Sede da Fazenda Capitão Eduardo no ano de 2016.
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*Publicado no livro “Arraial de Bello Horizonte: a ruralidade da nova capital de Minas”, disponível para leitura no link abaixo:

 Link Arraial de Bello Horizonte

 Será tratada de forma breve a história da Fazenda Capitão Eduardo, sede de uma notável propriedade que se estendia desde o povoado dos Borges, na margem oeste do rio das Velhas, até a foz do ribeirão da Onça no majestoso rio. A fazenda se encontra às margens do ribeirão, mais precisamente em sua margem sul.

A fazenda foi construída, ou adquirida no século XIX pelo Capitão Eduardo Aristides Augusto de Lima, nascido em 1828 em Santa Luzia e falecido no ano de 1889. Seu pai, o Tenente Coronel Serafim Timóteo de Lima, nascido em 1792, era fazendeiro e negociante na Vila de Santa Luzia, possuindo ainda terras na região de Abre Campo, assim como seu filho Justiniano Augusto de Lima.

A notícia mais antiga que se tem da propriedade do Capitão até o presente momento é a autorização dada pelo vice-presidente da Província de Minas, Francisco Leite da Costa Belém, que em 25 de setembro de 1871 autorizou o desmembramento da fazenda do Capitão Eduardo do município de Sabará, transferindo as terras para a freguesia de Santa Luzia, onde o Capitão ocupava o posto de comandante da 6ª Companhia aquartelada em Santa Luzia.

Lei de transferência da Fazenda Capitão Eduardo para o município de Santa Luzia.
Acervo APM

A fazenda teve suas terras atravessadas pela linha-tronco da Central do Brasil por volta de 1893, que seguia em direção ao vale do rio São Francisco. A linha, após a barra do ribeirão Arrudas, se desviava em direção à fazenda passando a poucos metros da sede, indo novamente ao encontro do rio das Velhas após galgar o ribeirão da Onça, sobre um pontilhão do qual atualmente se vê apenas os pilares de alvenaria de pedra argamassada.

A questão da ferrovia já foi abordada no capítulo 5 do Sob a Sombra, tornando-se desnecessária uma nova explanação acerca do assunto ressaltando que, visto que, devido a topografia do vale do rio das Velhas, mais atrativa e de menor distância, a linha foi desviada quatro décadas mais tarde para às margens do rio das Velhas, sendo suprimido o trecho correspondente à fazenda, que se tornou anos mais tarde uma das principais vias do bairro Ribeiro de Abreu.

Em data imprecisa, possivelmente no início do século XX a fazenda Capitão Eduardo foi vendida para Antônio Ribeiro de Abreu, filho do Coronel Mariano de Abreu, construtor da primeira sede da municipalidade, hoje Arquivo Público Mineiro.

Após a morte de Ribeiro de Abreu, a fazenda e suas terras passaram para sua esposa, que posteriormente as partilhou com os herdeiros as terras do futuro bairro Ribeiro de Abreu. A fazenda possuía, de acordo com o registro de partilha datado do ano de 1943, cerca de quatrocentos e setenta alqueires, culturas, pastos, e uma parcela de cerrado ainda preservada, sendo que uma porção considerável da fazenda se encontrava em terreno inundável, correspondente ao baixo Onça e suas planícies de inundação. O documento ainda se refere à Fazenda como casa de construção antiga, que pertencia agora a Ambrosina de Castro Abreu, viúva de Antônio Ribeiro de Abreu.

A partir desse momento as terras da fazenda seriam sucessivamente parceladas pelos herdeiros, desapropriadas para finalidades diversas (linha férrea, aterro sanitário e moradias populares) e invadidas a partir da década de 1970, deflagrada pela pressão urbana que empurrou a população de menor poder aquisitivo para fora do município.

A propriedade, ilhada pelo bairro Ribeiro de Abreu, se resumia no final do século XX a sede e benfeitorias próximas, mantidas pelo último proprietário da fazenda, o Sr. André Gustavo de Abreu Pereira Pinto, que empreendeu uma reforma no velho casarão na década de 1990, suprimindo parcialmente suas características originais na parte correspondente à fachada, de acordo com informações dos moradores locais. A propriedade foi vendida à Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) para a construção da estação de tratamento de esgotos do ribeirão da Onça, que ali instalou o seu escritório quando das obras da ETE.

Nesse período, a propriedade e sua arquitetura rural, tão viva em Minas Gerais e resumida apenas à Fazenda do Leitão, começou a atrair a atenção do Autor, visto que até o ano de 2008 ainda era possível visualizar o casarão da Rodovia MG-020, cuja entrada era vedada pela Copasa.

Fazenda Capitão Eduardo fotografada pelo Autor no ano de 2007.
Foto do Autor

Finalmente, no mês de abril de 2016, após inúmeros pedidos de visita e pesquisas diversas, o Autor conseguiu entrar na propriedade, então abandonada. Não é necessário descrever a sensação e satisfação que teve o pesquisador ao se deparar com um imóvel genuinamente rural, de características que remetem aos períodos colonial e imperial, cuja importância e existência é desconhecida por muitos na capital.

Diante de tal constatação, iniciou-se uma pesquisa mais detalhada sobre a fazenda, em parceria com Marluce Nogueira Quaresma e descobriu-se que se trata de um dos imóveis mais antigos do município de Belo Horizonte, apesar da propriedade ter pertencido anteriormente a Sabará e Santa Luzia, em região anexada à capital poucos anos após a sua inauguração (1897).

O horizonte é raso e as pressões políticas-imobiliárias são verdadeiras. E assim a ruralidade desaparece por completo no município, a partir do desprezo histórico-cultural pelas reminiscências de um período que representa o atraso perante um progresso a base de concreto, de asfalto e embebido de esgoto. O breve histórico aqui apresentado é uma pequena contextualização de um dos imóveis mais antigos do município.

Perspectiva da varanda, voltada para o vale do ribeirão da Onça. Ao fundo o velho curral.
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Perspectiva lateral.
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Armário de um dos cômodos da fazenda, datado da segunda metade 
do século XIX, possivelmente uma reminiscência dos 
tempos do Capitão Eduardo.
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