Asfaltamento da Avenida dos Andradas nos anos 60.
Fonte: APCBH/ASCOM

A Avenida do Canal, atual Avenida dos Andradas foi projetada para ser um pequeno eixo de ligação entre a Praça da Estação e a Avenida Tocantins (Assis Chateaubriand).
Nos primeiros anos da capital a Avenida, na verdade um caminho sem pavimento era um dos acessos às pequenas indústrias que existiam na margem esquerda do Ribeirão Arrudas, que ainda não havia sido canalizado e também a Ponte Melo Viana, principal eixo de ligação entre a área central e os bairros de Santa Teresa e Floresta.
Apenas na década de 20 é que resolve se fazer uma grande intervenção na Avenida e no seu entorno iniciada pela prefeitura e posteriormente assumida pelo Governo Estadual. Essas obras visavam, entre outros aspectos em melhorar e embelezar a aparência da capital na sua porta de entrada, como se pode ler nas palavras do Prefeito Flavio Fernandes dos Santos em 1925:

“A actual administração pensa deixar executados os serviços que, em conjuncto, formam esta grande obra de embellezamento na entrada da Capital, consistentes taes serviços no empedramento, rejuncção, balaustrada e sua illuminação, e os passeios ao lado das mesmas, inclusive o calçamento da Avenida do Canal, em toda a sua extensão, a qual justamente comprehende os trechos mencionados entre a rua da Bahia, no cruzamento da avenida do Contorno, e a avenida Tocantins; (...) em prol da belleza e hygiene desta parte da Cidade, situada no bairro comercial e á margem das duas vias de acesso mais importante da Capital, como a bitola larga da Central e a Oeste de Minas”.


A Avenida do Canal em destaque nas Plantas de 1894 e 1895.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte, FJP; 1997.


Inicio das obras para a abertura da Avenida do Canal em 1927.
Fonte: BH Nostalgia

Até essa época a Avenida tinha cerca de 580 metros de extensão. Na gestão do Prefeito Christiano Machado iniciada em 1925 resolve-se prolongar a Avenida até a Avenida do Contorno que era aberta ao mesmo tempo na altura do Perrela. Esse prolongamento foi, na verdade uma conseqüência devido a implantação dos emissários de esgotos ao longo do Arrudas que era retificado e canalizado ao mesmo tempo. Essas obras diminuíram uma grande parcela do Parque Municipal, cujo projeto inicial previa uma harmonização entre o Arrudas e o conjunto paisagístico do Parque. Outro objetivo do prolongamento da via, segundo o relatório do Prefeito Christiano Machado datado de 1926 era desafogar o transito do cruzamento da Avenida Afonso Pena e Rua da Bahia, primeiro eixo de articulação da capital.

“Aquella, ao lado da qual se constroem os grandes emissários de esgotos, trazendo como conseqüência o prolongamento da avenida do Canal, descongestionará o movimento do chamado Bar do Ponto, forçado e cada vez mais crescente de todos quantos, da parte baixa da cidade, demandem grande parte do bairro dos funccionários e do Quartel do 1º Batalhão”.

O aterramento necessário para o prolongamento da avenida, como se vê nas imagens abaixo só foi possível graças à abertura de diversas ruas nas zonas urbana e suburbana e o desmonte dos terrenos compreendidos entre as atuais avenidas Assis Chateaubriand, Francisco Sales e a linha férrea, sendo os serviços executados pela Prefeitura. Esse trecho também fazia parte do Parque Municipal no projeto inicial da capital.
É importante ressaltar que as obras executadas foram uma das mais importantes da década de 20 para a capital. Ela permitiu a abertura e o prolongamento de diversas ruas e avenidas que até esse período só existia na Planta. A Avenida do Canal foi inaugurada em 1929 pelo então Presidente do Estado Antonio Carlos de Andrada e Silva com o nome de Avenida dos Andradas.


Retificação e canalização do Ribeirão Arrudas, obra que permitiu o prolongamento da Avenida do Canal na área destinada ao Parque Municipal.
Fonte: APM


Canalização do Arrudas e aterramento do antigo leito para o prolongamento da Avenida do Canal. Ao fundo a Rua Ceará e o Instituto Afonso Pena.
Fonte: APM


O mesmo local com as obras já adiantadas.
Fonte: APM


A Avenida dos Andradas recém inaugurada em 1928.
Fonte: APM


A Avenida vista desde o Viaduto de Santa Tereza.
Fonte: BH Nostalgia


Trecho em destaque da Avenida recém prolongada em 1928. É notável os quarteirões vazios no entorno da Avenida, área ocupada anos mais tarde por pequenas indústrias.
Fonte: APCBH


Parte integrante da 14ª Seção Urbana, de onde saiu grande parte do material destinado ao aterramento do leito do Arrudas para o prolongamento da Avenida do Canal.
Fonte: APCBH

Nas décadas seguintes não houve modificações relevantes na Avenida, apenas serviços de manutenção e conservação da via e do canal do Ribeirão Arrudas. Já o seu entorno não se pode dizer o mesmo; os grandes hotéis e sobrados datados do inicio do Século XX foram substituídos por prédios comerciais e de uso misto, marca registrada da intensa verticalização à partir da segunda metade dos anos 50.


Planta de 1942 onde se vê em destaque a Avenida dos Andradas.
Fonte: PANORAMA de Belo Horizonte; Atlas Histórico. Belo Horizonte, FJP; 1997.


Asfaltamento da Avenida dos Andradas e obras no leito do Arrudas nos anos 60.
Fonte: APCBH/ASCOM


Alargamento da ponte sobre a Avenida Francisco Sales nos anos 70.
Fonte: APCBH/ASCOM

Na década de 70 iniciam-se os estudos para o alargamento do canal do Ribeirão Arrudas que alarmava a população com as grandes enchentes nesse período. As obras, executadas no inicio da década de 80 foram responsáveis pela segunda grande intervenção do Poder Público na Avenida. Nessa mesma década a Avenida foi prolongada além dos limites da Contorno, sendo então aberta até o cruzamento da Avenida Silviano Brandão. Na execução das obras diversas Favelas ribeirinhas foram removidas e os seus moradores relocados para diversas áreas da região metropolitana, principalmente após a grande enchente de 02 de Janeiro de 1983.


Canalização do Arrudas em 1982 em frente ao Parque Municipal.
Fonte: Desconhecida


Obras de canalização na Avenida dos Andradas na região hospitalar.
Fonte: SANEAMENTO básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos - Coleção Centenário, FJP.


Enchente do Ribeirão Arrudas em Janeiro de 1983 no cruzamento da Avenida Francisco Sales.
Fonte: SANEAMENTO básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos - Coleção Centenário, FJP.

Entre os anos de 2005 e 2007 a Avenida dos Andradas sofreu novamente uma significativa mudança com a construção do Boulevard Arrudas que desencadeou na região um intenso processo de revitalização do patrimônio histórico e da requalificação urbana da Praça da Estação e adjacências. A intervenção também tinha como objetivo “esconder” o Arrudas, extremamente poluído e excluído da nova paisagem urbana vislumbrada para a região. O Ribeirão que nas décadas anteriores tinha um papel de destaque na paisagem da Avenida e da própria Praça foi relegado, com o passar do tempo a um papel secundário na paisagem urbana belorizontina até a sua erradicação da paisagem em 2006. A Avenida dos Andradas continua exercendo uma das principais funções quando da sua abertura: a melhoria do fluxo viário na região central. E, em prol da mobilidade urbana e do embelezamento certamente o Arrudas também será erradicado da paisagem urbana nos próximos anos entre o Parque Municipal e a Avenida do Contorno.


O Boulevard Arrudas em 2006.
Fonte: Acervo SETOP


O Boulevard Arrudas e Avenida dos andradas em 2009.
Fonte: Google Street View


A Avenida e o Boulevard em frente ao Parque Municipal.
Fonte: Google Street View


A Avenida dos Andradas no cruzamento com a Avenida Francisco Sales em 2010.
Fonte: Foto do Autor


A Avenida dos Andradas no ano de 2008.
Fonte: Google Earth

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