Sobrado que existiu na Rua General Deodoro e que abrigou o escritório 
da CCNC e provisoriamente a Prefeitura até 1898.

Fonte: MHAB Acervo CCNC

Uma capital vazia

A Cidade de Minas, primeiro nome da nova capital contava, na época de sua inauguração com cerca de 12 mil habitantes, desde funcionários públicos, comerciantes, operários que trabalharam na sua construção e alguns moradores do antigo arraial, estes concentrados nas áreas suburbanas. A capital havia sido inaugurada às pressas, com vários edificos públicos e particulares inacabados além de ruas e avenidas ainda por se abrir. O espaço urbano estava se consolidando e toda a estrutura necessária para tal como o abastecimento de agua, redes de esgoto, calçamento de ruas e transporte público estavam em estágio embrionário. A Prefeitura, sem um edificio definitivo, funcionava provisoriamente no sobrado da Rua Marechal Deodoro, sobrado que também abrigou o escritório da CCNC. Diversas pontes substituindo as “pinguelas” sobre os córregos e necessárias para dar seguimento as aberturas das ruas da zona urbana ainda estavam sendo construidas. As ruas largas e o vazio constante da cidade causavam estranhamento em quem chegava de fora tanto para estabelecer residência quanto para quem visita-lá, como lemos nas palavras de Tristão de Ataíde:
As casas perdidas nas ruas. O silêncio. Bondes. (...) Os grandes colégios. E as ruas vazias, as enormes ruas vazias, pelas quais passava, ainda, o eco de Nabuco a perguntar a João Pinheiro, quase chegando ao Palácio da Liberdade: Quando começa a cidade?”

Avenida Afonso Pena nas proxmidades do Parque Municipal nos primeiros anos da capital.
Fonte: BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva, 1996.

Ao observar as fotografias desse período tem-se a impressão que os moradores da nova capital, um dos principais formadores do espaço urbano simplesmente desapareceram ou não saia às ruas para não alterar a imagem que o fotografo queria registrar naquele momento. Na verdade não existia população suficiente ainda para habitar as áreas delimitadas pelo projeto da nova capital. Os postais e fotografias desse período nos mostram um grande “vazio” na nova capital, uma cidade sem habitantes. Esse “vazio” durou até meados dos anos 20, quando então a cidade passa a crescer rapidamente.

Bairro Santa Efigênia em formação.
Fonte: BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva, 1996.

Grande parte da população se fixou inicialmente na parte mais desenvolvida da cidade, nos bairros Comercial e Funcionários, pois era nesses bairros e no seu entorno que funcionava o comércio e os serviços públicos, áreas delimitadas pela CCNC para a primária expansão urbana. Os operários e a população menos abastada se encontravam fixadas no Barro Preto, nas imediações da Rua Sapucaí e no Leitão, dentro dos limites da área urbana, mas foram retirados dessas áreas ainda nos primeiros anos da nova capital. É importante salientar que as áreas planejadas dentro dos limites da Avenida do Contorno, em relação às residências, foram em grande parte designadas e vendidas para os profissionais liberais, comerciantes e funcionários públicos. Então às margens da Avenida do Contorno foram surgindo núcleos populacionais fora do planejamento oficial. Acreditava-se que os problemas sociais seriam evitados com a retirada dos operários após a conclusão das obras, o que na prática não ocorreu. Os operários, em meio às obras ainda pendentes (como já foi dito anteriormente a cidade foi inaugurada em meio as obras inacabadas) não foram retirados e, sem lugar para ficar, formaram favelas na periferia da cidade juntamente com parte dos antigos moradores do Curral del Rey que optaram por não se retirarem para áreas mais afastadas.

Pintura existente no Museu Abilio Barreto retratando o aglomerado que existiu acima da Estação, nas proximidades da Rua Sapucaí.
Fonte: APCBH Acervo CCNC

As palavras de Bernardo Pinto Monteiro em 1900 confirmam o que foi descrito acima em relação à expulsão da população pobre da dita área urbana: “A extinta Comissão Construtora teve necessidade de permitir que os operários estabelecessem na zona urbana grandes núcleos de cafuas, com a condição, que alias não foi cumprida, de serem as mesmas demolidas, logo que para aqui se transferisse o governo. Com a maior prudência e critério já consegui remover todas quantas existiam, nesta cidade, menos uma grande parte das do Córrego do Leitão”.
Uma parte da população foi então instalada no Calafate, afastando-os consideravelmente da área urbana, resolvendo assim um “problema” existente desde os tempos da Comissão.
Ao contrário do que previa inicialmente a planta da nova capital, foi fundada em 1898 nas áreas suburbanas diversas colônias agrícolas com terrenos maiores do que o previsto pela CCNC. A área suburbana seria uma transição do espaço urbano para o espaço rural, porém as colônias agrícolas vieram a retardar em algumas décadas essa idéia. Grande parte dos bairros que conhecemos atualmente e que fazem limite com a Avenida do Contorno originaram-se dessas Colônias, e estas ocupavam as áreas das antigas Fazendas que circundavam o arraial do Curral del Rey, um tema que será abordado posteriormente.

Vista do Bairro Funcionários e casas remanescentes do arraial a partir da Praça da Estação.
Fonte: BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva, 1996.

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