Retificação e canalização do Córrego do Acaba Mundo para um novo leito construído na Rua Professor Morais em 1930.
Fonte:APM
A Rua Professor Morais, pertencente a zona planejada de Belo Horizonte foi batizada pela CCNC como Rua Paraybuna e se estendia desde a Avenida do Contorno até o cruzamento da Avenida Afonso Pena, totalmente inserida no bairro dos Funcionários. A partir daí ela se transformava na Avenida Paraybuna, uma das vias que formavam as arestas chanfradas do primitivo Parque Municipal.
Alguns anos após a inauguração da capital a Avenida foi renomeada para Bernardo Monteiro, primeiro Prefeito da capital, uma das dezenas de renomeações que alteraram a toponímia de diversas ruas e avenidas da capital em homenagem aos primeiros políticos da infante republica¹.
Já o nome “Professor Morais” foi dado em homenagem a um advogado e professor que residiu na capital e foi fundador do Colégio Dom Viçoso¹². Com essa nova renomeação a Rua Paraibuna, que seguia a logica da toponímia da capital deixou de existir, mais ou menos no mesmo período em que foi suprimida a Avenida Paraúna.
A Rua Paraibuna inicialmente não havia sido planejada para comportar o canal de um curso d’água, no caso o Córrego do Acaba Mundo². Somente após o inicio das obras em 1894 é que a Comissão construtora resolveu adequar o curso do córrego à malha urbana da nova capital.
A retificação do Acaba Mundo na zona urbana já era uma obra planejada pela CCNC desde o inicio das obras da construção da capital. A Comissão foi extinta logo após a inauguração da capital e as obras do novo canal do Acaba Mundo interrompidas, como afirma o Prefeito Bernardo Monteiro em seu relatório de 1900:
“Resta por concluir o canal destinado à mudança do leito do Acaba Mundo, que parte da rua Grão Mogol suburbana e vai ao Parque. Esta obra, aliás necessária, foi iniciada pela antiga Comissão Constructora e está parada desde 1897, e della não poderá cogitar tão cedo”.
As obras ficaram interrompidas por duas décadas e só foram retomadas quando o desenvolvimento urbano começou a aumentar na década de 20, década em que se deu o primeiro remodelamento do espaço urbano de Balo Horizonte. O planejamento urbano, crucial para a concretização do Projeto da capital que nesse período se restringia a região central e os bairros Floresta e Funcionários e a uma pequena parte do Barro Preto, ocupada em grande parte por operários foi exercido com uma maior rigorosidade por parte do Poder Público que visava à expansão da malha urbana dentro dos limites da Avenida do Contorno.
A Rua Paraibuna assinalada nas Plantas de 1895 e 1928. Como se vê, na Planta de 1928 o curso d'água já se apresentava canalizado ao longo da rua, obra empreendida somente no ano seguinte.
Fonte: APCBH
Para possibilitar a urbanização e a continuidade do crescimento da malha urbana teve inicio na segunda metade da década de 20 a retificação e a canalização aberta do córrego do Acaba Mundo entre a Avenida do Contorno e o Parque Municipal. As suas águas foram desviadas para um novo canal construído na Rua Professor Morais, que passou a ter uma pista de cada lado do canal e Avenida Afonso Pena. A terra utilizada no aterramento do antigo leito era proveniente do desmonte do Morro do Cruzeiro, atual Praça Milton Campos. Com o aterramento do antigo leito tornou-se possível a construção e urbanização de 13 quarteirões compreendidos no bairro Funcionários e adjacências segundo a Planta Geral da capital.
Calçamento da Rua Professor Morais em 1929.
Fonte: APM
Pavimentação da mesma rua no cruzamento com a Rua Tomé de Souza.
Fonte: APM
A rua permaneceu até a década de 60 com o canal do córrego a céu aberto. No ano de 1963, devido ao aumento do fluxo viário na capital e o aumento da poluição das águas dos cursos d’água que atravessavam a região compreendida dentro dos limites da Contorno, uma consequência do vertiginoso crescimento urbano de Belo Horizonte à partir de 1950 toma-se a decisão de cobrir os cursos d’água de menor porte que atravessam a Zona Urbana, medida que resolveria momentaneamente o problema viário que já começava a surgir em várias partes da capital e esconderia a poluição que incomodava uma grande parcela dos moradores do bairro Funcionários.
Remoção da Alvenaria do Acaba Mundo entre a Avenida Getúlio Vargas e Rua Cláudio Manoel em 1963.
Fonte: APCBH/ASCOM
Obras de cobertura do Acaba Mundo no mesmo trecho da imagem acima.
Fonte: APCBH/ASCOM
Obras de cobertura no cruzamento com a Rua Antônio de Albuquerque.
Fonte: APCBH/ASCOM
Inauguração das obras de alargamento da Rua Professor Morais em 1965. É bom ressaltar que essa obra começou na gestão do Prefeito Jorge Carone Filho, cassado pela Câmara Municipal de BH em 1965, poucos meses após a Revolução de 64. Entre as autoridades está o Prefeito Oswaldo Pieruccetti, que assumiu a Prefeitura após a cassação de Carone.
Fonte: APCBH/ASCOM
Esta foi a ultima grande mudança na paisagem urbana da Rua Professor Morais, salvo a remoção do canteiro central na década de 90, que transformou a via em mão única visando a melhoria da mobilidade dentro dos limites da Avenida do Contorno. Nos últimos anos, devido a alta especulação imobiliária que atinge Belo Horizonte a rua está passando por uma nova reconfiguração urbana. As últimas casas residenciais, muitas contemporâneas a antiga configuração da rua estão sendo derrubadas para dar lugar aos edifícios comerciais. Com a cobertura do córrego do Acaba Mundo ele desapareceu da paisagem urbana e a identificação do seu traçado atualmente é possível apenas com a consulta as Plantas Cadastrais antigas e as Cartas Hidrológicas existentes, reforçado ainda pelo fato da Rua Professor Morais não ser de fato um fundo de vale³.
Rua Professor Morais no ano de 2007.
Fonte: Foto do Autor
Rua Professor Morais no ano de 2011, no cruzamento da Rua Antônio de Albuquerque.
Fonte: Foto do Autor
Imagem de Satélite onde se vê sinalizada a Rua Professor Morais nos dias atuais.
Fonte: Google Earth
¹ Esse “passo para a imortalidade” dado pelos primeiros representantes da municipalidade quase acabou com a formidável logica estabelecida pela CCNC em relação à topônimia da capital. Muitos nomes foram suprimidos posteriormente, visto o exagero cometido pelos governantes na década de 10 mas muitos nomes dados por eles permanecem inalterados até os dias atuais. Por ora não me estenderei nesse assunto, o abordarei em artigos posteriores.
¹² Dicionário Toponímico de Belo Horizonte, p.223.
² É bom lembrar que os cursos d’água que atravessam a Zona Urbana compreendida dentro do perímetro da Avenida do Contorno foram ignorados pela CCNC quando da confecção da Planta Cadastral da Nova Capital. Eles foram sendo ao longo das décadas retificados e canalizados de acordo com o traçado urbano de Belo Horizonte.
³ Ao contrario do que muitos pensam a Rua Professor Morais não é um fundo de vale, na verdade apenas uma parte da via era cortada pela calha original do Acaba Mundo. Na verdade ele corria no sentido da Rua Rio Grande do Norte, parte da Avenida Afonso Pena, Ruas Bernardo Monteiro e Aimorés até a Igreja da Boa Viagem.
Qual córrego passa debaixo da Rua Rio Grande do Norte? Não é o Acaba Mundo?
ResponderExcluirSim é o Acaba Mundo. Inicialmente ele seguia apenas pela Rua Professor Morais. Para o controle nas enchentes foi construído dois canais, esse que segue pela Rio Grande do Norte e outro que segue pela Av Bernardo Monteiro e Av Brasil, indo desaguar na Avenida dos Andradas, junto com o Córrego da Serra.
ResponderExcluirAh, tá explicado... hehe...
ResponderExcluirObrigado pela informação.
E continue o bom trabalho com este blog. Ele está nos meus favoritos e estou sempre visitando-o!
alexandre,
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Reflete um projeto sério e dedicado de pesquisa.
Cheguei ao seu blog ao procurar informações sobre o Ribeirão Arrudas, que pretendo estudar junto às minhas turmas de 7º ano do ensino fundamental. Visitei quase todos os posts e usarei muitas informações que vc divulga aqui para compreendermos a dinâmica de um rio, sua história, sua trajetória.
Obrigada!
Só um complemento a esta postagem: a rua Paraibuna/Professor Morais passou por mais uma modificação recentemente: a ciclovia.
Abraços!
Uma das histórias mais curiosas - fantásticas, até - envolvendo o córrego sob a Prof. Morais é, salvo engano, do final de 1994. Um adolescente, fugindo de um assalto por bando de "pivetes" na praça JK, no Sion, caiu no sistema de captação de águas pluviais.
ResponderExcluirEsse cara foi arrastado pelas águas (choveu forte nesse ano) por baixo de toda a extensão da ave. Uruguai até a rua Grão Mogol. Desceu pela Grão Mogol até a Contorno e seguiu por debaixo da Prof. Morais. De manhã cedinho (acho que era um domingo), na altura do Sacre Coeur de Jesus (esq. com Getúlio Vargas), um catador de papéis avistou-o por entre as grades de ferro de um bueiro e chamou o corpo de bombeiros, que o resgatou.
Lembro que, segundo os jornais, o menino ficou um bom tempo tomando uma bateria de antibióticos, por causa das feridas causadas pelo choque com as laterais das manilas subterrâneas e expostas à água suja.
Me lembro bem desse facto!
ExcluirBoa tarde!
ResponderExcluirGostaria de saber se existe/existia algum córrego que passa pela Avenida Bernardo Monteiro (na parte dos ficus cortados) ou em suas proximidades.
Obrigado!
Olá Lucas, obrigado pela visita! Na verdade é um canal de transposição do Acaba Mundo para o Serra, construído em 1974 para melhoria da drenagem urbana, ele conecta as duas bacias sob as Avenidas Bernardo Monteiro e Brasil.
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