Perspectiva de parte dos bairros Santa Lúcia e Belvedere, ao fundo o vale do córrego do
Cercadinho, segunda metade da década de 1970*.
APCBH acervo SUDECAP

      Dentro da série "Paisagens Pretéritas", a imagem acima remete à segunda metade da década de 1970 e corresponde ao período em que a Avenida Raja Gabaglia era concluída, ao mesmo tempo em que o tecido urbano se encontrava em franca expansão para o sul e para as cabeceiras do córrego do Cercadinho.

       A partir da perspectiva obtida pelo fotógrafo, o vale do córrego do Cercadinho e a sua mata ciliar se destacam na imagem em meio ao bairro Palmeiras e as embrionárias obras de abertura do bairro Buritis e Estoril, destacando-se ainda a estrutura da Mendes Júnior, que atualmente abriga um centro universitário. Em primeiro plano, observa-se parte dos bairros Santa Lúcia e Belvedere e as grandes movimentações de terra oriundas do processo de urbanização.

      Nesse contexto de expansão urbana e abertura e duplicação de vias, gostaria de destacar a Lagoa Seca, um lago cárstico que nesse período já havia desaparecido da paisagem (urbana), restando apenas parte do seu traçado, ressaltando que nos períodos chuvosos, o lago atingia a profundidade de até dois metros, como observado por Samuel Gomes Pereira (1893) em seus estudos sobre o sítio do arraial de Belo Horizonte.

     De maneira parcial, é possível visualizar no canto inferior esquerdo da imagem parte do seu leito, entre a Rua Jornalista Djalma Andrade (via aberta na década de 1960 que conectava a Mina de Águas Claras e a BR-3) e a estrada para Nova Lima. À direita, próximo ao limite entre a lagoa e o bairro Belvedere, é possível observar os restos da antiga estrada entre o Curral del Rey e a região da Mutuca, até esse momento preservados graças a tardia urbanização da região, que se encontrava inserida nos terrenos devolutos pertencentes ao Estado no ano de 1894.

* Data atribuída a partir das informações contidas no acervo da Sudecap.

Perspectiva bairro/centro da Avenida Raja Gabaglia.
APCBH acervo SUDECAP


    Apesar de nos encontramos em um momento onde a educação e a pesquisa vem sofrendo ataques e cortes constantes (entre altos e baixos a educação, obviamente, nunca foi prioridade de nenhum político ou facção nas últimas três décadas), publico hoje, dentro da série "paisagens pretéritas" e por acreditar que somente pela educação e pela disseminação e transmissão do conhecimento podemos construir um futuro melhor para as próximas gerações, (ressaltando que o professor e pesquisador que vos escreve e todo o trabalho publicado nesses nove anos de blog são frutos de mais de uma década de pesquisa e de aprendizado acadêmico, entre outras coisas), uma imagem que apresenta a perspectiva norte da Avenida Raja Gabaglia na segunda metade da década de 1970.
      
      A perspectiva, obtida do local próximo ao interflúvio Leitão/Cercadinho, apresenta uma via recém inaugurada em meio às grandes movimentações de terra, ruas de terra e os metros iniciais asfaltados da Avenida Barão Homem de Melo, importante via que já se encontrava em projeto e construída na década de 1980. Destaca-se ainda a perspectiva da metrópole e toda a sua verticalização que já se encontrava em franca expansão para os bairros localizados fora da Avenida do Contorno.
      
        Nesse contexto, é importante ressaltar que a Avenida Barão Homem de Melo, em quase toda sua extensão, foi aberta no talvegue do córrego Chácara, um afluente do córrego das Piteiras e que se encontrava em grande parte inserido nas terras da Fazenda do Cercadinho, desapropriada no ano de 1894 pela CCNC. Ou seja, a linha de cumeada de parte da Avenida Raja Gabaglia corresponde a antiga divisa das Fazendas Cercadinho e Leitão, fatos que serão abordados nas duas próximas publicações e no livro que será disponibilizado nas próximas semanas. 

      Gostaria ainda de observar, um pouco fora de contexto, que muitas das imagens antigas de Belo Horizonte e suas perspectivas são carregadas de significados políticos, sociais e econômicos, ainda que a maciça contemplação das paisagens pretéritas na atualidade contribua para encobrir, ainda que parcialmente, os verdadeiros significados e os contextos para o qual a imagem foi produzida. 

Avenida Raja Gabaglia concluída, segunda metade da década de 1970.
APCBH acervo Sudecap


     Dentro da primeira parte da série "Paisagens Pretéritas", que culminará com uma publicação que será disponibilizada na segunda metade do mês de maio, nessa postagem apresento a perspectiva centro/bairro da Avenida Raja Gabaglia já concluída, na segunda metade da década de 1970. 
     
     Chama a atenção do observador uma via completamente deserta, em meio aos postes e aos taludes de uma paisagem profundamente modificada. Observa-se ainda algumas casas residenciais correspondentes ao bairro Santa Lúcia e a porção da Serra do Curral correspondente ao marco geodésico "Ponta", onde se encontram as antenas de rádio e televisão, e a porção da serra correspondente ao local que abrigava dois pequenos cursos d'água que alimentavam a Lagoa Seca e desaparecidos ao longo do século XX.
     
     A porção à direita da imagem corresponde ao interflúvio Leitão/Cercadinho que dividia as terras das fazendas do Capão e do Cercadinho, desapropriadas pela CCNC no ano de 1894. Uma paisagem modificada de maneira notável ao longo do processo de desenvolvimento urbano de Belo Horizonte, onde a ideia de que a região abrigava propriedades rurais consideráveis é praticamente desconhecida da cidade.

Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis