursos d’água, como por exemplo os Córregos do Leitão e Piteiras. Um caso clássico dessa expulsão foi a Favela da Barroca, que existiu na região hoje ocupada pela Assembleia Legislativa. Os moradores (ou operários), expulsos no período da criação do bairro Santo Agostinho formaram o Morro do Querosene e a Vila dos Marmiteiros, áreas consideradas periféricas e que se encontravam fora dos limites da Contorno. Vale destacar que a presença da população de baixa renda (os operários) dentro da zona urbana projetada pela CCNC se configurava perante a sociedade belorizontina e ao Poder Público como uma ameaça ao projeto concebido para uma elite especifica e com recursos suficientes para adquirir os lotes disponibilizados pelo Poder Público na medida em que este urbanizava as áreas conforme a Planta de 1894. 
     A partir da década de 50 houve um grande aumento do número de Favelas devido ao aumento populacional de Belo Horizonte, que havia se tornado um importante polo de atração da população do interior do Estado e mesmo de outros Estados, visto que a capital mineira estava no caminho via ferrovia de São Paulo, que havia se tornado o centro convergente de grande parte dos imigrantes nordestinos e também a meio caminho do Rio de Janeiro, então Capital Federal. É bom lembrar que a Linha do Centro da Central do Brasil passava pela capital mineira e era por ela que o imigrante nordestino que vinha de Trem se deslocava, desde o entroncamento da Central com a VFFLB (Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro) em Monte Azul. Na virada da década de 50 para 60 Belo Horizonte não estava preparada para receber tamanha população, visto que os equipamentos urbanos necessários para dar tal suporte não foram expandidos pela Municipalidade para todas as áreas, sob a alegação de falta de recursos. E as favelas foram se formando em todas as direções, principalmente para oeste, atraídas pela proximidade da Cidade Industrial. 
     A década de 60 foi marcada pelo caos urbano em quase todos os setores, desde o saneamento básico até a limpeza de ruas e a coleta de lixo. Quem mais sofria com esse caos era a população de baixa renda, que penava com a falta de água encanada e a coleta de esgoto (houve nessa década diversas epidemias em Belo Horizonte que assolaram principalmente a população carente). A questão das moradias também se agravou e o número de moradores de rua aumentou consideravelmente ao longo da década, sendo que a grande maioria se concentrava nas áreas mais próximas ao centro da capital. 
    As encostas dos morros próximos a Avenida do Contorno também foram sistematicamente ocupadas, assim como as margens dos cursos d’água, em particular o Ribeirão Arrudas, que já apresentava um alto grau de poluição em suas águas. Essa ocupação irregular era a mais preocupante, pois as enchentes do Ribeirão eram constantes e sempre faziam vitimas fatais. Somente na década de 70 é que se teve inicio a remoção, de forma bastante lenta das famílias ribeirinhas, mas esse período ficou marcado por duas grandes tragédias: as grandes tragédias dos períodos chuvosos de 79 e 83. 
    Mas por ora iremos nos deter na década de 60, década das fotos aqui publicadas. Esse período se caracterizou pela grande favelização, talvez proporcionado não só pela metropolização, mas também pelos movimentos sociais que surgiram entre 1960 e 1964, período em que as invasões e ocupação de áreas inabitadas e inabitáveis se espalharam por toda Belo Horizonte, desde morros adjacentes aos bairros até as margens das linhas férreas e as margens dos cursos d’água.

Favela Buraco do Peru no Carlos Prates em 1965.
Fonte: APCBH/ASCOM

Favela não identificada em um fundo de vale.
Fonte: APCBH/ASCOM

Parte da Favela do Pindura Saia no bairro Cruzeiro em 1966.
Fonte: APCBH/ASCOM

A mesma Favela logo acima da Caixa D'água do Cruzeiro.
Fonte: APCBH/ASCOM

Barracos construídos nas margens do Ribeirão Arrudas.
Fonte: APCBH/ASCOM

     Muitos dos aglomerados ainda existentes se formaram nesse período, ao mesmo tempo em que outros desapareceriam como o Pindura Saia e a Favela da Alvorada, dissecados ou erradicados entre o final da década de 60 e o inicio da década de 70. Outros núcleos, em particular os que existiam nas margens do Arrudas só foram extintos devido as tragédias que assolaram a capital nas décadas de 70 e 80 e que tiveram grande repercussão na sociedade. Podemos citar as Favelas Gogó da Ema e União, extintas após a grande enchente de 1983 e os aglomerados que existiam na região da Gameleira, extintos quando do prolongamento da Avenida Tereza Cristina em 1996/1998. E é sempre bom ressaltar que o Poder Público geralmente só tomava (ou toma, como queiram) providencias, nem sempre benéficas, em relação às condições de vida, saúde e habitação dessa população quando ocorre uma grande tragédia, ou quando ele é obrigado a expandir as vias urbanas em prol da melhoria da mobilidade urbana. Mas a atuação do Poder Público em relação aos Aglomerados se trata de um tema mais complexo que será posteriormente abordado.

Favela do Pombal no bairro Serra.
Fonte: APCBH/ASCOM

Morro do Querosene às margens da antiga estrada de acesso ao Sanatório Morro das Pedras.
Fonte: APCBH/ASCOM

Morro do Papagaio às margens da antiga BR-3.
Fonte: APCBH/ASCOM

Barracos nas margens do Ribeirão Arrudas, no cruzamento da Avenida Tereza Cristina e Rua Santa Quitéria.
Fonte: APCBH/ASCOM

Barraco na beira da linha férrea da Central do Brasil.
Fonte: APCBH/ASCOM

Desmonte de Barracos construídos nas margens da linha férrea.
Fonte: APCBH/ASCOM

Parte da Favela do Perrela em 1965.
Fonte: APCBH/ASCOM

Cafuas de tábuas em local não identificado.
Fonte: APCBH/ASCOM

Favela União às margens do Ribeirão Arrudas em 1983.
Fonte: Acervo PLAMBEL

Mapa de 1983 sinalizando as principais Favelas que existiam nas margens do Ribeirão Arrudas.
Fonte: Acervo PLAMBEL


¹ Certamente, se essa medida fosse implementada, quem trabalharia na pequena corte belorizontina e seria responsável pelo desenvolvimento da urbs seriam apenas os imigrantes estrangeiros e os familiares da "pura nobreza mineira". Como disse o grande Antropólogo Darcy Ribeiro "no Brasil se fez um gênero humano novo e a fusão da herança genética e cultural de vários povos". Certamente a "infante" aristocracia republicana mineira não entendia (e muitos ainda não entendem) o quão rico é o Brasil e o seu pluralismo cheio de originalidade, sem dúvida uma nação que deu certo.
Pequena retificação do leito do Ribeirão Arrudas em 1960.
Fonte: APCBH/ASCOM


A imagem acima apresenta uma retificação no leito do ribeirão Arrudas, ou um desvio, como está sinalizada a imagem oficialmente, realizada na zona suburbana de Belo Horizonte, mais precisamente na região leste da capital, entre os bairros de Santa Tereza e Santa Efigênia. Tal obra, empreendida em Junho de 1960 visava suprimir um dos inúmeros meandros do curso d’água, possivelmente para melhorar a sua vazão, talvez para aumentar a área urbanizada do entorno do ribeirão ou mesmo diminuir a magnitude das enchentes que assolavam a região no período, lembrando que a canalização do Arrudas terminava a cerca de três quilômetros à montante do local retificado, e a velocidade das águas do ribeirão nos períodos chuvosos era notável, visto que a canalização facilitava o escoamento e a drenagem da zona urbana planejada, em detrimento aos bairros da zona suburbana à jusante da ponte do Perrela, ponto final da canalização. 
A pequena retificação* foi realizada nas proximidades da primitiva ponte do Cardoso, que ligava os bairros de Santa Tereza e Santa Efigênia, substituída na década de 80 pelo viaduto que liga a Avenida dos Andradas ao bairro de Santa Tereza. É importante ressaltar que nesse mesmo local existiu a parada do Cardoso, ponto de desembarque dos passageiros dos trens de Subúrbio da Central do Brasil. O entorno do trecho retificado em 1960 foi ocupado entre as décadas de 60 e 80 pelas favelas União e Gogó da Ema na margem esquerda do ribeirão, e pela Vila São Rafael, na margem direita.
Após a enchente de 1983 a retificação desapareceu junto com as casas remanescentes das favelas que não sucumbiram às águas do ribeirão, dando lugar a retificação e a canalização, estendida desde a Avenida do Contorno até a Avenida Silviano Brandão, na confluência do ribeirão com o córrego da Mata.

Canal do ribeirão após a pequena retificação empreendida em 1960. Ao fundo parte do bairro Pompéia.
Fonte: APCBH/ASCOM

Local da retificação do ribeirão sinalizado na Planta de 1961, à direta da linha férrea da Central do Brasil.
Fonte: APM

A retificação vista da margem direita do Arrudas, bairro de Santa Efigênia.
Fonte: APCBH/ASCOM

Ribeirão Arrudas na região leste de BH no final da década de 70. Abaixo a Favela Gogó da Ema, desaparecida quando da retificação e canalização e Vila São Rafael. À esquerda da imagem está sinalizado o local da retificação, logo abaixo da ponte do Cardoso.
Fonte: APCBH Coleção José Góes

Trecho logo acima da retificação em 1983, na margem esquerda do Arrudas. Em primeiro plano as obras de extensão da retificação paralisadas, ao fundo as casas remanescentes da Favela União junto a margem erodida do ribeirão e parte das Ruas Mármore e Conselheiro Rocha.
Fonte: Acervo PLAMBEL


* Toda e qualquer retificação de um curso d'água, seja ela pequena ou não acarreta uma mudança na dinâmica do curso d'água, desde a extinção do seu leito original, o amento da velocidade das águas, a agressão à morfologia do local, ao assoreamento do curso d'água até a um impacto na vida aquática e na fauna e flora terrestre, em um âmbito local e mesmo regional. Tal técnica empregada para a solução das enchentes no meio urbano e para a melhoria da drenagem urbana provoca a extinção das várzeas e o desaparecimento do traçado original do curso d'água, ao mesmo tempo em que se "ganha" porções de terra estratégicas para os agentes imobiliários. Nesse momento em que se celebra a conclusão de mais um trecho do "magnifico" Boulevard Arrudas, sem dúvida, se torna necessária uma profunda reflexão da sociedade e do Poder Público em relação a forma em que se trata os cursos d'água no meio urbano, tão discutida neste blog, para que tais erros não sejam cometidos nos centros urbanos brasileiros que estão em processo de desenvolvimento e que certamente irão apresentar problemas semelhantes, no que diz respeito a ocupação dos fundos de vale e das várzeas dos cursos d'água, entre outras coisas.
Córrego do Leitão e bairro Cidade Jardim em 1955. Sobre o córrego seria aberta a Avenida Prudente de Morais em 1970, visando a melhoria da mobilidade viária para os novos bairros da região sul de Belo Horizonte. 
Fonte: APCBH/ Coleção José Góes

No final do mês de Maio Belo Horizonte foi surpreendida com uma placa instalada na Rua Padre Belchior, anunciando a renaturalização do córrego do Leitão, no trecho compreendido entre a Rua e as Avenidas Augusto de Lima e Amazonas. Os cursos d'água que atravessam a Zona Urbana de Belo Horizonte já foram tema de diversos artigos do Blog, por ser um tema bem singular em nossa história urbana.
Ignorados pelo Poder Público, os cursos d’água que atravessam a zona urbana de Belo Horizonte foram retificados e canalizados de acordo com os interesses do Poder Público e dos agentes fundiários, que interferiram profundamente na produção do espaço urbano de Belo Horizonte, lembrando que a Rua Padre Belchior não existia na primeira planta da nova capital, ela foi aberta para a canalização do córrego na década de 1920, assim como as ruas Barbara Heliodora e Marília de Dirceu, ambas localizadas no bairro de Lourdes. Esquecidos e indesejados pelo Poder Público e pela população, o anuncio de uma Renaturalização em um curso d'água na região central de BH deixou muita gente perplexa, inclusive o autor deste Blog, que fez questão de ir ao local conferir tal placa.
O córrego do Leitão, segundo moradores da capital que conheceram e conviveram com o curso d’água a céu aberto relatam que chegaram inclusive a pescar nas proximidades de sua foz no Ribeirão Arrudas e nas pequenas lagoas que existiam no seu entorno, tinha suas águas cristalinas, onde os peixes subiam desde o Arrudas, um espetáculo inimaginável atualmente.

O Leitão no final do Rua Padre Belchior na década de 50.
Fonte: APCBH/ASCOM 

O vertiginoso crescimento dos centros urbanos brasileiros após 1945 acarretou inúmeros problemas, no que diz respeito aos equipamentos urbanos, entre outras coisas. Os cursos d’água, por falta de investimento do governo e por conveniência passaram a receber ano após ano os esgotos dos bairros que proliferavam em suas vertentes e cabeceiras. Na verdade desde a inauguração da capital em 1897 os cursos d’água já recebiam os esgotos domésticos, porém em menor quantidade. Para uma cidade criada dentro dos moldes positivistas (e higienistas) que vedava até a aquisição de lotes dentro da zona urbana pelas camadas menos abastadas e pelos operários, a ideia de convivência com os seus próprios detritos era inaceitável, mas a falta de investimentos e a conveniência do Poder Público se sobressaíram em relação à vontade do belorizontino “urbano”, em afastar o máximo possível os seus dejetos.
Com o córrego do Leitão não foi diferente, o emissário construído ao longo do seu curso não comportava mais o esgoto dos bairros que ocuparam as suas vertentes,  e os esgotos passaram a ser despejados diretamente em suas águas, assim como os esgotos clandestinos. É bom ressaltar que os precários emissários existentes em Belo Horizonte não resolviam o problema da contaminação das águas, apenas levava o problema da poluição para fora da zona urbana planejada, quem morasse fora dela que convivesse com os esgotos. O despejo era feito diretamente no Ribeirão Arrudas, da mesma forma que a cidade de Londres resolveria o problema do despejo de esgotos no Rio Tamisa dentro do perímetro urbano no Século XIX, os esgotos eram coletados e despejados no rio, porém fora da zona urbana da capital inglesa, uma interessante forma de resolver o problema encontrado pelos “higienistas”.
O mau cheiro das águas do Leitão e as constantes enchentes que levavam lama e lixo para as ruas eram motivos de reclamações constates da população, que passou a exigir uma solução rápida para o problema. A canalização era vista como a solução dos problemas gerados pelo córrego além de ser considerada como uma obra de embelezamento da capital, abalada com a perda do titulo de “Cidade Jardim” desde o corte dos Fícus da Avenida Afonso Pena em 1963. O alargamento das ruas atravessadas por ele também era pleiteado pela população, a Rua São Paulo, por exemplo, possuía apenas uma pista entre o córrego e o meio fio, causando transtornos para uma cidade que começava a priorizar o veiculo individual nas políticas urbanas.
No final da década de 60 iniciam-se as obras de alargamento e cobertura do córrego do Leitão desde a Rua São Paulo até a sua foz no ribeirão Arrudas. Paralelamente ao fechamento teve inicio em Julho de 1970 a canalização e cobertura do Leitão na zona suburbana para a abertura da Avenida Prudente de Morais. Essa obra visava melhorar o fluxo viário na região que se expandia para as regiões mais altas da zona sul da capital, além de erradicar da paisagem o curso d’água que havia se transformado em um esgoto a céu aberto, pois o aumento da ocupação das vertentes do córrego nas proximidades de suas cabeceiras desencadeou o lento processo de assoreamento que, nos períodos de chuva enlameava diversas ruas ao longo do seu curso. A abertura da Avenida extinguiu a Favela da Alvorada, que existia ao longo do curso do córrego.

Inicio das obras de canalização e cobertura do córrego do Leitão para a abertura da Avenida Prudente de Morais em 1969.
Fonte: APCBH/ASCOM 

Obras de canalização do córrego no cruzamento da Rua Joaquim Murtinho em 1970.
Fonte: APCBH/ASCOM 

Alargamento das galerias do córrego na Rua Bárbara Heliodora em 1971.
Fonte: Desconhecida

Desde então encaixotado, o córrego do Leitão foi legado ao esquecimento até o surgimento da incitante placa, que trouxe novamente à tona o problema da poluição e do soterramento dos cursos d’água de Belo Horizonte e ao conhecimento de muitos a existência de um Rio debaixo dos nossos pés, visto que a erradicação dele da paisagem urbana foi realizada há mais de quarenta anos. Mas o encaixotamento dele e de muitos outros córregos da capital não eliminou a poluição e nem acabou com as inundações nos locais atravessados por eles, pois as águas seguem o caminho determinado pela natureza, e que erroneamente o ser humano tenta interferir, até hoje, ao promover a cobertura do Ribeirão Arrudas ao longo do seu curso e o desaparecimento das várzeas, não só dele, mas de outros córregos importantes para o ecossistema local. A placa é o resgate da consciência de que ali existe um Rio, e que uma convivência harmoniosa com o meio ainda é possível, se assim desejarmos.

A incitante placa anunciando uma revitalização do córrego do Leitão na Rua Padre Belchior.
Fonte: Foto do Autor

Paisagem do arraial de Belo Horizonte em 1894, desde a Rua de Santana.
Fonte: APCBH Acervo CCNC

A Comissão Construtora da Nova Capital ainda estava se instalando no arraial de Belo Horizonte quando os quadros aqui publicados foram pintados. Pintados por Honório Esteves, artista nascido em Santo Antônio do Leite e conhecido por suas paisagens, alegorias e retratos, que muitas vezes representavam o cotidiano do mineiro, uma característica que se vê em outros quadros pintados no mesmo período no Brasil. Os quadros pintados por ele provavelmente faziam parte do plano da CCNC de registrar a paisagem em desaparecimento, no caso o arrasamento do arraial para a construção da nova capital. Além das pinturas, centenas de fotos foram tiradas de diversos pontos do arraial retratando a paisagem tipicamente rural e a vida tranquila dos curralenses, expulsos do arraial e adjacências quando do inicio da construção da capital. Infelizmente muitas dessas imagens se perderam com o tempo, enviadas como propaganda republicana para promover a nova capital de Minas e incentivar a imigração, tanto interna quanto externa.
O primeiro quadro foi provavelmente pintado desde a Rua de Santana, que ficava um pouco abaixo da Rua da Boa Vista, local onde se encontra atualmente a Praça da Liberdade. Destacam-se a Matriz da Boa Viagem e a Rua de Sabará, a principal rua do arraial, responsável pela ligação deste com a cidade de Sabará. Em primeiro plano pode-se ver uma parte da rua e o cotidiano dos moradores do arraial. Ao fundo o local onde se ergueram os bairros Floresta e Santa Efigênia e a Serra da Piedade, se destacando na paisagem.
A imagem abaixo, retratada desde o Cruzeiro, hoje Praça Milton Campos nos apresenta a quase totalidade do arraial e alguns dos caminhos que faziam a ligação entre ele e as fazendas que o circundavam. A estrada à direita fazia a ligação do arraial com Congonhas de Sabará (Nova Lima), e era na verdade o prolongamento da Rua de Congonhas que se iniciava nas proximidades do Largo da Matriz. A estrada à esquerda fazia a ligação entre o arraial e a Fazenda das Mangabeiras, sendo que a estrada se originava na Rua do Capão. Dessa rua originavam-se também as estradas para o povoado dos Olhos D’água, Mutuca, Lagoa Seca e para as Fazendas do Leitão, Capão e do Cercadinho. A mata ciliar que existiu ao longo do córrego do Acaba Mundo também foi retratada no quando em questão, assim como as Palmeiras Macaúbas, muitas delas derrubadas para a implantação do Parque Municipal. Ao fundo as montanhas em primeiro plano, hoje ocupadas por diversos bairros da região noroeste de Belo Horizonte.
Sem duvida os quadros pintados em 1894 são um importante registro de um arraial tipicamente rural arrasado pelo rolo compressor republicano que vislumbrava a nova capital como uma ruptura com o passado colonial, e mesmo a recuperação dos ideais republicanos evocados por eles e atribuídos a Inconfidência Mineira, a nova capital viria a ser um raio de luz entre a escuridão do período imperial, cujas marcas e representações seriam apagadas ou legadas ao esquecimento. Mas é bom ressaltar que Aarão Reis, sabendo que a paisagem do arraial e adjacências seriam profundamente modificadas com a construção da Cidade de Minas procurou registrar, através das pinturas, imagens e mapas a forma e as peculiaridades de uma paisagem em transformação.  

Arraial de Belo Horizonte desde o Cruzeiro. Ao fundo as montanhas hoje ocupadas por diversos bairros da região noroeste de Belo Horizonte.
Fonte: APCBH Acervo CCNC

Canalização do córrego da Serra na zona urbana de Belo Horizonte em 1928.
Fonte: FGV/CPDOC

Muitos dos artigos publicados neste Blog/Site tratam da questão da drenagem urbana e dos cursos d’água em Belo Horizonte. É um assunto realmente interessante e singular no caso de BH, pois os cursos d’água, com exceção do Ribeirão Arrudas e dos metros finais do córrego do Acaba Mundo foram ignorados pela Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) ao locar a Planta da Cidade de Minas no sitio do então arraial de Belo Horizonte. Como já se expôs em outros artigos os córregos que atravessam a zona urbana da capital[1] foram retificados e canalizados a partir da década de 1920 para permitir a expansão urbana para a região sul da capital, região destinada às camadas mais abastadas. Os córregos foram retificados para as vias mais próximas do seu leito natural como os córregos do Acaba Mundo no bairro Funcionários e o Leitão no bairro de Lourdes. O Acaba Mundo é um bom exemplo de como se deu a retificação, antes o seu leito atravessava as ruas Paraibuna (Professor Morais) e Rio Grande do Norte, seguindo entre os quarteirões planejados, atravessava a Avenida Afonso Pena e seguia paralela a Rua Bernardo Guimarães até o Largo da Boa Viagem, entrando logo abaixo do Largo no Parque Municipal. A sua retificação e canalização para a Rua Professor Morais e Afonso Pena proporcionou a expansão urbana do bairro Funcionários, interrompida nesse trecho por causa do leito do córrego, que foi então aterrado com material proveniente da Praça do Cruzeiro. Uma retificação visa o ganho de terras para empreender a urbanização e para amenizar o efeito causado pelas enchentes em um âmbito local.
Já o Ribeirão Arrudas segundo a Planta de 1895 inicialmente seria retificado e canalizado apenas no trecho que atravessa a zona urbana da capital. O trecho compreendido dentro do projeto primitivo do Parque Municipal continuaria a correr em seu leito natural, assim como o Acaba Mundo correria também em seu leito natural dentro do Parque, formando os Lagos e desaguando no Arrudas. Na verdade o projeto primitivo do Parque nunca saiu da Planta, ficando limitado à margem direita do Ribeirão, que correu em seu leito natural nesse local até a década de 20, quando então foi criada a Avenida do Canal, que não existia no projeto inicial da nova capital e posteriormente rebatizada de Avenida dos Andradas, em homenagem ao então Presidente do Estado. Entre 1897 e 1940 os diversos trechos do ribeirão dentro da zona urbana foram sendo retificados e canalizados em diferentes administrações, cada uma delas empregando um processo diferente de revestimento do canal. Por isso que o Arrudas apresentava até a década de 80, entre o Barro Preto e a região central diversos trechos diferentes entre si no que diz respeito a largura e ao revestimento do canal.

Parte da Planta Geodésica de 1895 onde estão sinalizados os principais córregos que atravessam a Zona Urbana de Belo Horizonte e o ribeirão Arrudas, receptor das águas dos cursos d'água em destaque.
Fonte: APCBH Acervo CCNC


 Canalização do ribeirão Arrudas em 1928. À esquerda o emissário construído ao longo da Avenida dos Andradas, cujo despejo de esgoto se dava no termino da canalização, abaixo da Ponte do Perrela.
Fonte:FGV/CPDOC 

 Obras de canalização no antigo leito do córrego do Acaba Mundo, posteriormente aterrado para a regularização e urbanização do bairro Funcionários.
Fonte:FGV/CPDOC 

Retificação e canalização do ribeirão Arrudas na altura do bairro Carlos Prates em 1935.
Fonte: APCBH

 Retificação e canalização do ribeirão Arrudas na altura do Parque Municipal em 1928.
Fonte: APM

 Córrego do Leitão canalizado e retificado na Rua São Paulo
Fonte: FGV/CPDOC

 Córrego do Acaba Mundo canalizado na Avenida Afonso Pena.
Fonte: APM

Os leitos distintos do Ribeirão Arrudas em relatório do Plambel de 1975.
Fonte: Acervo PLAMBEL

Á partir de 1946 a capital cresceu vertiginosamente, apresentando entre as décadas de 1950 e 1970 a maior taxa de crescimento do país e os cursos d’água passaram a sofrer as consequências desse crescimento. Suas águas, que desde os primeiros anos sofriam com a poluição passaram a receber todo tipo de dejetos e lixo domestico, visto que a coleta de lixo, precária entrou em colapso na década de 60, o que levou uma parte da população a se livrar do lixo domestico nos cursos d’água a céu aberto. A rede e os emissários de esgotos não davam conta devido a falta de investimentos por parte da Prefeitura. Havia também o problema da mobilidade urbana que, por causa do grande adensamento da região central e adjacências e do aumento da frota de veículos já apresentavam congestionamentos nos horários de pico em diversos locais, ao mesmo tempo em que o transporte público de responsabilidade da Prefeitura se deteriorava em favor dos concessionários de ônibus.
Da mesma forma que acontecia em outros centros urbanos brasileiros, era uma questão de tempo a cobertura dos córregos dentro da zona urbana de BH. É bom lembrar que o córrego da Serra já se encontrava coberto desde a década de 30 dentro da zona urbana, apenas o trecho perto das suas nascentes continuava a correr em leito natural, e o córrego do Barro Preto, poluído havia sido coberto em 1928 em toda a sua extensão.
Entre os anos de 1963 e 1966 o córrego do Acaba Mundo foi coberto na Rua Professor Morais e ao longo da antiga BR-3 (Avenida Nossa Senhora do Carmo), na década de 70 ele foi coberto para a abertura da Avenida Uruguai e em 1980 ele foi fechado no trecho da Avenida Afonso Pena. Ainda na década de 70 foram cobertos os córregos do Leitão e do Pastinho[2], esse ultimo para o alargamento da Avenida Pedro II, uma das vias mais problemáticas no que diz respeito à mobilidade urbana, até os dias atuais.
Grande parte da população e o Poder Público viam esses cursos d’água como um entrave para o desenvolvimento da capital (na década de 60 as palavras sanitárias e estéticas estavam na moda nos documentos oficiais, quando se referiam as obras de lajeamento dos córregos), assim como a arborização da região central, suprimida ou substituída a partir da década de 60, em muitos casos sob protesto da população. Mas com os cursos d’água isso não aconteceu, na verdade a própria população pedia medidas urgentes para a solução dos problemas causados pelos córregos, desde o mau cheiro causado pela poluição das águas até a lama trazida pelas enxurradas nos períodos chuvosos e pelas enchentes que levavam o lixo e a sujeira dos córregos para as vias. Em muitos casos quem causava tais problemas era a própria população, devido à falta de consciência, como escrevi no artigo “Qualquer semelhança não é mera coincidência– os destinos dos cursos d’água que atravessam a capital”.

"A falta de conscientização da população naquela época era alarmante, pois os cursos d’água eram simplesmente tratados como deposito de lixo, pois para eles a água leva tudo que é indesejável nos centros urbanos como o lixo, esgotos, animais mortos etc. a Prefeitura por sua vez não ajudava, pois o sistema de coleta de lixo estava à beira de um colapso. As enchentes, frequentes nesse período levava para as ruas e avenidas todo o material depositado nos cursos d’água, aumentando ainda mais o desejo de ver os córregos erradicados da área urbana, ou seja, na verdade era esconder o “problema” debaixo do tapete. E a população apoiou e aplaudiu os fechamentos dos cursos d’água". 

      Como se afirmou acima a cobertura dos córregos escondeu o problema da poluição “debaixo do tapete”, além de contribuir para a melhoria da mobilidade na região central e para o embelezamento. É bom ressaltar que tais obras estavam em conformidade com os investimentos do Governo Federal que priorizavam a melhoria do transporte e para o saneamento dos grandes centros urbanos. Em Belo Horizonte tais obras contribuíram para a melhoria do transporte individual, apenas. O transporte coletivo piorava a cada ano que passava, visto que a crescente população passou a depender somente dos ônibus administrados pelos concessionários. Os trólebus haviam sido extintos em 1969 após pressões exercidas pelos concessionários, assim como os ramais férreos se deterioravam ano após ano, ao mesmo tempo em que se criavam novas linhas de ônibus.
  
O Vale do córrego do Leitão, Cidade Jardim e Morro do Querosene em 1955. Sobre o córrego nesse exato local foi aberta a Avenida Prudente de Morais em 1970.
Fonte: APCBH/ Coleção José Góes

O córrego do Acaba Mundo em 1949 no cruzamento das Ruas Professor Morais e Tomé de Souza.
Fonte: APCBH/ASCOM 

 Córrego do Leitão na Rua Tupis na década de 50.
Fonte: APCBH/ASCOM

Ribeirão Arrudas em 1963 no bairro da Lagoinha. Ao fundo a Ponte do Bedeco e à esquerda o Cine São Geraldo.
Fonte: APCBH/ASCOM

Remoção da alvenaria de pedra para o alargamento da canalização e cobertura do córrego do Acaba Mundo na Rua Professor Morais em 1963.
Fonte: APCBH/ASCOM

Remoção da alvenaria de pedra do córrego na mesma rua.
Fonte: APCBH/ASCOM

O córrego erradicado da paisagem urbana em 1965 na Rua Professor Morais.
Fonte: APCBH/ASCOM

Cobertura do córrego do Leitão na Rua Padre Belchior em 1971.
Fonte: Desconhecida

 Canalização e cobertura do mesmo córrego para a abertura da Avenida Prudente de Morais em 1970.
Fonte: APCBH/ASCOM

Reabilitação e Renaturalização dos cursos d'água, é possível?

Muitos de vocês devem se perguntar por que a maioria dos artigos sobre os cursos d’água de Belo Horizonte abordam os córregos que nascem e atravessam a região centro-sul da capital. Em primeiro lugar, por eles atravessarem a zona urbana planejada pela CCNC, local onde se concentravam a maioria dos aparatos administrativos, do comercio, de educação e de serviços desde 1897, ano da inauguração da capital, é sem duvida a região que apresenta maior documentação disponível para pesquisas, além de inúmeras imagens que nos permitem compreender as mudanças na paisagem ao longo das décadas. A região central (primitivamente denominada bairro comercial) de Belo Horizonte se encontra inserida nas micro bacias dos córregos do Leitão, Acaba Mundo e Serra, além da sub-bacia do ribeirão Arrudas.
A região sempre foi de prioridade do Poder Público para a instalação e manutenção dos equipamentos urbanos necessários para o funcionamento da cidade e para os espaços públicos. Esses fatores nos ajudam a compreender o porquê da verticalização ter se iniciado na região central, e posteriormente a congestão urbana, a decadência dos espaços públicos e o descontrole da verticalização, que acarretou e ainda acarreta enormes problemas para a população, que costuma culpar apenas o Poder Público, as administrações que passaram pela Prefeitura e a falta de obras para a melhoria da mobilidade e da qualidade de vida, perdida principalmente por causa do adensamento populacional[3].

 Parte das Plantas Topográfica e Geral elaboradas em 1895 onde se destacam os cursos d'água ignorados pela CCNC e o ribeirão Arrudas, que seria canalizado na região central.
Fonte: APCBH Acervo CCNC

 Planta de 1923 onde figuram os córregos que atravessam a zona urbana planejada de BH retificados de acordo com a Planta de 1895.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte: FJP. 1997.

Região central de BH onde se destacam em marrom os cursos d'água canalizados.
Fonte: PLAMBEL, 1975

Pois bem, a cobertura dos córregos nas décadas de 60 e 70 trouxe uma melhoria momentânea no fluxo viário, principal motivo apontado pelo Poder Público para a execução de tais obras, até o presente momento (2013) e amenizando o mau cheiro nas regiões atravessadas por eles. Com o passar dos anos e a acentuada verticalização e adensamento da região sul, impulsionada pela abertura da Avenida Prudente de Morais e pela demolição das primeiras casas residenciais construídas nos bairros Santo Antônio, São Pedro, Sion, Anchieta etc. os congestionamentos se estenderam para as principais vias da região, muitas delas construídas sobre os córregos, nas drenagens e nos fundos de vale.
De fato a partir da década de 1990 os velhos problemas das enchentes e do mau cheiro voltaram a rondar os locais atravessados pelos córregos do Leitão e do Acaba Mundo[4]. O adensamento e urbanização das vertentes dos córregos assim como a impermeabilização do solo e o esgoto despejado em suas águas sobrecarregaram os cursos d’água, que passaram a sair da sua calha periodicamente nos períodos chuvosos. As canalizações naturalmente não comportariam tal volume d’água, pois o crescimento urbano foi bem maior do que a previsão feita pelos engenheiros quando da confecção do projeto, da mesma forma que não se imaginava que a verticalização atingiria tais proporções na região sul e nas cabeceiras dos córregos.
Exceção feita ao ribeirão Arrudas, a principal drenagem de Belo Horizonte, um verdadeiro emissário a céu aberto que sofre com a poluição e com o despejo dos esgotos desde o inicio do Século XX e tornou-se um curso d’água “morto” na década de 1970 e o ribeirão do Onça, a principal drenagem da região da Pampulha e Venda Nova, os córregos poluídos poderiam ter sido salvos? 
Na minha analise eu acredito que sim, pois passaram pela Prefeitura ao longo das décadas diversos profissionais, em particular o Engenheiro Sanitarista Lincoln Continentino (que sugeriu em 1941 um conjunto de parques ao longo do Arrudas, no prolongamento da Avenida dos Andradas vislumbrado por ele) que tinham plenas condições que elaborar e executar um plano de saneamento das micro bacias dos córregos e mesmo na bacia do Arrudas que impedisse que os esgotos, o lixo e outros poluentes atingissem os cursos d’água, além de cuidar das suas cabeceiras visando amenizar o assoreamento deles. Um plano dessa magnitude executado no momento que se iniciava a urbanização da região certamente teria salvado os cursos d’água hoje cobertos e transformados em emissários de esgotos, além do próprio Arrudas. Mas também tinha o grave problema financeiro que assolou a Prefeitura desde a inauguração da capital, grande parte das obras executadas nas primeiras décadas foram financiadas na sua totalidade pelo Governo Estadual, em particular as executadas na década de 1920, década da retificação e canalização dos córregos aqui abordados, a despoluição na verdade nunca esteve em pauta nas politicas urbanas de grande parte do Século XX. A partir da década de 1940 teve o problema do acentuado crescimento da capital, que as administrações municipais não acompanharam sob a alegação de falta de recursos para a instalação dos equipamentos urbanos necessários para dar suporte ao crescimento urbano. 
 Existia uma consciência em relação à poluição das águas dos cursos d’água, é bom lembrar que Belo Horizonte foi concebida para ser uma cidade que primava pela salubridade e pela higiene[5], conceitos que foram sendo deixados de lado ao longo dos anos. Apesar de tal consciência os cursos d’água iam se tornando mais poluídos ao longo dos anos, de fato conveniente para o Poder Público que não precisaria se preocupar no momento com a construção de novos emissários de esgotos, os córregos fariam esse papel. Entre 1897 e 1972 60% da rede de esgoto de Belo Horizonte havia sido construída pela Comissão Construtora da Nova Capital. Os Sanitaristas que realmente se preocupavam com um real saneamento ficaram de mãos atadas pelo Poder Público, os cursos d’água pagaram um preço alto e a população belorizontina, que sofria com a falta d’água diária foi aos poucos sendo privados dos cursos d’água utilizados por muitos para a captação de água local, se banhar ou mesmo lavar roupas, lembrando que as colônias agrícolas que existiram em BH entre 1897 e 1913 foram assentadas nas vertentes dos córregos que banham a zona suburbana da capital, origem das suas nascentes.


O ribeirão Arrudas em 1967, logo abaixo da Avenida do Contorno e em 2008, canalizado e retificado no mesmo trecho. A canalização empregada na década de 80 proporcionou a mudança das linhas férreas que seguem ao longo do ribeirão, porém erradicou as Favelas da Baiana, União e Urubus da paisagem, além de extinguir parte da Favela do Perrela na margem esquerda.
Fonte: APCBH e Google Earth

Ribeirão Arrudas na região leste de BH no final da década de 70. Abaixo a Favela Gogó da Ema, desaparecida quando da retificação e canalização e Vila São Rafael.
Fonte: APCBH Coleção José Góes

 Final da antiga canalização do Arrudas em 1983 na Ponte do Perrela. Ao lado da ponte é possível ver os emissários de esgotos construídos nas décadas de 1910 e 1920 que despejavam os esgotos da capital in natura no ribeirão. A imagem data do inicio de 1983 após a grande enchente de 02 de Janeiro de 1983 que arrasou com a antiga ponte da Avenida do Contorno.
Fonte: Acervo PLAMBEL

 Mapa do Plambel que mostra a canalização e retificação a serem empregadas no Arrudas, realizada  no decorrer da década de 80.
Fonte: Acervo PLAMBEL

Obras de retificação e canalização do Arrudas, no trecho mostrado na imagem anterior. À direita o ribeirão desviado para um canal provisório, aterrado para o prolongamento da Avenida dos Andradas em 1986. A esquerda o bairro de Santa Tereza.
Fonte: Acervo SUDECAP

Com tudo que se expôs acima vem a pergunta: seria possível promover hoje uma renaturalização dos córregos atualmente cobertos na zona urbana? Nas atuais circunstâncias não, pelo menos enquanto o automóvel continuar sendo o protagonista das politicas urbanas na capital. Inicialmente seria necessária a revitalização dos cursos d’água, obra extremamente dispendiosa devido a necessidade de se construir e ampliar toda a rede de esgoto das micro bacias, além da construção de novos emissários para a captação dos esgotos sanitários, evitando o despejo nos córregos. Seria necessária uma medição da vazão do curso d’água, pois a bacia se encontra totalmente impermeabilizada e certamente muitas das nascentes podem estar aterradas ou desaparecidas, lembrando que os cursos d’água que foram retificados e canalizados apresentam um processo de renovação natural prejudicado.
Renaturalizar os córregos significa abrir a sua calha novamente, e em muitos casos os voltando para o seu curso original. No caso do Acaba Mundo e Leitão, que abordo nesse artigo seria impossível reconduzi-los para o seu leito natural, aterrado e urbanizado há décadas. Para eles voltarem a correr a céu aberto seria inevitável a supressão de uma a duas pistas das vias existentes ao longo do curso. Isso acarretaria toda uma mudança na circulação viária, com grande prejuízo para a mobilidade urbana, que se encontra atualmente em um estado critico. Certamente a grande maioria da população seria contra essa medida, da mesma forma que foram a favor da cobertura nas décadas de 60 e 70. Sem duvida o nível de conscientização ambiental vem crescendo a cada dia, e uma renaturalização seria vista com bons olhos, mas seria possível somente se medidas similares como as expostas acima fossem tomadas, além de outras tantas necessárias para uma renaturalização que se harmonize com o meio urbano.
Atualmente grande parte da população belorizontina desconhece a existência desses cursos d’água correndo sob seus pés e residências, visto que eles foram cobertos há pelo menos cinquenta anos tornando-se quase impossível ter uma noção da geografia que os conformam. Infelizmente o ribeirão Arrudas terá o mesmo destino dos córregos, visto que a cobertura da sua calha é uma das prioridades das administrações municipais e estaduais nos últimos anos para a melhoria da mobilidade, contrariando toda a política de renaturalização vigente no planeta e o DRENURBS. Para que houvesse um início de mudança no que diz respeito ao tratamento dos córregos cobertos seria bem vindo um trabalho de conscientização da população, apresentando a ela os cursos d’água que correm em seus bairros, excursões aos fundos de vale, mesmo urbanizados e as suas nascentes etc. além de um trabalho de paisagismo caso os cursos d’água voltem a correr a céu aberto. Se a população não tomar conhecimento da existência deles, como então exigir uma renaturalização e conservação, ainda mais que a retificação e a canalização são “vendidas” como a melhor solução para o problema desde a construção da capital. Aliás, os cursos d’água que cortam centros urbanos no Brasil são tratados como um grave problema e cabe ao ser humano corrigir tal erro da natureza, segundo o Poder Público.

 Córrego do Acaba Mundo sob a Rua Professor Morais.
Fonte: Foto do Autor

 Inicio da canalização coberta do córrego do Acaba Mundo na Praça JK, antiga barragem de contenção das cheias do córrego.
Fonte: Foto do Autor

 Córrego do Gentio na Rua Outono em dois momentos: em 1966 a céu aberto e em 2013 sob a via.
Fonte: APCBH/ASCOM e foto do Autor 

 Cobertura do ribeirão Arrudas na Avenida Tereza Cristina em 2012.
Fonte: Foto do Autor

 A metamorfose da paisagem urbana: o ribeirão Arrudas a céu aberto em 2011 e coberto (Boulevard Arrudas) em 2013.
Fonte: Foto do Autor

Córrego da Ponte Queimada, receptor de grande parte dos esgotos do bairro Buritis, Palmeiras entre outros, além dos despejos irregulares de resíduos, como se vê na imagem.
Fonte: Foto do Autor

 Confluência dos córregos da Ponte Queimada e Cercadinho, as principais drenagens do bairro Buritis,  Estrela Dalva entre outros bairros, completamente poluídos.
Fonte: Foto do Autor

Cachoeira do ribeirão do Onça no bairro Novo Aarão Reis. O ribeirão do Onça é formado pelos córregos da Ressaca, Sarandi e o ribeirão Pampulha, entre outros cursos d'água, muitos deles originários de Contagem.
Fonte: Foto do Autor

As canalizações empregadas em Belo Horizonte são um reflexo do seu tempo, onde obras de tal magnitude representavam o progresso e o avanço da sociedade mineira. Infelizmente tais processos e pensamentos ainda persistem na capital mineira, em desacordo com as politicas urbanas e ambientais adotadas em outros locais no planeta que passaram por processos similares e que adotaram a política de reabilitação dos rios devido ao alto grau de poluição das águas, que acarretavam problemas mais dispendiosos do que se continuassem canalizados. Pode demorar 30, 40 ou 50 anos, mas um dia a sociedade e a natureza exigirá a reinserção dos córregos limpos e tratados na paisagem urbana. Abaixo um trecho extraído do artigo “Os córregos e a metrópole:a inserção no espaço urbano dos cursos d’água que atravessam a zona urbana de Belo Horizonte” apresentado em 2011 no XII Simpósio Nacional de Geografia Urbana:

“A sociedade interfere e modifica o meio urbano de acordo com suas necessidades. Inseridos na paisagem urbana devido às necessidades socioeconômicas do período eles não resistiram às profundas mudanças no espaço urbano que veio a deixar profundas marcas na paisagem belorizontina. Apesar das políticas urbanas atuais valorizarem a inserção dos córregos não canalizados na paisagem urbana, como um agente concreto que a compõe, os córregos cobertos, ao que tudo indica ainda passarão décadas sob as vias e quarteirões até que se adote uma política de reinserção dos cursos d’água no espaço urbano.”

        E nesse exato momento está sendo finalizada a cobertura do ribeirão Arrudas visando o alargamento da Avenida Tereza Cristina para a melhoria da mobilidade urbana, uma excelente solução adotada para esconder o que foi estragado por eles mesmos, ao permitir o crescimento desordenado da capital sem estabelecer critérios para tal, como o crescimento centro-periferia sugerido por Aarão Reis e resgatado em parte por Lincoln Continentino e a instalação das indústrias na bacia do Arrudas sem estabelecer critérios para o controle da poluição do ar, dos desmatamentos e do despejo de resíduos nas águas dos cursos d’água. O próximo trecho a ser coberto, de acordo com o que foi anunciado é o trecho compreendido entre a Alameda Ezequiel Dias e a Avenida no Contorno, na Ponte do Perrela. O ribeirão daqui a alguns anos só correrá a céu aberto nos trechos periféricos, na região central, por motivos óbvios ele estará totalmente erradicado da paisagem urbana. Sem dúvida um Boulevard no melhor estilo Hausmann, asfaltado e sem pedestres ao modo Le Corbusier.


 Nascente do córrego do Leitão no bairro Santa Lúcia.
Fonte: Foto do Autor

Córrego da Serra no Parque das Mangabeiras.
Fonte: Foto do Autor 

 Córrego do Acaba Mundo na vila de mesmo nome em 2011.

Cachoeira natural do córrego do Acaba Mundo que existiu no Parque Municipal. Imagem de 1904 que nos leva a pensar como seria bom se existisse uma convivência harmoniosa do ser humano com o meio em que habita.
Fonte: APCBH




[1] É bom lembrar que a CCNC dividiu a nova capital em três setores: A zona urbana planejada dentro dos limites da Avenida do Contorno, a zona suburbana e a zona dos sítios.

[2] Citei apenas três das dezenas de cursos d’água existentes em Belo Horizonte e que se encontram na sua maioria canalizados e cobertos. Os cursos d'água que ainda correm a céu aberto optei por citar os da bacia do córrego do Cercadinho. Existem ainda inúmeros cursos d'água a céu aberto, como os afluentes do Ribeirão do Onça e os da região do Izidoro, pertencentes a Bacia do Onça. 

[3] A atual gestão pretende promover, erroneamente a meu ver, um crescimento – leia-se verticalização, em direção à periferia de BH. Isso nos remete ao distante ano de 1895 quando Aarão Reis, ao apresentar a Planta da nova capital para o então Presidente do Estado Afonso Pena afirmou que pretendia ordenar o crescimento da nova capital a partir do centro para a periferia. Na prática não foi o que aconteceu, pois a zona planejada só foi totalmente urbanizada na década de 60, enquanto a zona suburbana, apesar da falta dos equipamentos urbanos básicos cresceu vertiginosamente desde os primeiros anos da nova capital, devido aos preços módicos dos lotes e da “discreta” proibição imposta pelas administrações em relação a ocupação da zona planejada.

[4] Como afirmei anteriormente, trabalharei apenas com os problemas ocorridos com os dois cursos d’água. É sabido que em inúmeros locais os cursos d’água tomam o que é seu por direito nos períodos chuvosos (Av. Francisco Sá, Silva Lobo, Tereza Cristina etc.), mas por ora abordarei apenas os dois em questão.

[5] Os primeiros emissários construídos na infante capital levavam os esgotos captados até a região do Matadouro, nas proximidades do Boulevard Shopping no bairro Santa Efigênia . Lá deveria ter sido construída uma Estação destinada ao tratamento dos esgotos captados. Os emissários continuaram despejando o esgoto no Ribeirão Arrudas, fora dos limites da Avenida do Contorno ao longo do século XX e a ETE nunca chegou a ser construída.

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis