O pensamento do legislador mineiro, quando decretou a mudança da capital, foi criar uma cidade que não primasse somente pela sua beleza topográfica, pela sua arquitetura, pela sua higiene e por tudo quanto constituem o ideal moderno de um núcleo populoso. A cidade imaginada devia servir também de espelho, onde reflectissem as grandezas do Estado”. Bernardo Pinto Monteiro em relatório do ano de 1900.


Antigo prédio dos Correios, concluido em 1906 e construido pelo governo federal. Era uma das jóias da arquitetura estilo "Beaux-Arts" da nova capital.
Fonte: APM

Na virada do Século a Cidade de Minas contava com cerca de 13.500 habitantes. Era uma cidade moderna e vazia, com muitas obras ainda por se realizar e concluir. A Prefeitura fazia a sua parte calçando ruas e construindo sargetas, rede de esgoto, abastecimento de água etc: essas obras eram necessárias para estimular a imigração e povoar a capital além de incentivar o comércio e a indústria. Pleiteava-se também a abertura do ramal férreo do Paraopeba, para o escoamento dos produtos produzidos nessa região para a capital e a facilitação da comunicação com os municípios e a abertura do ramal da EFOM. Nessa época já existia um ramal da Central do Brasil construído em 1895 ligando Sabará a nova capital para facilitar o transporte de produtos para a sua construção e o ramal continuava sendo utilizado, sendo o mais importante meio de transporte para a capital. Já a estrada de rodagem para Villa Nova de Lima se encontrava em estado precário, precisando urgentemente de reparos.
Mas para a realização de tais benfeitorias era necessário driblar a crise econômica que se encontrava o país nessa época e que inevitavelmente atingiu a capital, obrigando a Prefeitura a paralisar diversas obras em andamento e a contrair um empréstimo no exterior para continuar os investimentos nas obras inadiáveis. Devemos lembrar que a ocupação da área urbana delimitada pela Comissão Construtora foi feita por setores, sendo priorizada para as melhorias a área central e o bairro Funcionários.
Foi estabelecido em Março de 1900 um plano de metas para a melhoria da infra-estrutura urbana. Os planos eram, entre outros:
- Construção do edifício destinado a sede da Prefeitura.
- Conclusão do Reservatório do Cercadinho, na Rua Carangola.
- Emplacamento das ruas.
- Canalização do Arrudas, na Praça da Estação.


Foto de 1902 onde se vê a Avenida Afonso Pena já aberta desde a rua Guajajaras até a Avenida Brasil. Podemos ver também o Córrego do Acaba Mundo cruzando a avenida em direção ao Parque Municipal e o antigo Fórum, atual Instituto de Educação. Ao fundo o Morro do Cruzeiro e a Serra do Curral.
Fonte: BH Nostalgia

Nessa época já se encontrava em funcionamento o Mercado Municipal, edificado no local da atual Rodoviária. Anexo a ele existiu um rancho de tropas para acomodação dos tropeiros que traziam mercadorias de diversas partes do Estado. O Matadouro localizado na área suburbana, mais precisamente na foz do Córrego da Serra, na Avenida dos Andradas ainda atendia a população de Belo Horizonte e por hora não havia necessidade de mexer em suas instalações.


Primeiro Mercado Municipal da nova capital que ficava no terreno da atual Rodoviária. Foto de 1900.
Fonte: APM

A denominação dada para a capital - Cidade de Minas acabou não agradando, nem a políticos, nem à população. Foi então sancionada em 1901, pelo presidente do Estado Silviano Brandão, uma lei que mudava o nome da capital para Belo Horizonte. Uma modesta homenagem, mesmo que conveniente ao arraial que existiu no mesmo local da nova capital que ainda guardava os seus últimos resquícios. Outro motivo para a mudança do nome da capital era o fato de que o distrito e a comarca ainda se chamavam Belo Horizonte, então não se justificaria manter os dois nomes pois isso causaria problemas desnecessários para o governo e população.
Em 1902 foi baixado um decreto facilitando a aquisição de terrenos na área compreendida entre as avenidas Contorno, Cristovão Colombo, Itacolomy (Barbacena) e Amazonas no Barro Preto para o estabelecimento de indústrias. Toda essa área foi então considerada suburbana, contrariando a planta de Aarão Reis no que diz respeito às zonas mas era necessária a instalação de indústrias dentro da zona urbana para alavancar a economia de Belo Horizonte. Já existia, recém inaugurada uma fábrica de sabonetes na esquina da Rua Tomé de Souza com Rua Paraíba além de outras pequenas fábricas espalhadas pela zona urbana. Essa delimitação foi uma tentativa da Prefeitura de organizar o espaço, na tentativa de controlar e organizar a sua ocupação. O prefeito interino Antônio Carlos Ribeiro de Andrada registrou em seu relatório de 1906 que “o futuro de Belo Horizonte está na dependencia completa das industrias que aqui se installem”. Nas proximidades da Praça da Estação instalou-se a Companhia Industrial de Belo Horizonte e a Serraria de propriedade de Garcia de Paiva & Companhia (Serraria Souza Pinto), além de destilarias e fábricas de alimentos, cigarros, móveis etc: destinadas à atender a crescente população da capital. Data de 1906 a construção da fábrica de tecidos na Praça da Estação, prédio ainda existente como podemos ver na foto abaixo.


Companhia Industrial de Belo Horizonte, às margens do Ribeirão Arrudas em 1910.
Fonte: APM


Prédio da antiga fábrica nos dias atuais (104 Tecidos).
Fonte: Foto do Autor


Serraria Souza Pinto no inicio do Século XX.
Fonte: APCBH

A delimitação de uma área para as indústrias surtiu efeito pois no final da década Belo horizonte já se encontrava em segundo lugar em produção textil do Estado, além de pequenas fabricas espalhadas pelas zonas urbana e suburbana.
Em 1909 era delimitada no Barro Preto uma área para a construção de um bairro operário entre as avenidas Paraopeba, Cristóvão Colombo, 17 de Dezembro (Contorno), Rio Grande do Sul e Itacolomy (Barbacena). O interessante é que anos antes a Prefeitura tinha extinguido o bairro de cafuas que existia ali datado do período de construção da capital, criando então nas proximidades do Calafate um novo bairro – ler "Os primeiros anos da Cidade de Minas". Essa volta dos operários tornou-se necessária a partir do momento que as indústrias passaram a se instalar no Barro Preto, necessitando então de mão de obra barata e que morasse nas proximidades.

Energia Elétrica e Bondes

A capital já contava, na virada do Século com energia elétrica e o seu uso era limitado devido a precariedade do serviço. Ela provinha da Usina de Freitas, que existiu nas proximidades da atual ETE Arrudas. Na necessidade de melhoria deste serviço a Prefeitura decide em 1900 melhorar a capacidade da Usina pois pretendia instalar o serviço de Bondes elétricos na capital o mais breve possivel. Para acelerar o processo e viabilizar o serviço o mais rápido possivel a Prefeitura decide no inicio de 1901 que “antes da captação de nova força, não dará mais ligações de luz, visto reservar o excesso, aos serviços de bondes”.
O serviço de Bondes elétricos havia sido inaugurado em 1902 com as linhas concentradas no centro e no bairro Funcionários. Posteriormente ela foi estendida para a zona suburbana e o Matadouro, tornando-se necessária a duplicação dos trilhos já no final da década devido ao aumento significativo de passageiros.
Em 1906 a Prefeitura adquire a Cachoeira do Rio de Pedras para a construção de uma usina destinada ao abastecimento da capital que, com o crescimento populacional aliado as melhorias urbanas necessitavam cada vez mais de energia elétrica para atender as indústrias, transporte e iluminação publica e residencial. O problema de energia era tão grave que em 1905 o Arrudas, então na época das secas tinha diminuído o seu volume d’água obrigando a Prefeitura e diminuir as viagens diárias dos Bondes, devida a falta de energia elétrica suficiente para a normalidade dos serviços. No mesmo ano os Bondes pararam por 15 dias para a reparação de um motor elétrico na Usina de Freitas.
Em 11 de Maio de 1909 é inaugurada a distribuição da energia elétrica produzida na Usina do Rio de Pedras, resolvendo o problema de energia que atormentava Belo Horizonte e atrapalhava em parte a consolidação da indústria na capital.
Nos últimos anos da década Belo Horizonte já apresentava diversas ruas calçadas na área central, no entorno da Praça da Liberdade e no bairro Funcionários. As colônias agrícolas estavam cada vez mais povoadas e novos bairros iam surgindo na zona suburbana. As principais ruas dessa zona que se encontravam ainda na planta começaram a ser abertas. O abastecimento de água e os serviços de esgotos e coleta de lixo iam se regularizando e já existia um serviço telefônico de curta distância.
No final de 1910 a capital já contava com uma população de 29.619 habitantes, um crescimento acima de 15% ao ano. O espaço urbano se consolidava e com ele começava a surgir problemas devido ao rápido crescimento populacional além dos investimentos necessários para dar suporte a esse crescimento terem sido menores devido à crise econômica da década.


Companhia de Luz em 1910. O prédio localizava-se no local da atual subestação de energia da Cemig na Avenida Afonso Pena.
Fonte: BH Nostalgia


Parte de Belo Horizonte em 1910 a partir do Parque Municipal. Vê-se na foto parte do bairro Funcionários, a Igreja Sagrado Coração de Jesus e a Escola Normal. No fundo a Serra do Curral e parte do caminho para o Acaba Mundo.
Fonte: BH Nostalgia

4 comentários:

  1. É BH é isso e muiito mais hj conversando com uma Tia de 83 anos, que esteve no inicio da cidade na infancia me relatou fatos que aqui através das fotos estou comprovando , é hj fiz uma viagem ao passado.!!!

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  2. É BH é isso e muiito mais hj conversando com uma Tia de 83 anos, que esteve no inicio da cidade na infancia me relatou fatos que aqui através das fotos estou comprovando , é hj fiz uma viagem ao passado.!!!

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  3. Muito bom... Importante se ter memória de uma cidade. Parabéns!

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  4. Prezado Alessandro.
    Conforme já disse anteriormente, estou publicando um artigo sobre o Conjunto Sulacap em meu blog (http://caminhada.org/) e gostaria de incluir, com sua licença, a foto do antigo prédio dos correios que abre esta matéria.
    Há como disponibilizá-la?
    Muito obrigado!

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