Pedreira do Acaba Mundo em imagem de 1895.
Fonte: BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva, 1996.

    Quando a Comissão designada para a escolha do local onde se construiria a nova capital visitou os cinco locais previamente escolhidos um dos critérios analisados foi à existência de locais para o fornecimento do material necessário para a construção dos edifícios, do calçamento das ruas e avenidas e para a retificação dos cursos d’água visando o saneamento da região, uma das principais alegações dos partidários à mudança da capital de Ouro Preto.
  Os arredores do arraial de Belo Horizonte poderiam fornecer em larga escala uma grande parte do material necessário para a edificação e o embelezamento dos prédios públicos que seriam construídos¹ com um custo reduzido, pois as pedreiras que forneceriam esse material se encontravam a uma pequena distancia do local onde se edificaria a nova capital.
   Na construção da capital foram utilizados materiais oriundos de cinco pedreiras, a saber: Acaba Mundo, Pedras ou Morro das Pedras, Viação (Prado Lopes), Lagoinha e Carapuça, todas utilizadas como marcos da rede de triangulação geodésica que estabeleceu a posição do sitio da nova capital. Para o transporte do material extraído das pedreiras foi construído um pequeno ramal ferroviário desde a Praça da Estação até as pedreiras exploradas, passando pelos principais locais onde se empregava o material transportado.
A Pedreira do Acaba Mundo se localizava no sopé da Serra do Curral, nas proximidades da Praça JK e acima do Aglomerado de mesmo nome, na região sul de Belo Horizonte².


Trecho do Ramal do Acaba Mundo que transportou grande parte do material empregado no embelezamento dos edifícios da Praça da Liberdade.
Fonte: BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva, 1996.


Pedreira do Acaba Mundo em 2008.
Fonte: Google Earth

    A Pedreira Prado Lopes ficava nas proximidades da região da Lagoinha, bem próximo ao centro da capital. O seu entorno abriga um dos aglomerados mais antigos de BH: o Aglomerado Prado Lopes, que herdou o nome de um dos seus arrendatários no período em que ainda era explorada. A Pedreira da Lagoinha ficava exatamente em frente a Prado Lopes e atualmente abriga parte do bairro Concórdia.


Pedreiras Prado Lopes e Lagoinha em imagem de 2008.
Fonte: Google Earth

    O Morro das Pedras se localiza na vertente do Córrego das Piteiras, logo atrás do Hospital Madre Tereza e suas terras atualmente encontram-se totalmente ocupadas pelo Aglomerado Morro das Pedras. Segundo o relatório do Prefeito Chrstiano Machado datado de 1926 essa Pedreira era a mais rentável para a Prefeitura devido a excelente qualidade das pedras para a fabricação de meios fios e paralelepípedos. É bom explicar que nesse período todas as Pedreiras pertecentes a Prefeitura estavam arrendadas a terceiros.


Morro das Pedras no ano de 2008.
Fonte: Google Earth

    A Pedreira da Carapuça³ situava-se na região leste da capital mineira, às margens da antiga estrada que ligava Belo Horizonte à Nova Lima e Sabará. Partes das suas terras estão atualmente ocupadas pelo bairro Pompéia e pelo Aglomerado São Rafael.
    Nas décadas seguintes a inauguração de Belo Horizonte as pedreiras continuaram a ser exploradas, umas pelo governo e outras por particulares. Uma delas, a Pedreira da Viação passou a ser explorada pelo engenheiro Antônio do Prado Lopes Pereira no inicio do Século XX.


Pedreira do Carapuça, às margens do Arrudas em imagem de 2008.
Fonte: Google Earth

    A Pedreira do Acaba Mundo forneceu grande parte do calcário empregado no embelezamento de vários edifícios públicos e particulares da capital mineira. No inicio da década de 50 passou a ser extraído o dolomito com a finalidade de ser empregado na siderurgia. Essa exploração perdura até os dias atuais.
   As Pedreiras da Lagoinha, Morro das Pedras e Carapuça também forneceram material empregado no calçamento da capital durante décadas. Com o crescimento urbano elas foram sendo desativadas ao longo das décadas.


Pedreira Prado Lopes no inicio da década de 40, quando da abertura da Rua Pedro Lessa na gestão JK.
Fonte: APCBH Relatório do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1941.


Parte da Pedreira Prado Lopes nos anos 40, com a reocupação da área pelos antigos moradores que haviam sido removidos em 1940.
Fonte: BH Nostalgia


Pedreira do Acaba Mundo em imagem datada do inicio dos anos 60.
Fonte: Acervo IBGE

    Uma característica que se observa nas pedreiras Prado Lopes, Carapuça e Morro das Pedras é que todas abrigam há algumas décadas aglomerados, na sua maioria oriundos de outras regiões da capital e que foram “empurrados” para esses locais, exceção à Prado Lopes que existe desde o inicio da década de 30. Esse aglomerado foi removido durante a gestão JK, mas voltou a ser formar na segunda metade da década de 40 nas duas metades da pedreira divididas pela Rua Pedro Lessa.
    Já o aglomerado do Acaba Mundo se formou um pouco abaixo da Pedreira atualmente desativada, ao longo do córrego de mesmo nome, enquanto a exploração passou a ocorrer acima da primeira cava. Toda a ocupação que se verifica nas áreas das antigas pedreiras e no seu entorno ocorreram devido à expansão desordenada de Belo Horizonte. Geralmente as pedreiras são exploradas a certa distancia dos centros urbanos e por questões de segurança e de salubridade as terras no entorno das pedreiras são vedadas à ocupação urbana. Com o crescimento desordenado que sempre caracterizou a expansão urbana de Belo Horizonte além da expulsão dos moradores de baixa renda das áreas mais próximas ao centro essas terras no entorno das Pedreiras foram sendo sistematicamente ocupadas estrangulando aos poucos a área das pedreiras, restringindo-as ao local explorado. Naturalmente o uso de explosivos e a britagem da rocha, entre outras coisas passam a afetar os moradores do entorno da Pedreira instaurando-se então um conflito social que geralmente é resolvido com o fechamento da pedreira. Atualmente pode-se observar que as pedreiras que abastecem a capital se localizam ao longo da RMBH. E as áreas das antigas pedreiras (não só as cinco pedreiras abordadas nesse artigo, mas sim todas as outras também desativadas atualmente) se encontram totalmente inseridas à malha urbana de Belo Horizonte, sendo quase impossível identifica-las em alguns trechos por causa do adensamento urbano.


Pedreira do Acaba Mundo e ao fundo a área explorada atualmente.
Fonte: Nelson CLM/Panoramio


Parte da Pedreira Prado Lopes nos dias atuais (2012).
Fonte: Foto do Autor


Pedreira da Lagoinha e parte do bairro Concórdia.
Fonte: Foto do Autor


Parte do Morro das Pedras nos dias atuais.
Fonte: Foto do Autor


Pedreira do Carapuça escondida pelo Aglomerado São Rafael.
Fonte: Foto do Autor


Imagem de Satélite onde estão assinaladas as cinco pedreiras que existiam nas proximidades da Zona Urbana de Belo Horizonte.
Fonte: Google Earth


¹ O Complexo Belo Horizonte que domina grande parte do território que compõe a capital mineira é o responsável por grande parte do material fornecido pelas antigas pedreiras, o granito gnaisse. Já a Pedreira do Acaba Mundo, situada a meia cota da Serra do Curral forneceu durante muitas décadas o calcário utilizado em diversas construções da capital. Desde a década de 50 ela fornece o dolomito utilizado em diversas siderúrgicas do Vale do aço.

² O antigo ramal do Acaba Mundo seguia desde a Praça da Liberdade até a dita pedreira pela Estrada do Acaba Mundo (hoje Rua Major Lopes, parte da Avenida Uruguai, Rua Califórnia e Rua Correias).

³ Segundo Abílio Barreto, em sua “Memória Histórica”, existia no final do Século XIX uma pedreira denominada “Cardoso”, em frente ao Carapuça. Segundo o mesmo autor, a sua exploração foi descontinuada ainda no período da construção da capital. Provavelmente ela existiu em algum local atualmente ocupado pelo bairro de Santa Teresa, visto que atualmente é impossível localizar com exatidão a sua localização.

2 comentários:

  1. Oi Borsagli. O proprietário da Pedreira da Lagoinha era um espanhol chamado Benito Muradas.

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  2. Ola Borsagli. A pedreira do Cardoso e do Morro das Pedras de fato forneceu muitas carroças de pedras para a construção da ponte e povoado do Calafate e para o bueiro da Distribuidora de Eletricidade, conforme as escrituras avaliadas. ver Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, Fundo SUTEM da Subsérie Caixa Geral, ano 1911.

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gif maker Córrego do Acaba Mundo 1928/APM - By Belisa Murta/Micrópolis